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Entro no carro, respiro profundamente e penso dez vezes antes de olhar para a porta

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Entro no carro, respiro profundamente e penso dez vezes antes de olhar para a porta. Devagar, me viro na direção mais intimidadora e me deparo com ela fechada. Eu achei que ao sair da casa do Delegado Kepler, o Douglas desistiria dessa loucura e viria atrás de mim. Me contrariando e dilacerando meu peito em milhões de fragmentos, descubro que ele está irredutível.

— O que aconteceu lá, Karen?! — mamãe pergunta vendo meu desapontamento.

— Ele não quer largar essa maldita operação — falo.

Sinto o olhar da minha mãe ferir minha pele por causa da raiva que sente dele. Ela respira fundo e começa a tirar o cinto de segurança, mas eu a seguro a tempo.

— Não, mãe! — peço. — Mesmo contando que a Dona Ana está doente ele não cedeu. — ela se endireita no banco me olhando enquanto cobre a boca com a mão. Depois balança a cabeça em negação. É o que eu estaria fazendo se não estivesse me controlando para não desmoronar. — Ele... está cego, mãe. Mesmo odiando meu pai e não concordando com a atitude dele, numa coisa ele acertou. O Douglas não me ama de verdade. Não mais.

— Eu sinto muito, minha filha — diz ela.

Deixo essas serem as últimas palavras dessa conversa enquanto minha mãe dá partida no carro, contudo, não era o que eu gostaria de ouvir. Basicamente, ela aceitou minha afirmação como se concordasse com ela. Minha mãe concorda que o Douglas não me ama a ponto de deixar a polícia de uma vez. Penso se estava doendo menos quando eu ainda achava que ele estava morto e me condeno por tal pensamento. Se ele voltar como diz que vai, pelo menos Bia vai poder conhecer o pai e ouvir da boca dele o quanto ele foi um herói nos protegendo com o próprio corpo. Em contrapartida, também vai ter que explicar o quão covarde ele foi quando optou por continuar trabalhando para a polícia federal em vez de ficar conosco.

O sinal fecha e o carro para. Na calçada, uma mulher dá a mão à uma menina e começa a atravessar a rua. Isso me lembra que eu preciso me forçar a parar de sofrer por antecipação quando eu tenho coisas reais para pensar. Preciso sair daquele apartamento para não ver mais a cara do meu pai. Tenho que me instalar em algum lugar e começar a preparar o meu cantinho e o da minha filha, mas não sei por onde começar. Minhas economias foram direcionadas ao estúdio de balé da minha irmã uns meses atrás e foi um dinheiro bem utilizado. Só que agora estou sem nenhum tostão para recomeçar minha vida. Talvez eu precise voltar a trabalhar, porém, não vou conseguir vaga em nenhum hospital estando com seis meses de gestação. Eu poderia voltar para a clínica da minha mãe, mas meus motivos para não estar lá, são os mesmos de querer sair do apartamento dela.

Um flash da conversa que tive com o Douglas há poucos minutos me faz ter um sobressalto cardíaco. Ele quer que eu conte a verdade para Dona Ana. Sei que ela precisa saber, tanto quanto eu precisava. O problema é que eu temo que ela fique triste e desapontada com ele, tanto quanto eu estou. Ela vai odiar o meu pai, tanto quanto eu o odeio. E vai chorar muito, tanto quanto eu estou chorando agora.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora