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É como um recomeço

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É como um recomeço. Mais um dos meus recomeços. A verdade é que todos os dias alguma coisa termina e outra começa. Eu nunca parei para dar atenção, mas é assim que as coisas são. Hoje enquanto vinha do hospital, por exemplo, senti vontade de terminar minha estadia no apartamento dos meus pais, mas infelizmente, não consegui criar coragem suficiente para me imaginar na casa do Douglas sozinha, com medo de que alguém possa ir até lá atrás de mim. Assim como também não me imagino morando na minha casa, cenário onde a maior tragédia da minha vida aconteceu. Em algum momento terei que ir contra os meus medos, porque ainda sinto que estou sendo um peso na vida dos meus pais. É uma sensação estranha não conseguir determinar o lugar onde vou passar o resto da minha vida com a minha filha.

É difícil não notar ou ignorar o jeito como meus pais me olham. Parecem mais preocupados que o normal, o tempo todo perguntando se preciso de alguma coisa, se quero conversar ou mesmo comer algo diferente. Quando chegamos no apartamento deles, fui surpreendida por uma mesa de café da manhã farta e bem colorida. Eu me senti muito querida e especial, mas confesso que não queria que eles estivessem tão apreensivos assim. Estou tentando sorrir mais, falar sobre coisas aleatórias como se fossem interessantes para que eles não se sintam mal, pois sei que eles devem estar pensando que falharam comigo em alguma coisa, e isso não é verdade.


Eu queria poder desfazer a noite de sexta-feira, mas por mais que tenha sido horrível, eu aprendi muito com esse erro. Percebo isso quando recebo a primeira visita desde o instante em que cheguei. Meu pai abre a porta com um semblante que evidencia seu apreço pela pessoa que ele viu através do olho mágico. Dona Ana entra e eu imediatamente sinto uma carga de emoção forte correr nas minhas veias. Me levanto da cadeira onde estava sentada, terminando de tomar um copo generoso de suco de abacaxi. Nos abraçamos por alguns segundos, e isso é o suficiente para que eu volte a me envergonhar da minha atitude, pois estou sendo abraçada pela mulher que perdeu uma filha vítima de latrocínio, o marido que cometeu suicídio, e seu outro filho, que morreu há vinte dias enquanto usava o próprio corpo para proteger à mim e à nossa filha. Essa mulher sofreu muito durante sua vida e ainda está de pé. Isso faz eu querer diminuir até que ninguém me enxergue.

— Eu preferi esperar você chegar aqui para te ver — ela diz ao me soltar e olhar em meus olhos. Eu mal consigo encará-la.

— Aceita tomar um cafezinho com a gente, Dona Ana? — mamãe pergunta.

— Não, querida — ela responde. — Vou conversar um pouco com a Karen primeiro. Obrigada — agradece sorrindo enquanto percebo minha mãe se levantando.

— Tudo bem — diz mamãe devolvendo um sorriso que parece ensaiado. — Nós vamos deixá-las à sós. Fique à vontade, Dona Ana.

Fico um pouco receosa e aflita. Parece que minha mãe pediu à minha sogra para conversar comigo. Será que eu a feri tanto ao ponto dela achar que não tem mais liberdade de me fazer perguntas?

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora