Virada - Capítulo 10

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- Anda, me diz. - Micael cruzou os braços, Sophia engoliu seco achando alguma forma de dizer.

Suas palavras estavam travadas.

- Você sabe que Carol não é muito certa. - Andou até o namorado pegando o celular. - Me dê isso aqui. - Estava um pouco trêmula, Micael percebeu.

- Por que treme tanto? Sophia, está mentindo pra mim?

- Claro que não, meu amor. - Sorriu falsa, bloqueou o celular deixando o visor preto novamente. - E a pizza? Pediu de que?

- A mesma de sempre. - Estava desconfiado. - Eu quero conhecer essa Carol, algum dia.

- Nem morto!

- Por que? Ela tem algo de especial?

- Se eu mostrar ela a você, vou ficar sem namorado. - Andaram até a cozinha.

- Não acredito que ela é tão atirada assim.

- Ela é, e muito! - Abriu a gaveta de Micael vendo os diversos talheres em prata, todos muito cortáveis. Eram de bom gosto e fino, coisa de seu pai, a mania obsessiva de ter objetos caros.

- O que vai fazer? - Se escorou no balcão vendo a namorada abrir desesperadamente as portas do armário.

- Um suco. - Estava tão nervosa.

- Mas tem refrigerante.

- Suco, Micael! Suco. - Respirou fundo fechando as portas em um estrondo, andou até a dispensa.

- Tudo bem, suco. - Entrou na onda da namorada. - Qual vai ser o sabor escolhido?

- Maracujá, para acalmar os ânimos desse apartamento. - Relaxou os ombros, pegou a faca do faqueiro de madeira que Micael tinha, sua lâmina era tão reluzente que Sophia poderia ver seus traços no rosto.

- Cuidado com essa faca, está bem afiada.

- Você só administra um restaurante, não mexe na cozinha. - Pegou o maracujá colocando em uma tábua, deu o primeiro corte, dividindo a fruta.

- Fiz algumas aulas de culinária, acha que não sei de nada? E afinal, o que isso tem a ver? - Franziu a sobrancelha, Sophia não estava vendo sua cara por estar de costas ao mesmo.

- Deveria ter feito aulas de corte. Ou pelo menos tentado. - Raspou o que havia dentro dando um baita estrondo na tábua, largou a faca na hora. - AI, MINHA MÃO.

- Droga! - Micael correu até a namorada que tinha a palma da mão sangrando.

Que terrível noite. Tinha sangrado pela intimidade e agora sangrava pela mão, o que mais viria?

- O que está fazendo? - Viu Micael abrir a torneira e enfiar a mão da mesma.

- Cuidando desse problema, mais um.

- AU, ISSO DÓI. - Se queixou, ele enrolou um pano.

- Eu te avisei sobre a faca, você nunca me escuta.

- Desculpa, papai.

Micael a olhou.

- Não ouse falar isso de novo, estamos entendidos?

- Por que? Eu só te chamei de... - Umedeceu os lábios. - Papai.

- Porra. - Sabia que fazia para provocá-lo. - Se controle ou você não sentará amanhã no trabalho.

Sophia engoliu seco, às vezes o provocava tanto que não terminava bem. Nunca terminou.

Ela verificou sua mão, Micael tinha amarrado um pano de prato certificando que o sangue não escorreria mais, ela ainda se queixava da ardência, mas logo passou quando o namorado começou a administrar a cozinha agora. Havia terminado o suco.

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