Prolog

13.3K 899 136
                                    

Certamente a maioria das famílias está aproveitando uma boa ceia, em uma casa confortável, com crianças morrendo de excitação para abrir seus presentes de natal, essa será uma bela noite para eles... Para eles.

O frio era tudo o que se sentia aquela noite, exceto talvez pela fome que um pão seco e água não pode saciar, e dentre tantos naquela rua imunda deitados em esquinas e em frente de lojas, estava uma garota ainda acordada, observando o apagar dos lampiões, tremia visivelmente de frio enquanto esfregava as mãos para obter qualquer rastro de calor que podesse.

- o que diabos você está fazendo sozinha nessas ruas?

A garota se assusta, mas rapidamente responde em um sorriso sarcástico enquanto se vira para a silhueta atrás de si

- a resposta é a mesma das outras vezes em que me perguntou isso. Não tenho aonde ir

- sempre se tem aonde ir

A garota abre a boca, para responder a mesma frase que sempre falava, mas a fechou quando percebeu um casal fingindo não nota-la enquanto andavam pelo meio da rua de braços dados, queria não se sentir deprimida com aquela cena, mas não podia evitar. Ela esperou o casal sair de sua vista para voltar a falar com sua silhueta imaginaria que aparentemente apenas ela podia ver, o que já lhe causou inúmeros problemas quando criança.

- por quê apenas não some e me deixa em paz? _disse por fim

- porque não irei sair daqui sem uma resposta desta vez

Aquilo parecia está determinado, ela sabia disso, mesmo com a pouca luz que a lua oferecia ela conseguia sentir isso emanar daquele ser. A garota respirou fundo pensativa, ela sabia bem o que aquilo queria, queria levá-la, sabe-se lá para onde e para quê, mas esse era seu desejo incansável, o problema era que ela mesma já estava cansada e por mais que recusasse todas as vezes ela não tinha mais o porquê recusar uma oferta tão intrigante quanto aquela, ela não tinha alguém para sentir sua falta e nem para chorar por ela, não tinha nada a perder

- eu aceito _por um momento só se ouvia o som do vento contra as janelas das casas, iria chover em algum momento daquela noite e encharcar todos que estivessem fora de uma casa quentinha

- repita! _a voz saiu mais exasperada, o que a garota não sabia identificar se era de felicidade ou descrença, talvez os dois.

- aceito sua proposta, então apenas leve-me daqui

Das sombras da silhueta saiu uma mão, branca e lisa como se nunca tivesse trabalhado na vida, com algum receio a garota a segurou, não sabia o que iria acontecer, onde iria e nem se seria morta logo depois, só sabia uma coisa, ninguém estendeu a mão a ela em muitos anos e tudo o que podia pensar era em como essas eram macias.

 A Amante Da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora