Transfiro meus pensamentos para o Douglas. Muito tempo já se passou desde que abrimos o restaurante e ele deve estar com fome. Pode ser que ele ainda esteja recepcionando os clientes, então decido procurá-lo primeiro na entrada. Ainda há pessoas chegando e me parece que hoje, Douglas não tem hora para chegar em casa. Contudo, ele não está mais recepcionando os clientes. Então dou meia volta e passo os olhos por todo o salão. Ele é um cara grande. E por ser a principal atração da noite, estaria rodeado de pessoas. Não vejo nenhum grupo entusiasmado com o Douglas no meio. Ao meu lado, o corrimão da escada brilha me dando a ideia de que talvez ele esteja conferindo se está tudo indo bem no segundo piso, como está aqui embaixo. Lembro que não posso fazer exageros com o joelho, mas quero encontrar o Douglas.
Degrau por degrau, calmamente, chego ao segundo piso tentando controlar minha respiração. Não por cansaço, pois subi devagar. Mas porque estou começando a ficar preocupada. A decoração do segundo andar aberto está ainda mais incrível. O bar que o Douglas tanto quis fazer, deixou o ambiente ainda mais versátil. Só que todo o luxo e beleza desse andar não consegue me acalmar. Não quando sei que muitas pessoas mal intencionadas podem ter entrado aqui como clientes, mas que podem disfarçar sua real intenção.
Ainda tentando afastar meus pensamentos ruins, vasculho o lugar com o olhar, da mesma forma que fiz lá embaixo. E com a mesma frustração, começo a andar em direção à porta que dá acesso à área restrita aos funcionários da administração. Se ele não estiver lá, não sei se vou conseguir continuar fingindo que não estou em pânico.
— Karen! — meu braço é segurado de forma inesperada no mesmo instante em que meu nome é pronunciado. Ergo meu olhar uns dez centímetros acima de mim para me dar conta de quem se trata.
— Vivian?! — sibilo intrigada. O que ela faz aqui? Ainda que eu queira muito saber, não consigo perguntar.
— Onde tá o Douglas?! — indaga de forma ilegível.
— Eu… — tento falar que estou procurando-o, mas ela me entrecorta.
— Toda a corporação tá aqui pra parabenizá-lo por tudo isso — diz ela com os olhos carregados de um brilho que eu nunca imaginei que poderia existir. Pelo menos, não nela.
— Toda a corporação? — pergunto sem conseguir escolher o que quero falar. Apenas não sei o que dizer diante dessa notícia.
Ela olha para algum ponto atrás de mim, então me viro na direção e vejo incontáveis pessoas acenando para nós. Eles não conseguiram mesmo se acomodar em uma única mesa, portanto ocuparam um terço do andar. Aceno de volta sem muita firmeza nas mãos. Pelo menos, se algo aconteceu com o Douglas, já tenho reforços. Afasto mais esse pensamento ridículo e volto a encarar Vivian.
— Eu vou chamá-lo.
Vivian assente. Não consegui abrir o jogo e dizer que não sei onde ele está. Não posso demonstrar fraqueza. Não quando sei que minha fraqueza é ele, e que a fraqueza dele sou eu. Isso é coisa nossa, e eu não vou perder a cabeça até me certificar de que meu desespero é só um resquício do tamanho de uma partícula de poeira de tudo de ruim que já passamos.
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O que restou de um coração Livro 2
Chick-LitMuitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; poderia ter fugido enquanto havia tempo; poderia não ter saído sozinha e ser surpreendida pelo seu pior pesadelo, mas ela tomou as piores decisõ...