Respiro fundo enquanto deixo os papéis em minha mesa de lado, levar almas não deveria ter tanta burocracia envolvida, mas é um jeito mais simples de se lidar com ceifadores acostados ao mundo humano.
Me recosto na cadeira massageando o pulso dolorido, nem mesmo uma resistência forte como a minha é o bastante para aguentar tanto tempo escrevendo e remexendo papéis.
Olho ao redor, o quarto iluminado pela luz que entra pela janela e fecho os olhos relaxando no agradável momento que tenho, isso até ouvir um barulho de fora e gritos, dou um resmungo antes de verificar o que aconteceu.
Dou um passo nas sombras andando por elas até sair de um canto qualquer debaixo das escadas, Haya está sentada em um dos degraus com Tay segurando seu pé.
- o que aconteceu? _ me aproximo dos dois e Haya faz uma careta quando Tay move seu pé enquanto se vira para mim.
- eu tropecei enquanto descia as escadas.
- não parece deslocado, apenas bateu ele quando caiu, vai sobreviver _Tay dá um sorriso reconfortante se levantando e batendo a poeira imaginária de suas causas.
Me aproximo a ajudando a se levantar servindo de apoio ao lado em que o pé não consegue firmar no chão.
- onde aprendeu isso? _Haya pergunta enquanto Tay se prontifica a levantar uma das poltronas a trazendo para nós.
- conhecia alguém tão desastrado quanto você, ele vivia tropeçando pelos cantos _ele sorri com saudade em seu olhar.
- vou pegar gelo e logo logo você se sentirá melhor _me sento no braço do sofá quando ele se vai.
Haya afunda seu corpo na poltrona tentando se mostrar relaxada, mas seus ombros ainda estão tensos pela dor no tornozelo, passo a mão por seu cabelo loiro enquanto a observo abrir e fechar a boca procurando um assunto qualquer para comentar.
- eu estava pensando, você gostaria de um piquenique? _sua expressão é de surpresa por algum motivo e logo me lança um sorriso ainda que pareça confusa.
- um piquenique? Como aqueles em que comemos na grama debaixo de uma árvore, com vestidos de verão e rodeados pela natureza e e...
Sorrio com a rapidez de suas perguntas pegando seu rosto e lhe dando um rápido beijo para que pare de falar por um momento.
- sim sim, natureza, comida e esses vestidos _me distancio de seu rosto, mas ela segura minha mão que ainda descansa em sua bochecha e vem a mim, me beijando novamente.
Não é amável e calmo, mas necessitado, suas mãos seguram meus braços me puxando a seu colo e me apoio segurando em seus ombros enquanto rebolo meu quadril em seu colo.
Mordo seu lábio inferior quando me separo tendo seu rosto em minhas mãos, as suas segurando minhas coxas com firmeza.
- Mor...
- Oh meu...santo Deus! _nos viramos para a cozinha aonde Tay está tapando a boca com uma mão enquanto a outra segura um balde.
Sinto toda a cor escorrer de meu rosto, mas recupero a compostura e ficando em pé o mais rápido que consigo no momento.
- Oh meu Deus, como vocês não falaram nada? Pra mim?! Logo eu! Que apoio tanto o relacionamento! Não falo nada porquê desde que voltaram da vila as coisas andam mais deprimidas, mas Meu Deus!
Haya começa a rir mas eu não faço muito mais que sentir meu rosto queimar de vergonha, aos poucos Tay vai se acalmando e enfim traz o balde de madeira com água e gelo até Haya para que ela possa por o tornozelo.

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A Amante Da Morte
RomanceUma garota que perdeu tudo e um ser que não tinha nada, uma cuidando da outra e tentando sobreviver em um mundo onde criaturas sanguinárias chamam de lar. Um romance lésbico com a morte, quem imaginaria?