E P Í L O G O

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Foi uma discussão que parecia não ter fim

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Foi uma discussão que parecia não ter fim. Todo mundo quis dar opinião e me convencer do contrário, mas eu mantive a minha e venci.

Meu pai havia sido condenado a três anos e quatro meses de prisão em regime fechado. Durante esse tempo, eu não fiz uma visita sequer a ele. Nem a Kássia. E muito menos nossa mãe. Imagino que a única pessoa que visitou meu pai, foi o advogado dele. No caso, outro advogado, pois o que ele tinha antes, o mesmo que me instruiu quanto ao caso do cartel, se negou a pegar o caso do meu pai. Imaginei que tivesse a ver com a área em que ele atua, mas depois descobri que, na verdade, o Dr. Wagno não gosta de defender culpados.

Foram três anos e quatro meses sem ver um único rosto familiar. Desta forma, imagino que ele tenha cumprido todas as suas penas. A de fraudar um documento, a de causar sofrimento desnecessário à Dona Ana, a de me causar sofrimento desnecessário, a de trair minha mãe, a de engravidar sua amante, e a de não reconhecer os próprios erros. É contra essa última parte que minha mãe e minha irmã têm objeções. Elas acham que a solidão que ele passou na cadeia não o fez enxergar o mal que causou a todos nós. Eu concordo. Só que isso não significa que eu não possa mostrar a ele que não me importo.

Saio do quarto e observo Douglas brincando com Bia. Ele está deitado no tapete da sala e ela está sentada em sua barriga, apertando com o dedo indicador vários pontos da cicatriz que ele tem no peito. Douglas faz sons diferentes com a boca, fingindo que a marca que deixei em sua pele é algum tipo de instrumento musical. Nossa filha gargalha a cada som que ele emite e ele acaba se rendendo à diversão e gargalha também. Deixo uma risada escapulir e acabo chamando a atenção dos dois.

— Tá pronta? — ele pergunta inclinando a cabeça para me ver.

— Tô — respondo convicta. Ele ergue Bia de cima dele e a coloca de pé ao seu lado. Ela sorri animada e corre para o quarto enquanto Douglas pega uma camisa em cima do sofá. — Tem certeza de que quer levar Bia com a gente? — ele questiona. — A Paola disse que se você mudasse de idéia, poderia ficar com ela.

— Quero ficar com a dindinha — Bia resmunga voltando carregando uma boneca quase do tamanho dela. Foi um presente do Daniel. Desde que ganhou, no mês passado, ela não desgruda dessa boneca.

— Não dá, meu amor — falo. Ela faz uma careta e estreita os olhos para mim. Depois me volto ao Douglas. — Paola pode entrar em trabalho de parto a qualquer momento. Não dá pra deixar Bia com ela.

— E sua irmã?! — volta a questionar. Espero enquanto ele veste a camisa para poder olhá-lo nos olhos.

— Quero que Bia vá com a gente.

— Tá bom. — ele beija minha boca com leveza e pega Bia no colo. — Papai vai comprar um sorvete pra você, tá?!

Os olhos de Bia chegam a brilhar enquanto ela abre um sorriso de canto a canto.

A viagem é um pouco longa, e passo a maior parte do tempo refletindo um pouco mais, mesmo que já tenha pensado em tudo. Tanto que cheguei a conclusão de que não precisava entender nada. Só precisava olhar ao meu redor. Douglas e eu estamos juntos. Bia está crescendo com saúde, com o pai por perto. Arthur está se desenvolvendo bem. Tão bem que já ultrapassei o tempo que fiquei grávida de Ana Beatriz, sem nenhum contratempo. O restaurante está sendo nossa única fonte de renda no momento, e estamos vivendo muito bem apenas com ele.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora