Herdeira do Submundo 2 - Coroa Infernal

55

— Eles não vão parar?

— Quando ambos ficarem drenados e caírem de exaustão vão. — Kelis responde sentando ao meu lado.

Eu estava na ponta da ponte observando o Adriel e Allocen se atacarem.

Quando o Adriel deu o primeiro golpe foi impossível ficar ao redor deles. Eles pareciam dois animais selvagens se atacando. Adriel estava tão cheio de fúria que não notava ninguém ao redor. Então todos saíram de perto e Azael segurou meu braço me teletransportando para ponte. Para a segurança.

— O que ta acontecendo afinal? — pergunto. Ninguém havia se entrometido no meio deles e ninguém havia me deixado se entrometer. Todos pareciam saber o motivo daquilo, menos eu.

— É serio que não sabe? — Kelis pergunta.

— Você quer que eu desenhe? — o comentário faz ela abrir um pequeno sorriso.

— Você sabe quem criou os vampiros?

Que tipo de pergunta era aquela? Ela queria me irritar?

— Isso não importa. Quero sabe porque os dois estão brigando.

— Responda a pergunta Elizon, conhece ou não a historia do surgimento dos vampiros? — seu tom havia ficado afiado agora, nenhum traço de humor.

— Não me lembro, e por que isso é importante? — retruco irritada.

— Porque foi o Allocen que os criou. — Azael responde. Ele estava em pé observando a luta com os braços cruzados. Parecia que aquilo era comum para eles. Como se eles lutassem entre si o tempo todo no passado.

— Como assim? — pergunto confusa. Não podia ser verdade.

— Um homem desesperado para se salvar da peste que assolava a Terra teve a infelicidade de cruzar o caminho do Allocen. — Azael explica. Eu ainda não estava entendendo o que isso tinha a ver com a briga entre o Adriel e o Allocen. Mas deixei ele prosseguir — Ele implorou para ser salvo. Ele havia ouvido falar de nós. Seres celestiais que estavam ensinando coisas proibidas aos humanos. Então quando ele encontrou um de nós, pediu que o salvasse. Que ensinasse alguma feitiço para ele ser imune a doença.

— Um humano idiota e desesperado era nossa maior diversão. — Kelis comenta com um brilho no olhar que não deixou duvidas que aquilo era verdade.

— E Allocen viu uma oportunidade de afrontar os deuses mais uma vez. Um ato de rebeldia, contra os deuses, contra o mestre. Então ele aceitou. Criou uma poção que daria imortalidade ao humano. Feita do sangue de um demônio, do próprio sangue dele e de uma fita do poder de um deus.

— Legal, mas o que isso tem a ver com o que ta rolando ali? — pergunto apontado para a briga a nossa frente. Agora o Adriel estava em cima do Allocen, socando a cara dele tão forte que seu crânio parecia se enterrar no chão.

— O humano precisou jurar lealdade ao Allocen. Como um vinculo entre os dois... o que você acha que deu origem ao vinculo que os vampiros podem criar?

As peças pareceram se encaixar lentamente.

— Não... — foi tudo que consegui dizer enquanto o significado daquilo finalmente pesa em minha mente.

— Allocen matou o humano depois que ele bebeu a poção. E quando ele renasceu como imortal Allocen o mordeu. E foi assim que o vinculo foi criado. Passando de vampiro para vampiro. — Azael explica.

Pelos deuses! Como era possível que eu fosse tão ignorante? Como eu nunca havia ouvido falar daquilo? Foi como quando eu mordi o Adriel a anos atrás. Na época eu não sabia o que o ato significava, mas ele sabia. Eu sabia tão pouco sobre minha própria historia que sentia até vergonha.

— Allocen criou o vinculo com a ideia de se proteger caso os deuses se revoltasse com o que ele fez e quisesse se vingar. Ele usaria os vampiros para protege-lo. Por isso precisava do vinculo. Precisava de vampiros leais a ele. — Armaros explica, falando pela primeira vez.

— Então ele queria um escudo. — rebato.

— Sim, mas obviamente não deu certo. O mestre se revoltou e criou uma pisão especial para nós. Ele pegou todos nós em uma emboscada e baniu os vampiros para fora da Terra.

— Mas parece que vocês se viraram bem sem seu mestre. — Kelis comenta.

— Allocen não é meu mestre. E sim, os vampiros sobreviveram. Tomaram terras para si e formaram um reino. — respondo.

— O engraçado é que depois de todos aqueles anos de tortura ninguém nunca tinha encontrado o violino do Allocen. Quem diria que ele encontraria justamente aqui. — Azael comenta.

Allocen sabia. Ele sabia que estava aqui. Os vampiros podem não ter conseguido salva-lo, mas salvaram o violino dele. Cuidaram do violino para ele. Aquela garota talvez morreu protegendo aquele violino. O que esse vinculo significava? Eu morreria por um completo desconhecido?

Observei quando ele e o Adriel rolaram pelo chão. Ambos sujos de sangue.

— Isso é rídiculo. Eles vão se matar. — comento.

— Eles não podem se matar, e não é porque não estão com uma lâmina celestial a mão. Mas por sua causa. Eles não podem se matar porque agora você é como uma balança entre os dois. Você esta ligada aos dois. — Azael responde.

— Então por favor ordena para eles pararem. Achei que essa luta seria mais interessante, mais agora to entediada. — Kelis diz limpando as unhas.

Eu estava irritada por eles não ter me dito aquilo antes. Eu estava irritada comigo por ser tão burra que não conhecia meu próprio passado. Eu estava irritada pelo Allocen ter forçado um vinculo entre nós dois.

Então eu criei uma chama pequena entre eles. Ela não ia feri-los, mais ambos ficaram assustados quando eu explodi ela no meio deles. Quando a explosão jogou eles longe um do outro.

O silencio caiu sobre o Submundo.

— Quando os dois quiserem conversar como adultos eu estarei na sala do trono. — foi a ultima coisa que eu disse antes de sair.

Porque aquilo era tudo o que podíamos fazer agora, conversar. Nada alem disso. Não havia como quebrar um vinculo, a unica maneira era com a morte de uma das partes. Mas eu não precisei colocar uma espada no pescoço do Allocen para perceber que eu não conseguiria mata-lo. Que algo dentro de mim não queria que ele morresse. O vinculo. O maldito vinculo.