Minha cabeça está a mil sabendo que a Karen está em trabalho de parto precoce dentro do meu carro, sendo que a bebê está em posição pélvica e eu não consegui avançar mais que cem metros por conta da quantidade de carros que ainda transita no entorno da academia. Sei que ela está tentando não perder o controle, só que ainda não se deu conta de que não tem como impedir que a bebê nasça hoje. A bolsa já está rompida e as dores estão ficando cada vez mais frequentes.
— Qual o intervalo das contrações? — pergunto olhando-a pelo espelho retrovisor.
— Eu não sei — diz ela angustiada e inquieta. — A última parou há... sei lá... oito minutos. Ai — resmunga fechando os olhos. — Está vindo outra.
— Kássia, marca quanto tempo leva entre uma contração e outra, por favor — peço tentando traçar um plano contra o relógio.
Começo a buzinar em vão, pois parece que, para piorar, há um desentendimento entre dois motoristas por causa de uma vaga. Me equivoco e desço do carro a ponto de tirar os carros da minha frente com as minhas próprias mãos.
— Com licença — peço tentando manter a calma. — Tem uma mulher em trabalho de parto dentro do meu carro e a situação é bem delicada. Será que vocês poderiam afastar os veículos para que eu consiga levá-la para o hospital?!
Um dos caras me olha com sangue nos olhos enquanto o outro xinga meia dúzia de palavrões.
— Segura a onda aí, amigo. Estamos resolvendo um negócio aqui — diz o idiota e retoma a discussão com o outro imbecil.
Sinto meu sangue ferver por todas as veias do meu corpo e no momento em que cerro meus punhos, um outro cara com pinta de valentão se aproxima. Parece que uma confusão maior está para começar.
— Cara, o que tá acontecendo? Cadê a Karen? — ele pergunta me deixando perplexo.
— Quem é você?! — indago.
— Agente Vinícius — responde ele colocando o distintivo pendurado em seu pescoço para fora da camisa preta. — Perdemos ela de vista no caminho pra cá.
Respiro fundo. Eu havia esquecido que a Karen está sendo escoltada desde que aquela merda toda aconteceu com ela. Antes que eu responda, um grito agudo é ouvido do meu carro. O agente corre na direção e vou logo em seguida explicando o que está acontecendo.
— Ela tá em trabalho de parto, e eu estava tentando tirar aqueles dois idiotas do meio da rua pra poder levá-la para a emergência.
Sem reagir sobre o que acabei de falar, ele continua andando a passos largos até ver com os próprios olhos.
— Tá tudo bem, doutora? — ele pergunta, porém a Karen está no meio de uma contração e não responde de imediato com palavras, apenas com um grito sofrido.
— Abre caminho pro Daniel me levar pro hospital, pelo amor de Deus! — ela implora quando a dor alivia e imediatamente o valentão se dirige aos dois babacas que ainda discutem.
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O que restou de um coração Livro 2
ChickLitMuitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; poderia ter fugido enquanto havia tempo; poderia não ter saído sozinha e ser surpreendida pelo seu pior pesadelo, mas ela tomou as piores decisõ...