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Era uma vez, uma médica recém-formada e destrambelhada que mal conseguia segurar um bisturi

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Era uma vez, uma médica recém-formada e destrambelhada que mal conseguia segurar um bisturi. Suas mãos tremiam a cada vez que pisava em um centro cirúrgico. Sempre que eu estava na presença dessa médica, sentia vontade de colocá-la em um potinho e levar para minha casa. A achava frágil demais, que era ela quem precisava de socorro em vez dos pacientes e que ela não seria capaz de operar um ser humano. Eu brigava com ela, chamava sua atenção, expulsava das minhas cirurgias. Queria que ela desistisse, pelo seu próprio bem, mas parece que tudo o que eu fiz para que ela caísse em si, teve o efeito contrário. Ela cresceu, criou asas, alçou vôo. A médica incompetente se tornou competente e onde não havia talento, surgiu habilidade, surgiu prática, surgiu uma cirurgiã. Ela ganhou meu coração, por ironia do destino. Com os anos, aprendeu a perder e salvar vidas, mas hoje, essa médica tentou tirar sua própria vida.

Fim.

Organizar esses pensamentos em forma de conto de fadas só está piorando a situação. Não traz nenhum benefício mesmo tentar olhar algo trágico por um ângulo cômico. Isso está me despedaçando por dentro.

Toda vez que me lembro das razões de estar cochilando na recepção de um hospital, sinto uma pontada no peito. Parece mentira e eu realmente queria que fosse.

Meu costume é estar em um hospital na condição de médico. Eu estou sempre sabendo de tudo, mas hoje eu estou igual cego em tiroteio. Talvez o andar inteiro deve estar sabendo que a filha do Olivier Blanchard está internada aqui, mas mantém a máxima descrição e não se vê burburinho algum, em respeito à família.

Antes de pregar os olhos por alguns minutos, ou horas? Já nem sei mais... Bom, liguei para o meu pai e expliquei com detalhes onde estou e o porquê. Mesmo ele e minha mãe estando viajando a trabalho, ficaram sabendo de todo o ocorrido sobre a clínica estar passando por problemas e sendo alvo de boatos. Aquela entrevista com uma funcionária não identificada deve ter alarmado os dois ainda mais. Acho que dá para dizer que eles e os pais da Karen são amigos, já que eles fornecem produtos e equipamentos médicos para a Clínica Blanchard desde que foi inaugurada. Estão em choque tanto quanto eu. Qualquer um que ficar sabendo do que houve vai ficar.

Alguém chamando meu nome me tira dos meus pensamentos.

— Paola — digo ao abraçá-la enquanto noto a presença de seu irmão.

— Ela já acordou?! — Wesley questiona com angústia ao apertarmos as mãos.

— Acho que ainda não — respondo. — Já tentaram ligar para a Dona Heloísa?

— Já, está indo para a caixa postal e não tenho coragem de ligar para o Olivier — Paola diz liberando um suspiro de tensão enquanto nós três nos sentamos. — Por que ela fez isso?!

— Eu não sei... — digo encarando o chão. — Mas acho que perguntar isso à ela só vai atrapalhar. Ela precisa de apoio.

Ambos ficamos em silêncio. Se eles, que são os melhores amigos da Karen não imaginam as razões que a levaram a tomar todos aqueles comprimidos, imagine eu. Acho que isso está além da minha compreensão.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora