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Descruzo as pernas e cruzo novamente para o outro lado

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Descruzo as pernas e cruzo novamente para o outro lado. Abro a bolsa e pego meu espelho. Ajeito meu cabelo colocando uma mecha atrás da orelha e no outro lado, deixo-o cair sobre parte do meu rosto. A sala de espera está repleta e isso me faz chegar a conclusão de que a Dra. Juliana Godoy é mesmo ótima no que faz. Porém, meu estômago se contrai quando penso nas perguntas que ela vai querer me fazer. Ela, assim como uma infinidade de pessoas, deve saber quem eu sou e o porquê de estar aqui. Com sorte e óculos escuros, não me reconhecerão.


Inclino o espelho mais para baixo e confiro se meu anel de noivado está dentro da blusa. Coloquei-o como pingente em um cordão, pois temo que a psicóloga possa achar que estou com dificuldades de aceitar que sou quase viúva em plenos trinta anos. Não deixa de ser verdade, mas não quero evidenciar minhas tristezas dessa forma.

Como a ideia de estar aqui partiu do meu pai, aceitei que ele me trouxesse. Mas, verdade seja dita, eu não quero dirigir sozinha e se não fosse pela carona dele, eu teria que marcar essa consulta para outro dia, pois mamãe está em reunião na faculdade e eu não queria incomodar a Paola ou Wesley por causa de uma simples consulta. Daqui, meu pai partiu para a clínica a fim de ter uma conversa séria com os funcionários. Não para descobrir quem falou aquelas coisas cruéis sobre eu ter arruinado o negócio dos meus pais, mas para acertar as contas de quem se sente mal em trabalhar lá. Eu duvido que alguém vá querer dar a cara à tapa, pois meus pais sempre tornaram aquele ambiente o melhor possível para se trabalhar. Nunca houve uma reclamação sequer. Eu acho isso muito triste, mas algumas medidas precisam ser tomadas para que aquilo volte a ser o que era antes.

— Karen Blanchard Tavares — chama a secretária da Dra. Juliana. Me levanto e caminho em direção à sua sala sob os olhares julgadores, ou eu estou imaginando demais?

Meus passos ecoam pelo pequeno corredor à medida em que sinto um frio na barriga, cujo tamanho já declara que estou grávida. Entro em sua sala e noto que o ambiente não é nada assustador como eu imaginava. Estamos no vigésimo quinto andar e olhando através da imensa parede de vidro à minha frente, parece que estamos muitos andares mais acima.

— Os arranha-céus da Tijuca hipnotizam, não é mesmo?

— Ah... Me desculpa — digo voltando-me à dona da voz simpática. Volto alguns passos, pois não percebi que ela estava segurando a porta para que eu entrasse. — Karen Blanchard — me apresento um pouco tímida enquanto apertamos as mãos.

— Juliana Côrtes Godoy — ela se apresenta sorrindo.

Eu esperava uma mulher mais velha, mas a doutora aparenta ter a minha idade. Se eu a visse na rua, apostaria que é uma modelo de sucesso, fazendo comerciais de tintura de cabelo na cor loiro dourado.

Me sento no divã azul marinho e aguardo que ela faça alguma pergunta, ou puxe assunto. Com seu bloco de anotações em mãos, ela me observa atentamente enquanto eu encaro minhas unhas, que nessessitam muito de uma manicure.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora