— Agora, vamos passar para a próxima etapa. O que a senhora fazia em sua casa no dia do ocorrido?
Meu coração se aperta ao lembrar da última manhã em que acordei me sentindo completa.
— Eu estava aguardando uma pessoa que supostamente estava interessada no aluguel da minha casa. Recebi a ligação dessa pessoa, uma mulher, no sábado à noite.
— Qual é o nome dessa mulher? — questiona o delegado.
— Não tive tempo para perguntar, ela desligou antes que eu tivesse a chance — explico.
— A voz dela te pareceu familiar? — ele torna a indagar.
— Não, mas ela era muito simpática. Ou fingiu ser — respondo lembrando claramente da voz daquela mulher. O delegado assente e eu continuo. — Eu recusei a proposta de imediato, pois iria viajar no dia seguinte e precisava de tempo para me organizar...
— Para onde a senhora iria viajar e por quê? — ele me interrompe.
Não vou medir palavras para responder sua pergunta. O Douglas não mediria.
— Eu iria para São Paulo, para a casa da minha irmã aqui presente — digo apontando para ela. — Estávamos com medo de que o Alejandro viesse atrás de mim, como bem aconteceu.
Seus olhos vidram por poucos segundos, mas ele se recompõe antes que mais alguém note.
— Tudo bem, continue.
— A tal mulher insistiu dizendo que estava na reta final da gravidez e precisando muito de um lugar para morar. Eu estou grávida também e acabei me comovendo com a situação. No fim, acabamos marcando para às 14h do domingo. O Douglas estava ciente disso e... — paro por um instante para tomar fôlego à medida em que as palavras dele voltam nítidas em minha mente. — Ele disse que teria que sair pela manhã e pediu para que eu o esperasse, pois havia algumas coisas dele na minha casa e queria buscar comigo. — toco o centro da minha face com a palma da mão pensando em tudo que eu teria evitado se fizesse o que ele pediu.
— Sim... — diz o delegado na tentativa de que eu prossiga.
— Na manhã de domingo, depois que o Douglas já havia saído, a mesma mulher tornou a ligar alegando que o parto de seu bebê seria antecipado para aquela tarde e ela só teria o período da manhã para ver a casa. Eu não percebi que aquilo era muito suspeito e acabei remarcando com ela para às 11h, se não me engano. Parecia algo inofencivo e eu preferi não preocupar o Douglas com aquilo, pois ele já estava bastante apreensivo. — Por um instante, lembro de ter achado um exagero toda a preocupação dele. No final, ele estava certo em tudo e eu fui uma perfeita idiota. Respiro fundo e prossigo. — Me arrumei e fui para minha casa. Acabei chegando lá um pouco antes do combinado e aproveitei para abrir o portão do Théo.
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O que restou de um coração Livro 2
Literatura FemininaMuitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; poderia ter fugido enquanto havia tempo; poderia não ter saído sozinha e ser surpreendida pelo seu pior pesadelo, mas ela tomou as piores decisõ...