Herdeira do Submundo 2 - Coroa Infernal

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KIRA

Os gritos daquela garota ainda ecoavam nos meus ouvidos e imagens de seu sofrimento também. Mesmo assim, me obriguei a continuar. Eu não podia voltar, não podia salva-la.

Kass entrou em outra sala. Essa estava apenas com uma luz acesa permitindo pouca visão, mas parecia vazia.

Ela parou ao lado da mesa de computador e olhou diretamente para nós.

— Eu sei que vocês estão ai. — no momento que ela disse isso meu coração ameaçou sair pela boca.

Eu to ferrada. Acabou, ela vai me matar.

Oliver apertou minha mão, um sinal.

— Não quero machucar vocês. Acredite em mim Kira. — ela olhou ao redor, como se estivesse nos procurando.

Ela deveria ter sentindo nossa presença mais ainda não sabia onde estávamos. Isso era bom.

Soltei a mão do Oliver e dei um passo a frente.

Seus olhos se focaram em mim conforme meu corpo se tornava visível.

— Um motivo Kass. Me dê um motivo para eu não mata-la agora mesmo. — ameaço me surpreendendo com o tom da minha própria voz.

— Vou te dar vários. — então ela se afasta da mesa.

Me preparo para atacar, mas o golpe nunca veio. Envés disso ela apenas se levantou e acendeu as luzes.

Eu teria coberto os olhos com aquela claridade, mas o que surgiu a minha frente roubou toda a minha atenção.

Havia vários tanques por todo lugar e dentro deles tinha sereias.

Sereias presas em tanques apertados. Tanques que mal permitia que elas se movimentassem. Algumas tinham tubos presos em seus braços. Outras tinham pequenas feridas na calda.

Mais experimentos. O Alexandre estava arrancando partes delas para experimento.

— Pelos deuses! — é tudo que consigo dizer enquanto me aproximo de um dos tanques.

— São minha corte. — a revelação me faz encara-la incrédula.

— Você é...

— Uma rainha como você. — ela explica. Eu tava chocada demais para falar qualquer coisa, então ela prossegui. — Eu não estou do lado dele Kira, nunca estive. Mas quando fui capturada eu não tive escolha se não me unir a ele. O Alexandre sabia que eu tinha alguns conhecimentos sobre poções e essas coisas...

Então a ficha finalmente cai.

— Você criou as vacinas — sussurro.

— Sim, todas as vacinas e elixir. — ela confirma. — Fiz isso porque ele não me deu escolha. Se eu não me juntasse a ele eu seria mais um de seus experimentos.

— Então escolheu ajudar o inimigo envés de lutar contra ele.

— Eu escolhi salvar minha corte. Eu disse a ele que ajudaria se em troca ele não machucasse minhas amigas.

— Mas parece que isso não deu muito certo né — comento lançando um olhar para a calda ferida de uma delas.

— Ele me pedi para tirar amostra de tecidos, DNA, entre outras coisas e eu faço. Mas faço do meu jeito. Sem dor, sem mais sofrimento. Apenas eu posso tocar nelas e quando eu me recuso a fazer isso... — ela se caminha entre os tanques e para em frente a um deles — Outra pessoa faz por mim.

Eu me aproximei para olhar o tanque. A sereia dentro dele, tinha tido parte da calda decepada e seu braço esquerdo parecia ter sido quebrado e ninguém se importou em curar.

— Isso é horrível — comento.

— Entende o que eu faço agora Kira? Sabe o que é você ter que corta partes do seus amigos só para que outra pessoa não faça isso? Porque você sabe que se outra pessoa fizer eles não vão ser gentis.

Parte de mim entendia aquilo. Eu não suportaria ver minha corte sofrendo, sendo esquartejada viva.

— Isso acaba comigo Kira. — ela sussurra. Lágrimas escorregavam de seus olhos agora. — Acaba comigo olhar para elas quando vou corta-las. Partes de mim morre todo dia junto com elas. Quando vejo seus olhos, o sofrimento neles e ainda assim a confiança em mim. A esperança.

— Eu entendo Kass... mas não podemos continuar com isso. Isso tem que parar.

— Como? Como vamos acabar com isso? Você viu aquela garota. Ela é apenas uma entre milhares de experimentos Kira. Um passo em falso meu e eu morro. E se eu morrer minha corte estará perdida.

— Eu sei que tem como evitar o controle, mas tem como curar alguém dele?

— Eu nunca tive permissão de criar uma cura para isso. Então realmente não sei. — ela diz e as palavras soam sinceras.

— Posso te ajudar com isso. — Oliver diz aparecendo pela primeira vez.

Perto demais da Kass o que me fez pensar se ele pretendia enforca-la caso as coisas dessem errado.

— E quem é você? — Kass questiona enquanto seus olhos avaliam ele.

— Um amigo da Kira. — a resposta dele me faz arquear uma sobrancelha e em resposta ele apenas da um leve sorriso. — Me diga do que precisa para começar seus experimentos e eu posso pegar pra você.

— Em troca de que? — Kass pergunta.

Meses ou anos naquele lugar deveriam te-la ensinado que nada vinha de graça.

— De você me dizer onde está a Kenna.

Kenna, então era esse o nome da mulher que ele procurava.

— Kenna. — Kass repete como se tentasse lembrar onde a mulher estava. — A mestiça?

— Sim. — Oliver responde com um rosnado, como se odiasse aquela palavra.

— Ela esta em observação. Um dos demônios do Alexandre está estudando ela.

— Onde? — me pego dizendo.

— No castelo do Alexandre.

— Inferno. — Oliver xinga irritado. Ele deve ter percebido meu olhar desentendido porque explica — Eu não posso entrar no castelo. É só quem o Alexandre permite. Tentei te seguir aquele dia mais tinha uma barreira invisível me impedindo.

Eu nem pensei direito, a ideia simplesmente veio na minha cabeça e eu falei.

— Eu vou.

— O que? — Oliver pergunta.

— Ta maluca. — Kass comenta

— Eu entrei lá, ele permitiu. Talvez eu ainda possa.

— Talvez é um risco muito alto — Oliver rebate.

— Melhor do que não fazer nada. — digo decidida. — Eu vou procurar por ela e enquanto isso você e a Kass vão atras de tudo que precisam para criar uma cura pro controle.

— Mas isso pode demorar semanas. — Kass argumenta.

— Então trabalhe dobrado.

Kass me encara. Eu sabia que uma rainha não estava acostumada receber ordens de outra. Mas nós não tínhamos escolha, estávamos correndo contra o tempo.

— Ta bem. — ela responde por fim.

— Ótimo, vamos ao trabalho então.