Capítulo 28

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Na manhã seguinte, Lorena foi ao meu quarto.

- Desculpa por agir daquela forma. Estou fora de mim mesma pelo que aconteceu com Alice.

- Nós todos estamos, Lorena. Exatamente por isso que temos que trabalhar juntas para superar esse momento difícil.

- Vim pedir sua ajuda. Quero ir para a ala secreta e ver Alice. - disse Lorena.

- Não deixaram você ver antes?

- Não é isso. Penso que como ela é um pivalie agora, deve ser tratada como um animal. Nem devem dar comida para a coitadinha. Se ela não comer nada, vai morrer.

- Você sugere que demos alguma coisa viva para ela comer? - eu disse.

- Não sou tão louca assim. Vamos levar um bife da cafeteria.

- Achava que gostavam mais de comer coisas frescas e vivas.

- Verdade, mas ou ela come o bife ou me come.- Lorena começou a rir.

- Por que você tá me chamando para ir com você? Tenho que ajudar Emily a terminar o antídoto. - eu disse.

- Não quero ver ela desse jeito sozinha. Seria mais confortante você ir comigo.

- Não podemos entrar na ala sozinhas. Há um cartão que só os seguranças têm.

- Fácil. Só roubar o cartão do Gregg.

  Ela saiu correndo para Gregg. Cochichou para mim como ela o distrairia enquanto eu pegaria o cartão. Achei uma péssima ideia. Se ele descobrisse, estaríamos fritas, mas seguimos com o plano mesmo assim.

- Oi Gregg. - Lorena disse em um tom positivo e feliz. - Faz um bom tempo que não batemos um papinho só eu e você.

- Nós nunca batemos um "papinho". O que você está tramando? - Ele tentou virar para trás e quase me viu me aproximando de seu bolso. Lorena foi rápida e segurou seu rosto com força.

- O que está fazendo?- disse Gregg.

- Presta atenção em mim quando falo. Estou tentando desabafar aqui. - Lorena me deu um sinal de que agora era a hora de eu entrar em ação de fininho. - Estou muito triste pelo que aconteceu com Alice. Para dizer a verdade, estou acabada. Minha pobre irmã virou um pivalie. Não tem nada que eu possa fazer. Me sinto uma inútil. - Ela começou a fingir a chorar.

Ela sempre foi uma ótima atriz em dar um show. Ele ficou constrangido e não sabia o que fazer. Ela começou a chorar de soluçar e ele a deu um lenço.

- As vezes me acho uma péssima irmã. Não fui boa o suficiente para impedir que minha irmã virasse um monstro.

- Não diga isso, Lorena. Você é uma ótima irmã. Cuida delas muito bem. Essas coisas acontecem e não é sua culpa.

Lorena se jogou nos braços de Gregg chorando. Ela olhou para mim por meio de seu ombro e avisou que era hora. Ela chorava muito forte. Eu tentei não fazer barulho e não mexer no bolso de Gregg muito para ele não perceber. Consegui o cartão, mostrei para Lorena, sai sorrateiramente.

Assim que Lorena percebeu que eu tinha saído, ela se recompôs, soltou Gregg e disse:

- Obrigada, Gregg. As vezes é bom desabafar. Você é como da nossa família. Adeus.

Ela saiu correndo. Gregg ficou com uma cara de confuso e não entendeu nada.

Nos duas corremos para o elevador e apertamos o botão para o -5 andar. Fico assustada em imaginar no que tem nos outros andares. Só visitei 5 até agora, o da prova, o ringue de luta, o dos quartos, a cafeteria, e infelizmente a ala dos pivalies.

Seguimos o caminho e com o cartão, peguei e passei para abrir a porta da ala. A máquina não aceitava, dizia que era o cartão errado a ser usado.

- Não acredito que você pegou o cartão errado! Você só tinha uma tarefa. Uma única tarefa. Não é nada surpreendente que você não conseguiu fazer uma coisa tão fácil.

- Como eu saberia que tem mais do que um cartão?

- Agora a Alice vai morrer de fome por sua culpa. Melhor você arranjar uma outra forma de conseguir esse cartão.

Ela voltou ao elevador muito brava.
Nunca vi Lorena tão alterada assim. Principalmente porque ela parecia ter gostado de ter feito aquela ceninha. Algo não parecia certo. Entrei no elevador e fui ao salão principal. Gregg estava lá.

- Vocês duas não sabem disfarçar nem um pouco. Se quisessem visitar a sua irmã mais nova, porque não me avisaram. Não teria problema algum de eu acompanhar vocês.

- Achávamos que você teria problemas por nos deixar visitar aquela ala. Além do mais, não tem só minha irmã lá, tem vários pivalies que poderiam ser soltos e um desastre poderia acontecer. Por isso que a instituição os mantêm escondidos.

- Isso é verdade, mas por vocês faço uma exceção. São a família que eu mais gostei.

Eu decidi chamar Lorena e a avisar que Gregg nos levaria lá. Ela se entusiasmou de novo. Pegamos novamente o elevador.

- Só achei meio estranho não terem te demitido. Aqui são tão rigorosos com suas regras. Se descobrirem que você está abrindo essa exceção, você pode ser demitido, Gregg. Não queremos que isso ocorra.

- Acho que por causa da contaminação em massa, não querem demitir mais um soldado. Contanto que eu as acompanhe e tenha certeza que não abrem nenhuma sala, não deixem os pivalies saírem e as impedir de se machucarem, está tudo tranquilo.

Gregg respondeu enquanto a porta da ala se abria.

Até o fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora