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Alívio

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Alívio. Essa é a palavra que resume o que senti depois de ver a Karen lúcida mais uma vez, pois eu não saberia lidar com o fato de que eu poderia tê-la poupado de tudo o que aconteceu, só que isso me custaria outros problemas. Não sei por quanto tempo vou conseguir assistir a tudo isso. Talvez lidar com as consequências de abrir a boca seja melhor do que permanecer escondendo um erro. O problema é que esse erro não é só meu e revelá-lo, significaria prejudicar outras pessoas. Pessoas que estão encobrindo os erros umas das outras.

Essa noite com certeza deixou marcas em cada um de nós. O suicídio, ou apenas uma tentativa, é um mergulho estando ancorado à todas as nossas dores e às de quem a gente ama. Pelo menos, é como eu imagino, só que quando a pessoa atinge a água, mesmo que alguém consiga buscá-la do fundo, respingos também atingem outras pessoas, respingos de remorso. Cada um começa a questionar a si mesmo por não ter notado, por não ter dado atenção, por não estar por perto. Mesmo se a Karen não tivesse me falado que aquilo não era o que ela queria, eu saberia. Foi pressão demais, dor demais, assédio demais. Quero fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que ela não faça mais isso. Não porque eu gosto muito dela, até porque, isso seria egoísmo, mas porque eu quero que ela queira viver, porque a vida pode ser boa de novo.

Tentei ligar para a Marcela algumas vezes para conversar e fazê-la entender que meu único interesse quando resolvi ficar no hospital, era saber se a Karen e a bebê ficariam bem, apenas isso. Sua atitude repentina de ir para casa sem mim, me deixou em dúvidas sobre algumas coisas. Ela me procurou depois de termos dado um tempo, pois precisava pensar no que falei, mas não chegou a dizer que entende o fato de eu não querer me afastar da Karen. Esse é o ponto um: acho que ela não confia em mim. O ponto número dois, é que eu pensei que ela se preocupasse mais com a Karen e que fosse querer notícias, mas ela não se manifestou. Pelo menos não para mim. O ponto número três é que talvez eu esteja errado sobre os pontos um e dois. O ponto um seria ela estar sentindo algo por mim e a razão do dois seria ciúme. Eu estou louco para entender tudo isso.

— O que você está fazendo aqui?! — Marcela pergunta ao abrir o portão para mim.

É manhã de domingo. O sol ilumina o ambiente sem que nenhuma nuvem atrapalhe.

— Você não atendeu minhas ligações — argumento.

— Eram 3h da manhã, Daniel.

Eu estava tão preocupado em resolver essa questão que nem percebi que horas eram. Ela estava dormindo.

— Tem café aí? — pergunto sentindo as pálpebras pesarem quando um bocejo insiste em se manifestar. Marcela olha para mim intrigada.

— Entre — ela diz ao abrir espaço para mim. — Eu preciso mesmo falar com você.

Entro e sem perceber, já agi como alguém que se sente em casa. Me sentei em seu sofá, joguei a cabeça para trás e estalei minhas vértebras cervicais. Isso tudo sem saber o que essa mulher tem para me dizer. Ela atravessa a sala sem dizer nada e some na cozinha. Dois minutos depois ela retorna com uma xícara de café em cada mão.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora