Virada - Capítulo 6

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Micael não estava disposto a trabalhar hoje, ficou em casa com seu vinil que havia ganhado de aniversário, a uns anos atrás. Em baixo da agulha, o disco de Billie Holiday tocava calmamente em seus ouvidos, You Go to My Head era a faixa principal.

A campainha tinha tocado tirando ele do transe musical antigo. Saiu da cadeira em que estava e foi até a porta.

- O que faz em casa? - Sophia passou por ele, tinha largado a bolsa de couro no sofá. - Hein? Por que não está trabalhando?

- Isso te interessa de alguma coisa? - Cruzou os braços encarando a menina.

- Vai me tratar mal agora?

- Só estou respondendo a sua pergunta. E pelo que me consta. - Passou as mãos no maxilar. - Você pegou carona com a Lua.

- Você é incansável às vezes. - Revirou os olhos. - Billie Holiday a essas horas? Estava bebendo, Micael?

- Eu não posso escutar as minhas musicas favoritas?

- Você tem todo o direito. - Abriu as mãos e logo as fechou. - Mas eu pensei que estivesse trabalhando.

- Eu não queria trabalhar, que inferno!

- Eu esqueci que você é encarregado do seu pai, então pode tudo.

- Não é por que o restaurante é dele que eu posso faltar quando eu quero.

- Você diz como se administrasse a cozinha, francamente Micael. - Andou até o vinil desligando o aparelho.

- Minha musica!

- Acabou. - Virou-se a ele. - Eu vim conversar com você.

- Você está aqui a uns dez minutos e não conseguiu dizer nada de útil. Só brigar comigo, como sempre faz.

- Que drama.

- Não é drama. É a realidade. - Piscou rápido.

- Micael, eu queria te pedir desculpas.

- E?

- E o que?

- Só isso? Você parou a minha trilha sonora matinal, fez um escândalo todo, só para me pedir desculpas? - Sophia queria matá-lo.

- Você queria que eu chegasse com um carro de som e balões?

Os dois ficaram em silêncio.

- Eu sei que sou rancorosa às vezes, você sabe que aquele trabalho me estressa demais. - Andou até o namorado abraçando ele, alisou suas costas nuas.

- Então por que não? Eu já te falei. - Respirou fundo. - Eu posso te bancar, minha condição financeira é ótima.

- Eu não quero dar trabalho.

- Meu amor, eu já disse. Nós podemos nos casar, você viraria uma Borges, teríamos filhos lindos...

- Eu sabia. - Saiu do abraço andando pelo apartamento, estava ferrada da vida. Odiava essa história de filhos.

- Sabia o que?

- Teríamos filhos lindos e blá, blá, blá... É isso que você vê em mim?

- Eu vejo amor em você, Sophia eu te amo. E casais que se amam sempre constrói...

- Uma família, é, eu já sei. Então explica isso pro meu pai.

- Seu pai é uma exceção, ele deixou você e sua mãe.

- Obrigada por lembrar!

- Que inferno! Você acabou de dizer. - Estava ficando irritado. - Quer saber? Eu não vou tocar mais nesse assunto com você, fique livre pra pensar o que quiser.

- É por isso que a gente não fode de verdade? - Micael fez uma careta, não estava entendendo.

- Oi?

- Você não presta nem pra foder, só quer ficar fazendo amor até altas horas. - O imitou. - Eu sou a sua namorada a três anos e você nunca ousou em aumentar o ritmo comigo, só quando nos conhecemos.

- Ah, então você quer transar como uma puta?

- Eu quero me divertir com você, Micael. Fazer amor só existe no seu dicionário.

- Você está ficando cada vez mais maluca. - Deixou de entender Sophia. - Dá próxima vez eu vou ir com tudo, pode deixar. Depois não reclama que não consegue sentar na sua cadeira, e que as meninas te zoaram por isso.

Micael tinha razão, se eles tivessem a foda que estava pensando, Sophia ficaria algumas semanas sem sentar corretamente. E as meninas zoariam ela, durante um bom tempo.

- Eu vou almoçar. - Foi até a cozinha abrindo a geladeira de Micael. Viu algumas sobras do restaurante e cervejas estupidamente geladas.

- Aqui? - Micael apareceu atrás dela. - Se você quiser, tem lasanha de ontem e...

- Lasanha de ontem?

- MEU DEUS DO CÉU, VOCÊ VAI RECLAMAR DISSO TAMBÉM?

- VOU, É COMIDA REQUENTADA E VOCÊ SABE QUE EU ODEIO!

- Ok, ok. - Micael respirou fundo, tentou se acalmar no máximo. - Olhe para mim e me responda uma única coisa.

- Micael, eu...

- SÓ ME RESPONDA! - Aumentou a voz novamente.

- Certo. - Engoliu seco.

- Você ainda me ama ou o que estamos vivendo é pura farsa?

Sophia ficou em silêncio.

- É claro que eu te amo, mas comida requentada é horrível. - Disse por fim, Micael queria estrangular Sophia se pudesse.

- Não parece. - Seus olhos já estavam cansados de tanto encarar ela e discutir.

- Eu te amo, de verdade. - Chegou mais perto de Micael beijando seus lábios, um beijo calmo e terno onde suas línguas se acalmaram, selando a paz finalmente.

Micael buscou alguma entrada naquela roupa de Sophia e ficou feliz por achar uma pequena parte, alisou a barriga da menina e subiu ao sutiã, ela sorriu.

- Eu preciso voltar em alguns minutos. - Sussurrou cúmplice ao parceiro.

- Corrigindo, em algumas horas. - Micael riu. - Vem, eu vou te foder.

- Não, não. - Mordeu os lábios, rindo em seguida. - Vamos fazer amor. - Pediu doce ao namorado que assentiu, a beijando.

Iriam fazer amor pela aquela manhã.

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