KIRA
Eu acordei com o som de correntes sendo arrastadas e lâminas se chocando.
Eu não fazia ideia da onde eu estava. Mas quando abri os olhos a primeira coisa que vi foi o céu.
Nuvens vermelhas por todo lugar, era possível notar relâmpagos entre as nuvens, como se estivessem brincando de pega-pega.
— Ae, não enrola serviço não — uma garota avisa se aproximando — Veste isso e vai trabalhar
Ela joga um avental de couro em mim, junto com luvas pretas de couro também.
— Trabalhar no que? Onde eu estou? Eu tenho que sair daqui... eu...
— Não começa surtar não garota — ela diz me cortando. Então se aproxima mais de mim, tão perto que consigo notar os pontinhos dourados em seus olhos verdes — Você morreu, morreu no momento que entrou aqui. Então nem tenta fugir, ou lutar, ou reagir quando eles te bater. Se quiser ter uma vida menos infernal nesse maldito lugar é melhor fazer o que eles pedirem. E no momento você já está atrasada.
Quando passos começam se aproximar ela se afasta rápido como um raio.
— Anda logo sua inútil, não temos o dia todo — ela fala alto. E seus olhos me encaram intensamente, como um sinal.
Quando um homem entra no meu campo de visão, eu já estava com o avental e com as luvas.
— Você ta atrasada elfinha. Sugiro que ande logo, rápido! — o homem ordena.
Sem questionar sigo apressada pelo caminho que ele indica.
O lugar que eu estava era um tipo de quarto, antes de sair eu tinha notado que havia duas camas e conforme andava pelo corredor notei que haviam vários quartos.
Os quartos não tinham portas, era só um buraco. Um buraco de terra. O lugar todo parecia feito de terra. Mas quando tentei conecta minha magia, aquilo não pareceu uma terra normal.
Só quando cheguei a uma enorme abertura que percebi onde estava. Estava em um vulcão. Um vulcão enorme.
No centro dele havia milhares e milhares de seres de varias raças diferentes.
— Vai logo princesa! — o homem diz me empurrando em direção a um grupo de elfos.
Começo a caminhar para perto deles, devagar. Tinha vários elfos ali. Os elfos, anões e duendes estavam trabalhando juntos. Criando espadas, escudos, arcos e flechas, punhais e vários outros tipos de facas e lâminas.
Uma rápida olhada ao redor me revelou que havia vampiros ali também.
E o mais estranhos foi que os vampiros e os lobisomens estavam trabalhando juntos.
Havia um vampiro e um lobisomem amarrados a uma cadeira. Eram cobaias.
Uma vampira estava prestes a aplicar uma injeção neles. Eles pareciam ter formado um micro laboratório. E tinha vários tipos de líquidos, tubos, siringas e outras coisas que eu não estava ansiosa para descobrir o que era.
— Hey novata, será que dá pra pegar as barras de aço ou vai ficar parada assistindo o dia todo? — um elfo pergunta me encarando impaciente.
Resolvo seguir o conselho daquela garota e fazer o que eles pedem. Pego três barras de aço que estavam jogadas ao chão e entrego a ele.
— Agora comece a forjar uma espada. — ele ordena.
Naquele momento quase entrei em pânico. Eu não fazia ideia de como forjar uma espada. Observei um dos elfos que pegou a barra de aço. Vi ele colocar o pedaço de aço em uma broca e esperar enquanto ela formava o gume.
Então fui até a broca mais próxima e comecei fazer o mesmo.
Eu não queria pedir ajuda, então observei tudo o que ele fazia e segui seus passos.
Enquanto fazia aquilo quase comecei entender porque a Elizon tinha me odiado por anos. Eu era mesmo uma inútil. Elfos tinham talento nato para fabricação de armas, e no entanto, eu não sabia fazer nada daquilo. Eu me lembrava que quando o papai obrigava a Elizon e a Tâmara a fazer armas, Hécla e eu ficávamos assistindo e julgando qual delas era mais lenta.
E agora eu estava vivendo aquilo na própria pele. E tinha certeza absoluta que eu era a mais lenta de todas.
Enquanto eu polia a lâmina, um grito de puro pavor ecoou por sobre todo a barulheira do local.
Quando olhei em direção ao grito quase derrubei a lâmina no meu próprio pé.
A vampira que estava servindo de cobaia estava se debatendo em desespero. Dos seus ouvidos, boca, nariz e olhos jorrava sangue sem parar.
Ela estava sofrendo e implorando para aquilo parar.
Até que eu entendi o que estava acontecendo, no topo da sua cabeça notei seu cabelo caindo. Sua pele estava arruinada, derretendo. Ela estava derretendo como se tivesse tomado um banho de ácido. Sua pele estava lentamente se partindo e escorregando no chão. Os ossos de seus dedos estavam visíveis.
E seu grito de dor era tão horrível, que eu peguei o arco e flecha sem nem pensar.
Eu poderia ser ruim na fabricação de armas. Mas eu sabia que a minha mira era impecável.
E no momento que minha flecha se enterrou na cabeça dela com precisão, o olhar de todos se voltaram para mim.
E na mesma hora eu me arrependi do que tinha feito.
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Herdeira do Submundo 2 - Coroa Infernal
VampireElizon sabia que ter aceitado a ajuda dos deuses na guerra era uma divida de vida, um favor, que um dia eles viriam cobrar. Ela só não esperava ser tão cedo, e não esperava que eles ameaçariam arrancar sua coroa. Então, Elizon se vê sem opções de fu...