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HÉCLA

Apesar do inferno que se desenrolava ao meu redor, não foi aquilo que me deixou aterrorizada, não os dragões, nem as serpentes assassinas. Mas a mulher que corria ao longe, passando despercebida por vários.

Passando pelos homens do Alexandre e gritando com eles. Não atacando nenhum deles, nem xingando. Mas gritando ordens. Como uma capitã.

Eu senti meu coração rachar quando entendi.

Mas não parei para assistir ela escapar.

Abri as asas.

— Onde você vai? — Ravena gritou sobre o tumulto da batalha. Ela havia acabado de voltar de seja lá qual for o favor que fez ao Raphael, e eu não queria arrasta-la para o que eu estava prestes a fazer.

Então respondi.

— Fiquei aqui, eu já volto.

Parti o mais rápido que consegui e só parei quando cheguei um metro a frente dela.

Quando me viu, ela parou abruptamente, como se não esperasse me ver ali ou me ver viva ainda.

— Por que? — pergunto encarando os olhos verdes e frios da minha mãe. Seu rosto estava levemente sujo com apenas alguns cortes. E eu sabia que o sangue que banhava suas roupas não era dela.

— Porque eu quis. — ela responde simplesmente.

— Me odeia tanto assim?

— Eu não odeio você querida. Eu morro de vergonha de você. — e aquelas palavras foram como uma corda apertando meu peito.

— Só por causa de quem eu amo?

— Não existe duas rainhas Hécla, existe uma rainha e um rei. Eu te avisei o que aconteceria se você continuasse se recusando a conhecer possíveis pretendentes.

— Eu não os conheci porque jamais me casaria com um homem apenas para manter as aparências. Não seria justo com a Ravena. Ela não merece ficar nas sombras. — e não merecia mesmo, aquela linda e agressiva garota merecia um lugar ao meu lado.

— Vocês é uma tola. Nosso povo jamais te aceitara. Eu devia ter impedido quando tive a chance, mas achei que fosse só uma coisa passageira como todos os outros. E agora estou sendo envergonhada. — havia tanto desprezo em sua voz que senti vontade de me curvar e chorar.

Mas mantive o queixo erguido. Eu nunca havia tido amor de mãe, então porque eu ainda buscava aprovação dela? Porque eu me importava com isso? Enquanto havia um mulher naquele campo de batalha lutando por mim? Lutando comigo.

A lembrança da Ravena me deu forças.

— Envergonhada? Eu é que sinto vergonha de ter uma mãe como você, vergonha e pena pelo nosso povo ter uma rainha traidora como você. Não à vergonha alguma no amor. E se o meu povo não me aceitar só porque vou me casar com uma mulher então eu não quero ser rainha. Eu prefiro abrir mão de um trono idiota do que abrir mão de mim mesma. Não mudarei quem eu sou por um povo. Mas mudarei o povo para algo melhor.

Ela piscou e me encarou, então o sorriso de deboche surgiu.

— Você é ingênua, não conhece seu povo. Passou a vida nas sombras do submundo. Você não os convencera com palavras bonitas.

— Não mesmo, eu os convencerei com ações. Deixarei que eles vejam que não à mal nenhum no amor. Em amar quem quiser. Sera um reino livre. — respondo girando a espada na mão.

— Que baboseira. — ela diz revirando os olhos e ataca. Tão rápida que não consegui desviar a tempo. O punhal se enterrou na minha barriga. Uma vez, duas, três. Ela repetiu o golpe por tantas vezes que não consegui contar. Senti o sangue subir até minha boca. A dor lacerante no abdômen.

— Então realmente pretendia me matar? — consigo sussurrar e cuspo o sangue que se acumulava em minha boca.

— Todos vocês. Alexandre e eu reinaríamos juntos. Sem a louca da Elizon, sem você para me envergonhar e ameaçar meu trono.

— Mas você jogou do lado errado mãe. — respondo me forçando a ficar em pé. — Escolheu o caminho do ódio e vingança... — só mais um pouco, eu só precisava resistir mais um pouco. — E pode parecer simples e clichê, mas você não sabe que é o amor que sempre vence? — então eu só precisei fazer um esforço. Um ultimo esforço, o suficiente para gravar minha espada no espaço entre suas costelas, direto no seu coração. Mas ela também fez um movimento rápido, então o punhal traçou uma linha na minha garganta. Seu ultimo movimento pois, logo uma lâmina de gelo despontou de sua testa. Seus olhos perderam a vida e caíram.

Atrás dela estava Ravena, correndo para mim.

— Não consegui me obedecer nenhuma vez? — sussurro segurando meu pescoço.

— Não consegui se salvar nenhuma vez? — ela chega até mim. Suas mãos tirando as minhas delicadamente e pressionando o corte no meu pescoço. Ela precisava ser rápida, eu estava perdendo muito sangue. Já sentia as sombras pairando ao meu redor.

— Por que eu tentaria se tenho você para me resgatar? — provoco. — E mesmo que aquele comentário tenha provocando uma dor horrível, eu ainda queria continuar falando. Aquelas poderiam ser minhas últimas palavras.

— Não ouse me deixar, ou eu juro que vou atrás de você te atormentar pela eternidade. — ela diz enquanto o calor de sua magia deslizava para o corte do meu pescoço, contendo o sangue, fechando a ferida.

— Eu amo você. — e não fiquei para ouvir a resposta pois logo as sombras me vencera, me acolhendo.

Herdeira do Submundo 2 - Coroa InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora