— O que aconteceu? — pergunto enquanto sigo o Adriel pelo corredor. Pela urgência imaginei se deveria ter pego minhas armas.
— Só me segui. — ele responde rude. Ainda estava bravo então.
Resolvo seguir ele em silencio.
Ele empurra um pequeno portão que dava em uma escada que descia. Eu ainda não tinha explorado aquela parte do castelo, nunca dei muita importância, mas conforme descia as escadas resolvi perguntar.
— Que lugar é esse?
— Ainda não sei se é um tipo de porão ou uma masmorra. — ele responde.
— Por que estamos aqui? Alguma fantasia sexual sua?
— Se fosse você já estaria com a boca ocupada demais para me irritar com suas perguntas. — ele retruca e isso me faz sorrir.
— Adoro quando você banca o anjo mal sabia? Me lembra as noites que passamos juntos. E que noites! — exclamo. — O único momento que eu deixava você me dar ordens.
Noto ele engolindo em seco. Através do vinculo vi como ele lutava para manter as lembranças longe, pra manter o desejo longe.
Mas eu não estava afim de facilitar pra ele.
— O único que me faz ficar de joelhos por vontade própria. — provoco enviando a lembrança direto para ele. Forçando a lembrança contra seu pequeno escudo.
— Me pergunto se o Allocen ta curtindo essas lembranças, porque eu com certeza não estou. — ele responde começando caminhar mais rápido.
Mas eu não ia deixar ele fugir daquela conversa.
— Então é disso que se trata? Você não ficou irritado comigo por ter oferecido a mão da Scarlet em casamento, ficou irritado porque ta com ciumes.
Meu comentário faz ele parar abruptamente e virar, quase se chocando contra mim.
— Eu nunca vou te perdoar pelo o que fez com a Scarlet. — suas palavras saem duras e frias. Senti um aperto no peito ao perceber a sinceridade daquilo.
— O que fiz foi para nos proteger.
— Admita que foi mais para proteger a si mesma. — ele rebate dando as costas para mim e se afastando novamente.
— Por que todos vocês pensam que eu sou tão egoísta?
— Estamos aqui porque a guerra pode explodir a qualquer momento nos nossos portões. — ele explica mudando de assunto. — E precisamos que você viva.
— Você precisa? — pergunto arqueando uma sobrancelha.
— A corte precisa. — ele esclarece.
Ele era da minha corte, então resolvi encarar aquela resposta como um desejo desesperado dele para que eu vivesse.
— Então qual é o plano? — pergunto.
O fim da escada deu em uma enorme sala.
Estava escuro demais para que eu enxergasse ela toda, mas podia enxergar o que havia no centro.
Duas camas, ou pelo menos era isso que parecia. Duas camas feitas de cimento. Uma corrente de cada lado estava presa nas camas. Então era uma sala de tortura.
Ao redor das camas estava três dos caídos, Armaros, Azael e Allocen.
Quando Azael me viu sorriu diabolicamente para mim.
— Isso não é empolgante? Adoro reuniões secretas no meio da noite. Principalmente uma no castelo do diabo.
— O que vão fazer? — pergunto. Infelizmente eu não partilhava do mesmo empolgo que o Azael.
— Vamos misturar sua essência com a do Adriel. — Armaros explica.
— Como assim? — eu nunca tinha ouvido falar de uma coisa assim.
— Vamos ligar suas almas. — Allocen responde.
— Se tudo der certo no feitiço, quando você for atingida na guerra o Adriel pode morrer com você ou pode segurar sua alma até você ser curada. — Armaros completa.
Lanço um olhar ao Adriel mas ele evitava olhar pra mim. Como ele havia aceitado aquilo? Era um sacrifício enorme. Ele estava disposta a morrer comigo ou lutar por mim. Juntos, estaríamos juntos para sempre. Seriamos dois corpos e uma só alma. Uma ligação alem do vinculo, alem de qualquer coisa.
— Adriel... — começo.
— Vamos acabar logo com isso. — ele diz me cortando enquanto deita em uma das camas.
Eu pretendia perguntar se ele realmente estava disposto a fazer aquilo, mas pelo seu olhar e determinação imaginei que ele já havia planejado isso. Que aquele havia sido o plano desde de o inicio, desde quando os caídos chegaram aqui.
Então aceito a mão esticada do Allocen e ele me ajuda a subir na cama.
"Não se preocupe. Ele tem certeza do que quer fazer" os pensamentos do Allocen chegam até mim em uma tentativa de me tranquilizar.
Funcionou um pouco, ao menos até o Armaros dizer.
— Tenho que avisar que isso pode doer.
— É claro, as coisas nunca são fáceis para mim. — comento.
— Fechem os olhos e relaxem. — antes de fechar os olhos vejo Azael acender uma vela verde no meio da minha cama e do Adriel.
— Tem mais alguma coisa que eu deva saber? — pergunto. O cheiro da vela queimando chega até meu nariz. Era como o cheiro da grama de milhares de mundo diferentes. Algo relaxante.
— Só que vocês podem morrer. — ouço a voz do Azael ao longe.
Mas seja lá o que tivesse naquela vela me fez relaxar, mesmo com o anuncio de uma possível morte. E logo as sombras me levaram a um sono profundo.
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Herdeira do Submundo 2 - Coroa Infernal
VampireElizon sabia que ter aceitado a ajuda dos deuses na guerra era uma divida de vida, um favor, que um dia eles viriam cobrar. Ela só não esperava ser tão cedo, e não esperava que eles ameaçariam arrancar sua coroa. Então, Elizon se vê sem opções de fu...