Por fim descido sair do quarto, abrindo a porta devagar evitando que alguém que esteja passando pelo corredor perceba, mas não imaginava que iria encontrar Mor dormindo apoiada ao batente da porta.
Ela devia estar exausta quando chegou e eu ainda a fiz se preocupar assim, xingo baixinho passando sobre ela, seus pés descalços, os saltos encostados na parede.
Ela não parece sentir frio entretanto.
- estava tão exausta assim? _falo baixinho para mim mesma, ela meche um pouco a cabeça, mas não acorda. Talvez algo tenha acontecido para deixá-la cansada assim e eu apenas piorei tudo.
Me agacho com a cabeça entre as mãos, sou uma idiota.
Olho para ela, uma mão repousada em sua barriga enquanto a outra está caída a seu lado, se eu tivesse força o bastante poderia carrega-la até a cama, mas o que provavelmente vai acontecer é eu cair por cima dela antes mesmo de tira-la do chão.
Então volto ao quarto e trago um cobertor, ela provavelmente não vai sentir frio, mas vai saber se a morte não fica resfriada.
- Haya _viro a cabeça para ver Tay com uma bandeja em mãos, provavelmente algum lanche por eu não ter almoçado, ainda que o almoço não tenha sido a tanto tempo assim. Eu peço silêncio e descemos até a cozinha
- como está se sentindo querida? _Tay pós a bandeja na mesa e se sentou ao meu lado na cadeira da cozinha.
- um lixo _falo tão baixo que me surpreende ele ouvir.
Passo a mão nos olhos algumas vezes, eles ainda ardem e devem estar vermelhos agora.
- você deveria conversar com alguém sobre ontem e se não for com Morte, bom, sempre estarei aqui.
Eu continuo calada olhando para os pequenos arranhões que a superfície da mesa ganhou com o tempo.
- eu já te contei como cheguei aqui?
Olho para ele espantada recebendo um sorriso carinhoso em troca. Nego com a cabeça vagarosamente e Tay olha para a porta enquanto alisa uma barba imaginária.
- vejamos, eu tinha acabado de morrer, e do naaada comecei a acordar, olhava ao redor e via essa casa, mas nunca tinha estado aqui, ela também não era tão bonita, estava sombria, mal cuidada, andei por toda a casa, grande e suja era o que eu pensava além de me perguntar onde estava, mas por algum motivo eu me sentia confortável estando aqui.
Seus olhos varrem a casa como se estivesse lembrando por onde andou e o que fez.
- então fui sair e qual não foi minha surpresa quando vi um jardim muito diferente da casa, ele estava florescendo, vivo, era lindo, cada planta se juntando formando um mar de flores e um pequeno caminho até um banco no meio de todas elas, mas não pude ir até ele, era como se eu perdesse a coragem, mas mais que isso, eu simplesmente não conseguia sair.
Seu olhar escurece, tristeza ocupando seu brilho habitual, ponho a minha mão sobre a sua e ele se assusta como se voltasse a realidade puxando a mão de volta para si.
- me desculpa, eu só... Me perdi um pouco... onde parei? _seu sorriso ainda é melancólico.
- no jardim, sempre achei que fosse você quem cuidava dele _ele nega com a cabeça
- não não, Morte sempre cuidou dele, ela adora flores, eu até diria que ela tem um dedo verde se ela não fosse, bom, a morte _ele ri olhando para longe novamente.
- não precisa relembrar isso se não quiser _ele me olha ainda com aquele sorriso triste nos lábios.
- mas se não enfrentar o passado, como posso ter uma felicidade verdadeira no presente?
Eu mordo o lábio inferior penso um pouco e suspiro percebendo que toda sua história tinha o intuito de que me abrisse também.
Eu lhe dou um meio sorriso, segurando o queixo com a mão apoiada na mesa.
- certo, certo, você tem um ponto, acho que devo falar com alguém.
- bom, mas antes disso, é melhor comer um pouco, o café já esfriou, mas ainda tem suco do almoço. _atravessa a bancada e quase some pela dispensa.
Eu passo a mão alisando meus fios desgrenhados do cabelo me sentindo um pouco melhor.
Então me levanto reunindo a pequena confiança que estou criando e saio da cozinha correndo enquanto subo as escadas e esbarro em alguém na curva entre a escadaria e o corredor. Braços me rodeiam me firmando antes que eu caia no chão
- acho que eu poderia dizer que é você só pelo tamanho dos seios _levanto o rosto para olhar Mor nos olhos
- você é uma idiota _então ela me abraça forte ao ponto de me tirar o ar dos pulmões.
Ela se afasta ainda mantendo os braços ao meu redor, o que agradeço mentalmente porquê provavelmente iria cair só pela confusão de meus pensamentos se ela me soltasse agora.
- o que...
- eu despertei e não a vi em seu quarto, estava preocupada sabia?! Não suma assim novamente! _ela dispara as palavras mais rápido do que posso acompanhar então volta a uma expressão preocupada.
- quero... Precisamos conversar _ juntei tanta força de vontade pra falar isso que duvido conseguir falar mais.
Droga ela ficou preocupada, mas não posso me dar ao luxo de esperar que minha coragem suma, preciso esclarecer minha mente.
E então alguém bate a porta, Mor vira a cabeça na direção do barulho então olha para mim mordendo o lábio inferior.
- tudo bem, pode ir _me sinto murchar novamente
- posso deixa que Tay... _paro ela levantando uma mão antes que continue
- nós sabemos que se tem alguém batendo a porta de sua casa, não é para falar com Tay
Ela concorda ainda receosa, mas se afasta descendo as escadas comigo logo atrás. Tay já se prontificou a atender a porta.
- boa tarde, sou Clarisse, a senhorita Haya está? _andamos até a porta e a garota sorri ao nos ver.
- como posso ajudá-la? É uma longa caminhada até aqui afinal _Mor se aproxima e Tay abre mais a porta para que a convidada entre.
- minha avó me mandou, poderíamos conversar?
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A Amante Da Morte
RomanceUma garota que perdeu tudo e um ser que não tinha nada, uma cuidando da outra e tentando sobreviver em um mundo onde criaturas sanguinárias chamam de lar. Um romance lésbico com a morte, quem imaginaria?