Mudanças são sempre exaustivas, no entanto, cada esforço vale a pena. Assim que resolvemos a parte burocrática da compra da casa, liguei para minha mãe dando a notícia e passei meu novo endereço. Não demorou mais que meia hora após o fechamento da clínica e minha mãe apareceu para conferir com os próprios olhos. Ela não só aprovou como ficou muito feliz e emocionada com minha conquista repentina. As lágrimas nos olhos dela expressavam um pouco mais que isso. Acho que ela pensou que eu ficaria com ela até Bia nascer, portanto, preferi me antecipar e deixar claro o porquê de eu ter saído de seu apartamento. Minha mãe entendeu, porém, lamentou muito. É muito triste a forma como a minha estadia no lar dela teve fim, mas uma hora ou outra eu iria precisar ter minha própria casa novamente e agora é o melhor momento.
Quando a noite caiu, todas as minhas coisas já estavam aqui e em seus devidos lugares, faltando apenas arrumar as coisas menores. Animada para estreiar minha casa nova, passei a noite aqui mesmo com a Paola e o Wesley e devo dizer que foi mais divertido do que a tal balada poderia ter sido. Me forçar a sorrir estava sendo algo muito frequente um tempo atrás e acabei ficando surpresa comigo mesma por estar com sorrisos fáceis, sem precisar me obrigar.
O dia hoje amanheceu nublado, mas a ausência do sol não tirou meu ânimo em momento algum. Acordei bem cedo e preparei um café da manhã especial para agradecer a ajuda dos meus amigos e da minha mãe. Os três passaram a noite aqui depois de carregar inúmeras caixas e desembalar tudo e ainda prometeram voltar à noite para me ajudar a terminar de ajeitar as coisas, mas eu estava ansiosa demais para ver tudo organizado e acabei fazendo tudo sozinha, o que é claro, não foi uma boa ideia. Subir e descer a escada diversas vezes me causou uma tremenda dor no joelho direito. Não entendo bem por qual motivo só ele está doendo, mas não posso reclamar. Antes sentir dor no joelho direito do que nos dois.
Depois que almocei, me joguei no sofá e não levantei mais. Meu corpo está bem cansado e isso se soma às dores normais de uma gravidez, que me incomodam bastante. São dores lombares e nas pernas, mas como estou aprendendo a procurar o lado bom de todas as coisas, resolvi tirar proveito da minha incapacidade de levantar e estou olhando através da parede de vidro transparente, admirando o jardim mesmo que mal cuidado. Algumas das plantas precisam ser arrancadas e outras devem ser plantadas em seus lugares. Outras estão em perfeito estado, necessitando apenas de uma poda. Além dos cuidados com as plantas, folhas secas estão espalhadas sobre a grama. Mesmo assim, ainda vejo beleza nesse jardim. É como qualquer coisa que dá errado: se refizermos corrigindo as falhas, ainda pode dar certo. Neste instante, os primeiros pingos de chuva começam a cair, fazendo as folhas verdes balançarem com o impacto. Um clarão enche a sala de luz de forma repentina e eu me preparo para o estrondo, que chega dois segundos depois em algum lugar um pouco ao sul. Os pingos se intensificam e o chuvisco se transforma em uma chuva intensa e linda de ser admirada. Aos poucos, sinto meu corpo adormecer e meus olhos começam a pesar.
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Desperto ainda sonolenta. Confesso que o cansaço me incita a mudar de posição e voltar a dormir aqui mesmo no sofá, porém um som me faz ficar em alerta. É o toque do meu celular. Levanto devagar, não pelo sono, mas está mais difícil ser ágil com o tamanho e peso da minha barriga. Pego o celular na mesa de centro e observo um número de telefone que não conheço.
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O que restou de um coração Livro 2
Chick-LitMuitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; poderia ter fugido enquanto havia tempo; poderia não ter saído sozinha e ser surpreendida pelo seu pior pesadelo, mas ela tomou as piores decisõ...