Tantos dias esperando por uma decisão da Marcela, me fizeram querer recuperar o tempo perdido. A noite de ontem havia sido maravilhosa e me fez sentir alívio por ela ter deixado meus sentimentos pela Karen de lado, pois tudo o que eu disse a ela foi sincero e verdadeiro. Com o tempo, o que eu sinto vai dissipar ainda mais até não restar nada.
Eu queria que ela fosse para minha casa direto da clínica, mas ela precisava terminar um trabalho da faculdade, então marquei de buscá-la às oito e meia. O trajeto da minha casa até a dela não leva nem meia hora, mas hoje, logo hoje, está se estendendo por quarenta e cinco. Final de semana, chuva intensa e pista molhada. Péssima combinação. Provavelmente teve algum acidente.
Não faltam pessoas para dar opinião nessa etapa da minha vida. Por mais que eu tente esconder e manter a descrição, meus primos conseguem arrancar qualquer coisa de mim. Fomos criados todos juntos, como irmãos. Nossas mães engravidaram na mesma época e ficaram ainda mais próximas por causa disso. Compartilharam tanto suas experiências que decidiram escolher nomes parecidos para os bebês. Assim nascemos, Daniel, Maxwel, e Gael, só que minha mãe ganhou um brinde e veio a Luana. As pessoas perguntam por que só ela tem o nome diferente, mas não é bem assim. Dona Catarina, com a ajuda das minhas tias Marta e Elisa, deu um nome composto para minha irmã gêmea. Luana Raquel veio ao mundo três minutos depois de mim para compor a geração de nomes combinados estranhamente estranhos.
Retornando à opinião dos meus primos, se eu fosse pela cabeça deles, não estaria entrando de cabeça nesse relacionamento. Na opinião do Gael, que é casado e extremamente apaixonado por sua esposa, um amor não cura outro. Eu detesto que eles saibam que eu amo alguém e não sou correspondido. A culpada disso é a Luana. Sempre que estamos todos juntos em alguma data comemorativa, minha vida desamorosa vira assunto. O Maxwel já diz que eu não devo ficar me lamentando por não ter a mulher que eu quero, porque é melhor estar solteiro e poder ter todas. Nem preciso dizer que é assim que ele leva a vida, isso o resume bem. Ainda bem que eu sou um cara de opinião formada e prefiro fazer as coisas do meu jeito.
O trânsito começa a se reestabelecer aos poucos e eu sigo meu caminho. Metaforicamente, é o que está acontecendo na minha vida. Eu vi na Marcela um meio de seguir em frente e deixar para trás o que não deu certo. Ela não é só um rosto e um corpo bonito. É muito inteligente, madura e de personalidade forte.
Antes mesmo de chegar próximo de sua casa, noto que ela está no portão, com o celular no ouvido. Ela entra em casa, demora uns trinta segundos e retorna, ainda com o celular e sinaliza para que eu me apresse.
Paro o carro já com os vidros abaixados esperando que ela entre logo e me conte o que está havendo.
— Estou tentando te ligar faz um tempão! — ela diz sem tirar o celular do ouvido e nem entra no carro.
Pego o aparelho e vejo as cinco chamadas perdidas dela, três do Olivier e duas do meu pai.
Marcela entra de novo. Pego meu celular e decido ir atrás dela. Assim que entro a vejo em pé encarando a TV e falando ao telefone.
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O que restou de um coração Livro 2
ChickLitMuitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; poderia ter fugido enquanto havia tempo; poderia não ter saído sozinha e ser surpreendida pelo seu pior pesadelo, mas ela tomou as piores decisõ...