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Chegar em casa e ver tudo como deixamos, quase me engana em achar que nada mudou

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Chegar em casa e ver tudo como deixamos, quase me engana em achar que nada mudou. Os coturnos dele estão no chão, ao lado da porta, como se ele tivesse acabado de chegar do trabalho. Como eu queria que fosse verdade... Infelizmente, quando entro no quarto, tudo o que vejo é a cama bagunçada de quando saí às pressas no domingo de manhã. Sento-me à beirada dela e meus olhos batem diretamente no violão pendurado na parede. Automaticamente, dentro da minha imaginação, volto à minha primeira noite com o Douglas. Em uma única noite ele conseguiu mostrar o quão incrível ele era. O amante mais quente quando rasgou o meu vestido para me ver nua, e o homem mais romântico ao tocar "More than words" para mim depois da transa. Só não mostrou seu talento na cozinha porque eu o distraí e o nosso jantar queimou. Seria tão bom poder voltar de verdade àquela noite...


— Karen — chama minha mãe da porta do quarto —, quanto mais tempo você levar, mais doloroso vai ser. — assinto enquanto enxugo minhas lágrimas.

Viemos aqui para buscar algumas roupas minhas e coisas que posso precisar. Meus pais acham melhor que eu passe uns dias lá devido ao repouso que preciso fazer. No fundo eu sei que não é isso. Eles só não querem que eu fique aqui sozinha, embora seja o que eu quero. Minha única vontade é deitar na nossa cama e inspirar o cheiro do Douglas até eu pegar no sono.

Olho para o canto do quarto e vejo minha mala pronta e percebo que não terei muito trabalho. A mala que ele havia me ajudado a arrumar depois que jantamos juntos pela última vez. Acho que eu nunca curti tanto a companhia dele quanto naquele momento. Estávamos sob muita tensão sabendo que o Alejandro estava à solta e que tinha o conhecimento de que alguém, no caso eu, estava ajudando a polícia a encontrá-lo. Foram poucas horas em que conseguimos deixar tudo aquilo de lado. Nosso plano estava traçado. Eu iria para São Paulo ontem à noite enquanto ele ficaria para acompanhar de perto o fim dessa história, ou dar um fim nisso com as próprias mãos. Estávamos esperançosos. Correndo tudo bem, ele pediria a exoneração e deixaríamos esse pesadelo para trás. Nós dois estávamos temendo pela vida um do outro mais que as nossas próprias vidas. Eu temi que algo acontecesse a ele enquanto eu estivesse fora. Algo aconteceu a ele bem debaixo do meu nariz, com seu sangue sendo derramado sobre minha pele.

— Vamos? — meu pai pergunta depois de pegar minha mala. Olho para a porta do banheiro entreaberta.

— Vou apenas lavar o rosto e nós já poderemos ir — respondo e ele assente levando a mala para o carro.

Entro no banheiro e fecho a porta. Eu não vim lavar o rosto.

Pendurada à porta, está a camisa que o Douglas usou para dormir comigo na noite de sábado. Pego-a sem pensar duas vezes e trago o colarinho até meu rosto, como se isso pudesse ser sentido por ele onde quer que esteja. Seu cheiro está aqui tão vivo que faz meu peito acelerar em resposta. Eu estou ciente do quanto isso vai doer e que não vou conseguir preencher este vazio. Se eu pudesse pelo menos cobrir essa ferida, evitaria que meu corpo se enchesse de arrependimento.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora