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Não basta eu ter que lidar com a morte do meu noivo, tenho que me desconectar do mundo para me esquivar de repórteres

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Não basta eu ter que lidar com a morte do meu noivo, tenho que me desconectar do mundo para me esquivar de repórteres. Assim o meu advogado me recomendou. Excluí minhas redes sociais e quando alguém próximo quer falar comigo, liga para o telefone residencial dos meus pais, ou vem até aqui para me ver. O tempo todo eu sinto que alguém pode vir atrás de mim para vingar a morte do Alejandro, e a ideia de ficar sozinha me deixa com muito medo. Por isso, mesmo que eu não esteja mais fazendo repouso, prefiro ficar aqui por enquanto.

Essa tragédia foi notícia no mundo todo e todos sabem quem eu sou. Não tive coragem de ao menos tentar voltar a trabalhar. Só de pensar, meu corpo estremece de medo. Mas temos sorte de ter o Daniel trabalhando na clínica. Ele é muito competente e raramente precisa que meu pai compareça lá para resolver algum problema.

Minha irmã tem se esforçado bastante para tornar meus dias mais toleráveis. Desde que criei coragem para ligar meu celular novamente, passo horas olhando minhas fotos com o Douglas. Ela faz de tudo para desviar minha atenção. Escolhe filmes ou séries da Netflix para assistirmos, faz pipoca, bolos e doces. Mas isso não me distrai da forma que eu preciso. Quem perde o noivo de forma trágica como eu perdi e dá a volta por cima assistindo séries?

De qualquer forma, ela é a melhor irmã que alguém poderia querer. Todos os dias ela tenta encontrar um jeito de me ajudar a dormir, seja com chá, mantra, oração, meditação... Nada adianta muito. Quando durmo, é muito breve e parece um apagão. Nas horas em que sigo em claro, olho para o lado e lembro que o Douglas não está aqui. Choro e deixo minha cabeça girar em torno da saudade e em torno daqueles relatórios. Eu quero encontrar um jeito de descobrir onde estão para terminar o que o Douglas começou. Por mim e por ele.

Depois que os raios do sol tornam a trazer um novo dia, volto a lembrar que não só a melhor irmã, mas também tenho os melhores amigos. Paola e Wesley vêm me ver sempre que podem. Além deles, a Dona Ana também vem quando não está em algum compromisso da igreja. Ela esteve aqui hoje pela manhã e conversamos muito sobre como as coisas vão ficar daqui para frente. É algo que eu tento evitar pensar, mas quando se está grávida, não dá para adiar planos. Apesar do fato de estar perto dela desencadear muitas emoções em mim, eu a quero sempre por perto, pois ela merece ver o bebê nascer e crescer, pois é a parte do Douglas que restou, um pedaço de amor, um pedaço de vida. Dona Ana disse que ainda está tricotando várias roupinhas e sapatinhos. Explicou que aprendeu essa arte quando o marido partiu e defende a ideia de que é uma forma de terapia, uma forma de não desmoronar, depois de sua fé, é claro.

Embora o Dr. Wagno tenha me instruído a me distanciar das redes sociais, eu fico muito curiosa e com medo de toda essa repercussão. Não sei o quanto isso está me afetando ou como minha imagem está diante dos últimos acontecimentos. Pensando nisso, pego meu celular a fim de conferir toda essa repercussão, já que a Kássia foi ao supermercado e estarei sozinha por no mínimo duas horas. Abro a página de busca.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora