CAPÍTULO 28

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Foi um momento complicado ficar com ele no hospital sentindo dores e chorando. Foi o meu filme de terror. Quando eram umas onze horas da manhã ele dormiu e eu saí de lá. Queria a Júlia, queria ela pertinho de mim. Peguei um táxi até minha casa e a Raquel estava com ela e com o Rafa lá cuidando dela.

- Oi, como ele está? – perguntou ele

- Fisicamente mais ou menos, mentalmente péssimo – disse

- Você precisa descansar, não é saudável isso pra bebê – a Raquel disse

- Raquel, querida, a minha vida, o que eu passei desde o começo desde a gravidez da Júlia não é saudável para um bebê – me sentei cansada e a Júlia esticou os bracinhos pra mim. A peguei e ela ficou quietinha

- Acho melhor irmos – o Rafa disse

- Não vamos deixar ela sozinha, amor – a Raquel sorriu – Vamos ficar com você!

- Obrigada – disse. Fiz a Júlia comer e a Raquel estava encantada com ela brincando, e fazendo tudo que ela queria. Eu voltaria pro hospital daqui a pouco, antes disso fui pro meu quarto, tomei um banho e voltei pra sala. O Rafa estava sozinho – Cadê as duas?

- No quartinho da Júlia... Ela está encantada com a bebê – ele disse rindo

- Sinal de que ela será uma ótima mãe – disse

- Foi bom ela ter ido, preciso falar com você – ele disse e eu assenti – Mas não aqui! Vem – ele me chamou e fomos andando até a praia. Sentei numa pedra e fiquei observando as ondas irem e virem.

- O que aconteceu?

- A Raquel está com complicações na gravidez, isso me mata – ele disse

- Que tipo de complicação?

- Ela fez um aborto quando mais nova e isso resultou numa insuficiência na geração do bebê... Estou muito preocupado, muito mesmo! Não quero perder nenhum dos dois – ele disse triste

- Sei bem o que é isso... E deixe-me adivinhar? Ela escolheu o bebê! – disse

- Sim, ela escolheu – ele olhou pra baixo – tenho medo de ela se envolver demais e acabar perdendo

- Se ela agüentou esses dois meses, ela agüenta mais sete – sorri – Nós dois parecemos suportes pra problemas e histórias tristes – disse e ele me olhou

- Quem será que ganha? – ele perguntou

- Não faço idéia – disse e ele pegou minha mão – Sabe o que mais me dói? – perguntei olhando pro mar.

- Não... O que? – ele disse compreensivo

- Todas as vezes que eu olho o Bernardo mal... Não sei por que, mas sinto que a culpa é minha! E que se eu não estivesse mais na vida dele, ele não estaria sofrendo tanto. Parece que a tristeza esta ligada a mim, que a onde eu vou, ao invés de espalhar coisas boas, espalho somente dor e sofrimento – disse aborrecida, mas não conseguia mais chorar. Eu havia chego em um ponto que até chorar era difícil pra mim.

- Isso não é verdade! – ele disse e eu dei um sorriso torto

- É sim, você também é um exemplo disso!! Pra você viver feliz, foi morar longe de mim, vai ver a distância faz algum sentido – disse e ele se calou – Viu, ganhei. Você ficou novamente em silêncio – joguei uma pedrinha no mar tentando disfarçar quão mal eu estava pra ter aquela conversa naquela hora.

- Não devia te alugar agora pra falar sobre meus problemas, desculpa – ele disse e eu apertei mais forte sua mão

- Rafa, por mais amigos que eu tenha, o tipo de relação que eu tenho com você é única – disse

Ninguém além de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora