Virada - Capítulo 35

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O médico saiu do quarto após pedir licença, mas nenhum dos dois ouviu nada. Eles estavam de mãos dadas, o choro era tanto que nem enxergar eles conseguiam direito. A dor de perder um filho não desejaria pra ninguém. Soph largou as mãos de Micael e as repousou agora sobre o ventre vazio, seu filho esteve por tão pouco tempo ali, mas já o amava demais. 

- Eu não acredito que ele se foi... - Sophia repetia essas palavras tantas vezes que já era automático. 

- Você tem que me contar o que realmente aconteceu! - Micael enxugou as lagrimas e encarou a mulher descontrolada. - Eu preciso saber, você estava de repouso, Soph. 

- Eu estou confusa, acho que é esse soro, estou ficando com sono. - Coçou os olhos. 

- Deve ter calmante aí, eles sabiam que você ficaria bem agitada. - Seu semblante era tão triste que chega dava pena. - Mas faz um esforço, Soph. 

- Eu estava em casa, a campainha tocou... - Sophia bocejou, já não conseguia manter os olhos abertos para chorar. - Luana estava lá, com raiva. 

- O que a Luana foi fazer lá, linda? - Fez carinho em sua bochecha. 

- Foi me dizer pra ficar longe de você, você tinha voltado com ela... - Antes de cair no sono ela soltou algo que fez seu coração estremecer. - Eu não poderia ficar longe de você, eu te amo tanto... 

Micael sorriu e parou de fazer perguntas, deixou que Sophia descansasse, pegou seu celular e ligou para Lua. Em casa, a mulher vendo o nome de Micael na tela não quis atender. Ele tinha sido um estupido com ela, porque iria querer falar com ela agora? A ligação de Micael caiu na caixa postal três vezes seguidas até que a loira resolvesse atender. 

- O que é hein? - Foi completamente rude. - As grosserias de mais cedo não foram suficientes? - Ela ouviu o moreno fungar e seu coração apertou, por isso ele tinha insistido tanto nas ligações,  alguma coisa tinha acontecido. 

- Preciso de um favor seu... - Sua voz estava embargada e deixou Lua preocupada. 

- Micael, o que aconteceu? 

- Sophia perdeu o bebê. - As palavras fizeram seu olho encher de lagrima outra vez e foi a vez de Lua de chorar. - Estamos no hospital, será que pode vir até aqui?

- É logicou que eu vou, me diz em qual hospital que eu chego ai o mais rápido possível.

Micael passou o nome do hospital e voltou ao quarto de Sophia onde ficou a vendo dormir. Sua respiração era tão calma, ela estava tão serena que parecia que nada tinha acontecido. Se aproximou e fez carinho em sua cabeça. - Tudo vai melhorar, meu amor. - Deu um beijo em sua testa e voltou para aquela poltrona horrorosa e desconfortável. 

Lua chegou ofegante e Micael fez sinal com o dedo para que ela não fizesse barulho e a mulher logo entendeu, foi para perto de Micael e falou baixo. - Como ela está? 

- Está bem. - Fez uma pausa. - Fisicamente, emocionalmente nenhum de nós está. 

- Micael eu sinto muito. Muito mesmo. - Os olhos da mulher já voltavam a se encher. - Eu acreditei que tudo ia ficar bem. 

- Eu também, mas ainda acho que a mais abalada nisso tudo será Sophia. Temos que dar força a ela. - Deu de ombros. - Não se preocupe comigo. 

- Me preocupo com os dois. - O abraçou meio sem jeito. 

-  Lua, eu pedi que viesse porque eu preciso de alguém pra fazer companhia pra ela. Preciso sair um pouco. 

- Eu não acredito que a mãe do seu filho está no hospital e você vai atrás da Luana. Diz que não é verdade! - Elevou um pouco o tom de voz e Micael revirou os olhos. 

- Acertou, parabéns. - Lua bufou. - Preciso ir, mas é rápido. 

- Micael aquela mulher deve ficar feliz com isso, se bobear foi ela que jogou praga, você não pode fazer isso. - Lua estava indignada com a frieza de Micael. 

