Foi um momento complicado ficar com ele no hospital sentindo dores e chorando. Foi o meu filme de terror. Quando eram umas onze horas da manhã ele dormiu e eu saí de lá. Queria a Júlia, queria ela pertinho de mim. Peguei um táxi até minha casa e a Raquel estava com ela e com o Rafa lá cuidando dela.
- Oi, como ele está? – perguntou ele
- Fisicamente mais ou menos, mentalmente péssimo – disse
- Você precisa descansar, não é saudável isso pra bebê – a Raquel disse
- Raquel, querida, a minha vida, o que eu passei desde o começo desde a gravidez da Júlia não é saudável para um bebê – me sentei cansada e a Júlia esticou os bracinhos pra mim. A peguei e ela ficou quietinha
- Acho melhor irmos – o Rafa disse
- Não vamos deixar ela sozinha, amor – a Raquel sorriu – Vamos ficar com você!
- Obrigada – disse. Fiz a Júlia comer e a Raquel estava encantada com ela brincando, e fazendo tudo que ela queria. Eu voltaria pro hospital daqui a pouco, antes disso fui pro meu quarto, tomei um banho e voltei pra sala. O Rafa estava sozinho – Cadê as duas?
- No quartinho da Júlia... Ela está encantada com a bebê – ele disse rindo
- Sinal de que ela será uma ótima mãe – disse
- Foi bom ela ter ido, preciso falar com você – ele disse e eu assenti – Mas não aqui! Vem – ele me chamou e fomos andando até a praia. Sentei numa pedra e fiquei observando as ondas irem e virem.
- O que aconteceu?
- A Raquel está com complicações na gravidez, isso me mata – ele disse
- Que tipo de complicação?
- Ela fez um aborto quando mais nova e isso resultou numa insuficiência na geração do bebê... Estou muito preocupado, muito mesmo! Não quero perder nenhum dos dois – ele disse triste
- Sei bem o que é isso... E deixe-me adivinhar? Ela escolheu o bebê! – disse
- Sim, ela escolheu – ele olhou pra baixo – tenho medo de ela se envolver demais e acabar perdendo
- Se ela agüentou esses dois meses, ela agüenta mais sete – sorri – Nós dois parecemos suportes pra problemas e histórias tristes – disse e ele me olhou
- Quem será que ganha? – ele perguntou
- Não faço idéia – disse e ele pegou minha mão – Sabe o que mais me dói? – perguntei olhando pro mar.
- Não... O que? – ele disse compreensivo
- Todas as vezes que eu olho o Bernardo mal... Não sei por que, mas sinto que a culpa é minha! E que se eu não estivesse mais na vida dele, ele não estaria sofrendo tanto. Parece que a tristeza esta ligada a mim, que a onde eu vou, ao invés de espalhar coisas boas, espalho somente dor e sofrimento – disse aborrecida, mas não conseguia mais chorar. Eu havia chego em um ponto que até chorar era difícil pra mim.
- Isso não é verdade! – ele disse e eu dei um sorriso torto
- É sim, você também é um exemplo disso!! Pra você viver feliz, foi morar longe de mim, vai ver a distância faz algum sentido – disse e ele se calou – Viu, ganhei. Você ficou novamente em silêncio – joguei uma pedrinha no mar tentando disfarçar quão mal eu estava pra ter aquela conversa naquela hora.
- Não devia te alugar agora pra falar sobre meus problemas, desculpa – ele disse e eu apertei mais forte sua mão
- Rafa, por mais amigos que eu tenha, o tipo de relação que eu tenho com você é única – disse
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Ninguém além de você
RomanceMarcela Cardoso é uma garota de 17 anos que foi criada desde que nasceu pela mãe, Jaqueline, e pelos avós maternos, já que fora abandonada ainda quando no ventre de sua mãe, pelo pai, o qual nem chegou a conhecer. Paulistana de carteirinha, sua vid...