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É isso

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É isso. Eu estou viva e por mais que a minha realidade seja triste, não posso me trancafiar no apartamento dos meus pais e lamentar isso pelo resto dos meus dias. Vai ter momentos em que eu ainda vou chorar, que ainda vou sentir dor por não ter mais o Douglas comigo, mas preciso me manter de pé, como a Dona Ana fez e faz até hoje. E vou começar agora mesmo.

Mudo minha rota e em vez de voltar para Ipanema, sigo rumo à clínica. Não para ver meus pais, e sim, surpreender a Paola. Infelizmente, eu meio que a deixei de lado para ficar chorando as minhas dores. Sempre que ela vai me visitar, o assunto acaba virando eu. Como estou, se tenho conseguido dormir, se os exames do pré-natal estão bons e etc. Mal pergunto como está seu relacionamento com o Diego ou como está no trabalho. Com sorte, vou chegar perto de seu horário de almoço, assim poderemos bater um papo e quem sabe, depois disso dou uma passada no salão do Wesley e até faço as unhas, ousando usar uma cor bem viva e alegre. Muitas pessoas esperam isso de mim, mas não me sinto mais pressionada a demonstrar que estou superando minha perda, só tenho a sensação de que não preciso provar nada para ninguém, apenas resgatar e manter meus laços com quem eu amo. O resto vai vir no tempo certo, tendo eu lágrimas ou sorrisos no rosto.

Antes de sair do carro, ajusto o espelho do quebra sol para conferir que versão da Karen estou exibindo hoje, depois de devolver a afronta do delegado e me dar conta de que estou relativamente viva. Não gosto do que vejo. Não no sentido de que deveria dar meu rosto ao bisturi e fazer uma plástica, mas no sentido de estar deixando muito evidente o quão estou abatida. Abro o porta-luvas e já encontro o que ia começar a procurar. Um estojo de maquiagem com o básico do básico e dois batons. Um deles, o vermelho mate, era minha salvação quando ia a algum happy hour com meus amigos. O outro, um rosa bem clarinho, servia para o caso de ter esquecido de passar outra cor antes de sair de casa. Vai ser esse mesmo. Espalho o pó compacto com cuidado com o auxílio do pincel, quero que pareça que não estou usando nada e ao mesmo tempo, isso tem que disfarçar minhas olheiras. O blush pêssego ajuda a dar aquela aparência de pessoa super saudável, corada por natureza. Nos olhos, bastante rímel dão um up no olhar e acho que já estou quase bonita. Só falta achar um par de brincos, o que é impossível. Vasculho novamente o porta-luvas. Sombrinha, carregador portátil, documentos do carro, chapinha... Achei! Uma estrela dourada quase do tamanho da palma da minha mão. O único problema é que eu não encontro a outra estrela. Devo ter perdido, mas hoje não me importo. Além do mais, posso jogar meus cabelos sobre parte do rosto, coisa que tenho feito muito ultimamente, e cobrir a orelha nua com eles. Agora sim!

Saio do carro e ligo o alarme. Mesmo estando ainda do outro lado da rua, percebo que os seguranças da clínica já me viram. Robson e Elias. Eu não conversava muito com os dois, além de não haver muito tempo para isso, eu não tinha mesmo o hábito de dar ideia a eles. Várias vezes os flagrei com olhares maliciosos para cima das funcionárias. Como nunca recebi reclamações sobre isso, não chamei a atenção dos dois. Enquanto estivessem apenas olhando para elas, não poderia considerar isso um problema.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora