Ele ficou lá por uma meia hora e depois foi para o seu apartamento. Eu liguei pro Bernardo umas quinze vezes, e ele não me atendeu nenhuma. Peguei a Vitória e fui pro quarto das meninas, a fiz dormir novamente e fiquei sentada na cama de frente pro berço da Júlia, observando as duas e morrendo de preocupação com o Bernardo. Ele não podia se estressar, mas eu também não podia virar as costas para o Rafael.
Quando escutei a porta da sala bater com tudo, ao mesmo tempo em que fiquei com raiva por ele ter acordado as duas, fiquei aliviada por ele estar bem. Acalmei elas, e fui pro nosso quarto. Ele estava deitado já, de costas pra mim. Havia apagado todas as velas e jogado todas as pétalas no chão. Isso me magoou muito. Deitei do seu lado e o abracei por trás, ele continuou de olhos fechados.
- Sei que está acordado... – disse
- Estou sim, mas sinceramente não quero falar com você, pode me soltar? – ele perguntou e aquilo me deixou ainda pior. O soltei rapidamente chocada, fui pro banheiro, tomei um banho rápido e me recusei a chorar. Coloquei um pijama e virei de costas pra ele também. Demorou muito tempo, mas consegui pegar no sono.
Na manhã seguinte acordei e ele não estava mais na cama, me levantei e me arrumei. Fui no quarto das meninas e só a Vitória estava lá, dormindo. A deixei quieta lá e fui na sala, ele estava sentado com a Júlia no colo, ela estava abraçada a ele e ele parecia triste, mas conversava normalmente sobre coisas bobas com ela.
- Bom dia... – disse incerta
- Mámái!! – ela me olhou sorrindo
- Oi amor, como você está? – a peguei do colo dele e ele levantou, saindo da sala. Ok, se ele queria esse tipo de tratamento, ele teria. Estava sendo ridículo isso.
- Qué eite! – ela disse e eu assenti. Fui na cozinha, fiz o café da minha pra ela e pra mim e comemos. Estava limpando a cozinha enquanto ela tagarelava quando a porta da sala bateu novamente, e a Vitória começou a chorar.
Olhei pelos quartos e ele havia saído sem nem falar ‘tchau’, ou um simples ‘estou saindo’. Fui no quarto, a peguei, cuidei dela também e ficamos a manhã toda assim. Limpei a bagunça de rosas da noite anterior, e deixei tudo organizado. Ficamos somente nós três, o Bernardo havia sumido, e eu também não fiquei ligando no celular dele. Podíamos ter resolvido tudo conversando, mas ele simplesmente optou por me ignorar e virar a cara! Ok então.
- Qué papai – a Júlia disse franzindo o nariz
- Daqui a pouco ele chega – disse sorrindo a beijando. Assisti desenhos com elas, e a Vitória estava uma linda, uma princesa pra ser sincera. Quando estava no horário de almoço ele chegou e ficou nos olhando. Acho que ele não esperava que estaríamos ali bem na sala.
- Papai! – a Júlia disse rindo e ele sorriu a pegando, mas era um sorriso forçado, eu sabia.
- Oi princesa! – ele disse a beijando e eu continuei olhando pra televisão
- Fiumi, vem – ela o fez sentar do meu lado pra assistirmos. Eu estava com a Vitória no colo e ele com a Júlia. Fiquei concentrada no filme, mesmo sabendo que ele estava me olhando as vezes, mas na maior parte do tempo ele parecia prestar atenção na história. Estava distraída, e quando o filme acabou ele olhou pra Júlia revoltado.
- Não acredito que ele não achou o caminho de volta – ele disse revoltado e foi automático, eu ri e a Júlia também riu. Ele me olhou divertido, mas eu fechei expressão de riso, levantei e coloquei a Vitória no carrinho e fui pra cozinha. Depois de uns cinco minutos ele também entrou – Podemos conversar?
- Sim, pode dizer... – disse sem me virar pra ele
- Não assim... Conversar de verdade, com você olhando pra mim – ele disse e eu me virei – Me desculpa?
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Ninguém além de você
RomansaMarcela Cardoso é uma garota de 17 anos que foi criada desde que nasceu pela mãe, Jaqueline, e pelos avós maternos, já que fora abandonada ainda quando no ventre de sua mãe, pelo pai, o qual nem chegou a conhecer. Paulistana de carteirinha, sua vid...