- Pode deixar que com a Luana eu me entendo. - Pegou suas coisas e foi direto ao carro. Quando entrou olhou para o banco sujo e teve vontade de chorar de novo. Só podia ser um pesadelo. 

Micael dirigiu calmamente até o prédio que Luana morava, já era noite, ela com certeza estaria em casa. Não ligou porque precisava ouvir da boca dela. Mas realmente não sabia o que fazer. O porteiro o deixou subir sem anunciar, chegando a porta ele bateu duas vezes até que Luana abriu. Estava de pijama, um shortinho curto colado e sorriu quando o viu. Ele de cara fechada entrou no apartamento. 

- Amor, que surpresa boa. - Ela disse sorridente depois que fechou a porta. 

- O que diabos você foi fazer na casa de Sophia? - Micael foi tão direto que Luana arregalou os olhos, não acreditava que aquela mulher tinha sido fofoqueira a esse ponto, e tão rápido. 

- Avisar a ela pra ficar longe de você. - Deu de ombros como se fosse a coisa mais natural do mundo. - Agora que nós voltamos, eu quero respeito, Micael. 

- VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE IR LÁ. - Ele gritou e acabou a assustando. O dedo apontando em seu rosto estava realmente a deixando com medo de Micael. 

- Eu tinha que falar com ela, olhar nos olhos daquela biscate oferecida. - Engoliu em seco depois de falar. 

- Você que é a biscate oferecida aqui. - Devolveu no mesmo tom. Luana não entendia nada. 

- Ou, peraí. - Disse indignada. - Você não pode me xingar só porque eu fui na casa daquela mulher. Querendo ou não você é meu namorado!

- Luana, a Sophia perdeu o bebê. - Ele já nem tinha forças pra gritar. - Perdeu, meu filho morreu antes mesmo de nascer! E a culpa de tudo é sua. 

- Ei, minha não. - Se defendeu. - A culpa não é minha se ela não consegue segurar nem um filho.

- Deixa de ser ridícula, você empurrou a Sophia. Ela disse isso durante um momento. - Se irritou novamente. - Eu quero você longe da minha vida. PRA SEMPRE. 

- Micael, eu não fiz nada disso. É tudo um plano dessa garota para nos separar. - Chegou perto e segurou em seus braços. - Você não pode terminar comigo assim, a gente se ama, lembra?

- Eu não amo você, nunca amei. - Ele estava tão seco que suas palavras doíam. - Nem vou amar. Fica longe de mim e da Sophia de agora em diante. - Se desvencilhou da mulher e foi andando para a porta. Infelizmente ouviu a mulher gritar "Nasceu pra ser corno mesmo" e o barulho de um vaso quebrando na porta. Entrou no carro e abaixou a cabeça no volante, era muita coisa acontecendo no mesmo tempo. 

No hospital Sophia tinha acordado um pouco mais calma, tudo parecia um sonho, mas ao constatar o lugar que estava, tudo voltou como uma onda gigante em cima dela. Olhou ao redor e só viu Lua, que dormia. Queria saber a hora, mas não estava com seu celular. 

- Lua? - Chamou a amiga que não acordou. - LUA!

- Soph. - Lua acordou no susto. - Você acordou. - Se aproximou da amiga. - Como está se sentindo? 

- Estou confusa, que horas são e cadê o Micael? - Olhou novamente ao redor. 

- São três e meia da madrugada e eu não sei do Micael. - Sophia olhou desconfiada. 

- Como assim não sabe? Ele saiu e não disse nada? 

- Eu acho que não é o melhor momento para falar disso com você. - Desviou o olhar e Sophia conseguiu entender o que ele tinha feito. 

- Eu não acredito que ele foi atras daquela mulher! - Praticamente gritou. - Ela matou o nosso bebê, ele não pode ficar com ela, não pode Lua. Aquela mulher é um monstro! - Sophia começou a ficar tão agitada que Lua precisou chamar algumas enfermeiras para que a fizessem dormir novamente. 

Precisava de clareza e não iria conseguir desse jeito. 

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