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— Não posso mais ser conselheiro das almas — Anúbis entra na sala do trono reclamando

— Não pode ou não quer? — pergunto encarando-o

— Eu não sei o que dizer a elas, não sei como aconselha-las. E isso não é o meu trabalho. — as palavras saem entre rosnados.

— Diga que elas apenas estão dando um tempo antes de reencarnarem e viver uma vida miserável e infeliz novamente.

Ele me lançou um olhar como se fosse avançar em mim a qualquer momento, então, antes que ele dissesse qualquer coisa, continuei.

— Não reclame tanto do seu novo trabalho, o meu é muito pior.

— Como isso é pior? — ele pergunta indignado — Você não faz nada o dia todo, só fica explorando a biblioteca de Osíris. Alias, você nem tem permissão de entrar naquela biblioteca.

— Eu tenho permissão de ir a onde eu quiser agora.

— Isso aqui não é um passeio. Você foi mandada para nos ajudar.

— Você parece meio estressado — comento — Que tal um dia de folga?

Ele cruzou a sala do trono tão rápido que eu mal notei seu caminhar, até ele estar a centímetros de distancia do meu rosto.

Ele apoiou seus braços dos dois lados do trono. Eu tinha que admitir, era um pouco assustador ter um deus chacal de dentes afiados tão perto do meu pescoço.

— Talvez você não se importe com o que acontece aqui, mas eu me importo. E eu sei que você esta prestes a perder a coroa para os deuses, então não finja ter o poder aqui, porque você não tem. Acho melhor você começar a fazer o que os deuses pediram, antes que algo ruim aconteça.

Os deuses eram ótimos em ameaçarem, mas eu não estava com paciência para aquilo no momento.

— Sinceramente Anúbis, eu não sei porquê eu estou aqui. É obvio que eu não me importo com esse lugar, por mim poderia tudo arder em chamas. Mas três deuses me arrastaram até aqui achando que isso seria um boa ideia. Que tal se mudarmos isso hoje? — em um movimento rápido seguro seus pulsos. — Que tal você ser o rei por um dia?

A anos atrás eu havia recebido uma runa de Osíris. Uma que me permitia ver a verdadeira face dos deuses. Ver os animais selvagens que habitavam dentro deles.

Mas em Anúbis o que eu estava fazendo era diferente.

Ele tentou se soltar quando seus pelos e suas garras foram desaparecendo, mas era impossível. Eu estava usando a telecinese para prende-lo.

Não demorou muito para sua face humana surgir.

O focinho foi substituído por um nariz reto e lábios finos.

Seus olhos dourados foram os únicos que permaneceram iguais. E por incrível que pareça, notei que o deus chacal na forma humana era o deus mais belo do Egito.

— O quê fez comigo? — ele pergunta quando solto seus pulsos.

— Estou te nomeando rei por um dia — retiro a coroa de ouro da minha cabeça e coloco sobre a dele. — Faça bom proveito, majestade

Começo a caminhar para longe.

— Você não pode fazer isso. — ele rebate segurando meu braço.

— Não finja que não quer Anúbis

— Não estou fingindo, é claro que eu quero. Mas não é o que os deuses querem.

— Mas é o que nós dois queremos, então eles não precisam saber.

— Elizon — seu tom sai como uma advertência.

— Eu sei que você comandava esse lugar antes de Osíris morrer. — foi rápido, mas eu notei a dor passar pelos seus olhos quando disse aquilo — Você tem direito a esse trono mais do que eu, mais do que qualquer um. Os deuses o arrancaram de você como querem fazer comigo. Você é um deus Anúbis, era o deus do Submundo e olha para você agora, não passa de um guia para almas moribundas. Você merece mais, merece ter o seu valor reconhecido. Então aproveite o dia, e me deixe cuidar do meu próprio submundo.

— Por quê ta fazendo isso? — ele pergunta quando estou prestes a sair.

— Estou apenas te devolvendo o que é seu por direito.

Quando meus olhos encontraram os dele, percebi como aquilo tinha importância para ele. Naquele momento eu soube que havia conquistado o respeito do deus Anúbis.

Ele não me olhou como me olhava a semanas, com desprezo e rancor. Me olhou como alguém que entende o que ele perdeu, como uma rainha e um rei prestes a formar uma aliança.

E quando achei que o dia não poderia ficar melhor, recebi um bilhete provando o contrário.

Eu li e o queimei antes de voltar ao Submundo, mas as palavras;

"Conseguimos"

da minha irmã Danúbia permaneceram na minha mente. Pela primeira vez, achei que talvez tivesse uma esperança.

Herdeira do Submundo 2 - Coroa InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora