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Teríamos um pouco mais de tempo para conversar se não tivéssemos que voltar para a clínica tão depressa

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Teríamos um pouco mais de tempo para conversar se não tivéssemos que voltar para a clínica tão depressa. Aproveitei a carona da Paola, mas confesso que o caminho todo foi envolto por preocupações. Eu detesto esse tipo de suspense. Dizer que precisa falar com alguém sendo que vai levar um tempo até a conversa de fato acontecer. E pior, não dar nenhuma pista do que está acontecendo. Ela é minha mãe, deveria saber que eu não gosto disso. Fico imaginando mil e um tipos de problema. Será que o movimento caiu tanto a ponto de nos deixar uma dívida alta? Ou talvez já não tenhamos uma solução a não ser fechar as portas?

Aparecer lá e ver meu pai e o Daniel foi algo que eu tentei evitar hoje, mas por um pedido da minha mãe, não vou ter como escapar. Mas tudo bem. Há muitas coisas que eu terei mesmo que enfrentar e o quanto antes eu fizer isso, vai ser melhor.

A movimentação de pessoas na recepção continua a mesma do último dia em que estive aqui. Se eu fosse julgar apenas por isso, diria que a situação da clínica não piorou, porém, não houve melhora. A única coisa diferente são os olhares direcionados à mim. Imagino que embora o meu nome já não esteja sendo citado na TV e nos jornais, quem costuma se consultar com os médicos daqui, continua antenado sobre os últimos ocorridos e ligando todos eles à mim. Finjo que não é comigo e ignoro.

— Depois me conta o que está acontecendo — sussurra Paola em frente à porta fechada do escritório da clínica. Assinto com um gesto positivo e adentro à sala.

Mamãe me olha por cima dos óculos antes de retirá-los do rosto com o cenho franzido. Ela ergue as sobrancelhas e me encara perplexa.

— O que fez com o seu cabelo? — pergunta como se não tivesse dado falta de meio metro de cachos.

— Cortei e clareei as pontas... — falo o óbvio me sentando na cadeira em sua frente.

— Você está linda, filha — diz uma voz masculina. Meu pai entra na sala silenciosamente e me surpreende. Olho-o por cima do ombro e volto a dar atenção à minha mãe.

— E então, mãe — falo enfatizando que não quero falar com ele, contudo, ele se senta na poltrona ao lado da minha mãe. — O que está acontecendo? Vamos ter que fechar?!

— Não, não — responde ela de imediato, evidenciando que isso está fora de cogitação. — As coisas continuam do mesmo jeito.

— Então qual é o problema?! — questiono.

— O Daniel pediu o desligamento da clínica hoje de manhã — meu pai revela me deixando chocada tanto por ainda estar me dirigindo a palavra, como pela decisão do Daniel.

Mamãe lança um olhar para o meu pai. Um olhar que se assemelha a uma advertência por estar falando no lugar dela.

— O Daniel pediu demissão, Karen — ela fala como se a notícia ainda não tivesse sido anunciada.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora