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RAPHAEL

O grito de uma garota vindo da tenda do Adriel, foi suficiente para me fazer largar o que estava fazendo e correr até la.

Eu era um anjo da morte, eu triunfava na morte. Mas não estava preparado para ver meu irmão de arma morto.

Seu peito estava banhado em sangue, assim como os lençóis a baixo dele.

Corri até ele e sem pensar fiz pressão sob o peito dele, em uma tentativa de estancar o sangramento. Talvez ele ainda estivesse vivo.

— Chame a Ísis, peça ajuda. Rápido!! — grito para a garota, que sai correndo imediatamente.

— Resiste seu filho da puta! — peço — Não vou deixar você morrer agora, e muito menos nesse lugar.

Naquele momento odiei ser um anjo da morte, e não o da cura.

— O que aconteceu? — Ísis entra correndo.

— Ele foi ferido, você precisa salva-lo.

Ela se aproxima e analisa o ferimento. Em seguida pronuncia algumas palavras. Observo meu amigo, meu irmão e torço para que ele acorde a qualquer minuto e xingue todo mundo por estar invadindo seu espaço pessoal. Mas isso não acontece.

— Sinto muito Raphael — Ísis diz.

— Você trouxe Osíris dos mortos, faça o mesmo.

— Lamento mas eu não posso. É tarde demais e aquele tipo de feitiço é muito complicado. Osíris nunca voltou de verdade, ele se tornou deus do Submundo. Não pode voltar para mim.

Eu estava furioso demais para entender toda complicação da magia egípcia. Eu queria obriga-la a traze-lo de volta.

Olhei para ele mas uma vez. Seu rosto esta perdendo a cor.

Alguém havia matado ele. Havia se aproveitado da vulnerabilidade dele.

— Alguém mato ele — digo apontando o óbvio.

— Temos um traidor entre nós, talvez algum rebelde. Por favor não comente isso ainda, vamos fingir que não sabemos. — Ísis pede.

— Isso não vai passar em branco.

— Não é isso que estou pedindo, só tenha paciência.

— Minha paciência acabou faz tempo. Eu vou la fora e vou checar cada homem e mulher desse maldito acampamento e eu juro que quando eu encontrar o responsável a tortura dos lordes do inferno parecera amadora.

Não fico para ouvir o que ela disse, caminho para fora. Cada passo movido pelo ódio. Suspeitei que deixei uma trilha de grama morta por onde eu passava.



ÍSIS

— Você queria me ver? — Hórus pergunta assim que entra na tenda.

Antes de dizer qualquer coisa minha mão já estava indo de encontro a bochecha dele. O tapa foi tão forte que seu rosto viro com o impacto. Suas bochechas ficaram imediatamente inchadas.

— Você é burro ou o quê? Não esperava que seu rancor por aquele anjo fosse fazer você colocar a missão em risco — começo

— Do quê esta falando? Ficou louca? — ele pergunta colocando a mão no rosto.

— Não finja Hórus. Eu sei que desde que o Adriel deu aquele soco em você, você planejava revidar. Eu sei que foi você que o matou.

Seus olhos alarmados observando a entrada da tenda foi confirmação suficiente das minhas suspeitas.

— Sera que da pra falar baixo? Quer arrumar briga com o idiota do Raphael também? — ele pergunta aos sussurros.

— Você não devia ter feito aquilo Hórus. O Adriel era um dos únicos que já tinha visto o rosto do homem que estamos procurando, você pode ter arruinado tudo. — digo furiosa

— Mãe, relaxa! Antes de fazer aquele maldito anjo agonizar como um animal, eu tive o cuidado de pedir para ele relatar em detalhes o rosto do tal homem, enquanto um dos meus conhecidos fazia um retrato. Agora temos um retrato perfeito. Não precisávamos mais dele.

O sorriso vitorioso de Hórus quase me faz sorrir também.

— Você foi esperto — admito

— Aprendi com a melhor — ele pisca para mim e aquilo me faz sorrir

— Mas precisava mesmo ter matado ele? Talvez só bater...

— Eu sou um deus mãe. E aquele verme foi até a minha casa, me deu um soco e saiu como se eu fosse um dos seus amiguinhos. Até hoje noto os empregados me olhando torto, querendo zombar de mim. Eu não podia deixar aquele anjo respirando nem mais um segundo. Ele precisava aprender a respeitar um deus.

— Entendo seus motivos. Por isso não trouxe ele de volta quando tive a chance — admito — Ele ainda não estava completamente morto, quando toquei nele eu senti. Sua alma estava lutando para permanecer unida ao corpo. Apenas um fio segurava ele aqui ainda.

— Então o desgraçado não morreu? — seguro o braço dele quando ele ameaça sair.

— Não faça nada estupido, ele já deve ter morrido agora. É impossível que a alma dele se segure por muito tempo. Além do mais, melhor você ficar longe dele agora, não quero que o Raphael suspeite de você. Ele esta furioso e um anjo da morte furioso não é uma das melhores companhias.

— O que devo fazer então?

— Comece desmanchando essa cara de vitoria. Finja que está chocado e devastado, alias finja que está tão irritado quanto o Raphael. Ajude ele nas buscas, diga que não pode confiar em ninguém. Que alguém perturbou a paz desse lugar. Torne-se o novo melhor amigo do Raphael.

— Deixe comigo. Ao fim dessa missão idiota o Raphael vai estar devoto a mim. — Hórus comenta sorrindo e eu sorri de volta.

Precisávamos manter o anjo por perto, ele poderia ser necessário. Mas se ele começasse suspeitar de algo, eu já estava planejando como me livrar dele.

Porque eu sabia como anjos da morte poderiam ser os piores inimigos que alguém poderia ter, até mesmo pra um deus. E eu não deixaria que ninguém machucasse meu filho.

Herdeira do Submundo 2 - Coroa InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora