Eu estava em êxtase assim que Karen e eu transamos. Confesso que, por mim, ela não teria pegado no sono. Queria até que nossa transa tivesse durado mais, mas fiquei com a paranoia de que Bia iria acordar a qualquer momento e teríamos que parar. Na verdade, foi até um golpe de sorte ela não ter acordado, porque barulho, nós fizemos. Então, depois que a Karen tomou um banho, deixei-a descansar.
Finalmente conseguimos nos entender. Ou melhor, ela conseguiu entender que eu estava falando sério quando disse que não iria mais aceitar trabalho nenhum na polícia. Eu já tinha perdido as esperanças de voltarmos, pois não desconfiei em momento algum que ela precisava de uma prova da minha palavra. Apenas sabia que ela precisava de mais do que palavras, portanto estava cumprindo meu papel como pai de Ana Beatriz.
Não precisei pensar se deveria ou não me apresentar à Interpol. Que se foda toda essa operação. Tudo o que eu poderia fazer, já fiz e me orgulho do trabalho honesto que executei. Só que agora, minha operação é estar perto da minha mulher e da minha filha; vê-la crescer e se desenvolver; e dar muitos irmãos à ela. Já perdi muito tempo da vida das duas, inclusive da vida da minha mãe. Que ela esteja descansando em paz com minha irmã e meu pai.
Ouço Bia resmungando no berço e inclino minha cabeça para olhá-la. É, ela acordou e está irritada. Abraço Karen um pouco mais apertado na tentativa de acordá-la. Beijo seu pescoço e nada acontece. Sua respiração está pesada, então concluo que é melhor deixá-la descansar. Levanto da cama com cuidado para não despertá-la, embora acredite que vai ser difícil.
— Shhh, pequenininha... — sussurro para Bia. — Não queremos acordar a mamãe.
Pego-a no colo devagar e tento acalmá-la, mas no fundo, sei que só isso não vai bastar. Não vou chamar a Karen só para dar de mamar à Bia. Vou descer e tentar fazer uma mamadeira. Não deve ser muito difícil. Desço as escadas desejando não ver nenhuma cena constrangedora entre Kássia e Eduardo, mas como minha pequenininha está fazendo um grande alarme sonoro, creio que não corro esse risco.
Kássia se senta no sofá com um olho aberto e outro fechado. Abre um bocejo e coça a cabeça.
— Me ajuda a fazer uma mamadeira pra ela? — peço. — A Karen tá ferrada no sono.
— A Karen?! Ferrada no sono??? — questiona enquanto se levanta e vai em direção à cozinha, junto comigo.
— É... Por quê? — sento em uma cadeira e ajeito Bia em meu colo.
— Porque ela mal dorme — diz pegando a lata de leite e a mamadeira. Aninho Bia para não despertar o Eduardo também. — E quando ela consegue pegar no sono, tem pesadelos e fica se debatendo na cama.
Meu coração se aperta ao imaginá-la revivendo as coisas horríveis que passou. E são muitas. O terror nas mãos do Alejandro, minha falsa e maldita morte, a tentativa de suicídio e depois de homicídio.
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O que restou de um coração Livro 2
Chick-LitMuitas coisas poderiam ter sido evitadas. Karen poderia não ter revelado tudo o que descobriu à polícia; poderia ter fugido enquanto havia tempo; poderia não ter saído sozinha e ser surpreendida pelo seu pior pesadelo, mas ela tomou as piores decisõ...