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— Isso não pode ser verdade — falo sentindo como se cada palavra que sai da minha boca, voltasse feito uma espada afiada contra mim

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— Isso não pode ser verdade — falo sentindo como se cada palavra que sai da minha boca, voltasse feito uma espada afiada contra mim.

— Nós fizemos todo o possível — diz meu pai enquanto dá alguns passos em minha direção.

— VOCÊS DEVERIAM TER FEITO MUITO MAIS! — grito me recusando a acreditar que eles fizeram o suficiente.

— Karen... — fala minha mãe fazendo um sinal negativo com a cabeça. Dona Ana chora sem me encarar e meu sentimento de culpa só aumenta.

— O projétil causou uma laceração muito grave na artéria pulmonar — Daniel explica e eu o encaro tentando entender como isso aconteceu. — Nós tentamos de tudo para controlar a hemorragia, mas ele teve complicações.

— O que vocês fizeram para controlar a hemorragia?! — questiono. — Que tipo de complicações ele teve??? — eles se entreolham e em seguida o Daniel abaixa a cabeça.

— Karen — meu pai toma a frente alternando olhares receosos entre Dona Ana e eu —, usamos cinco bolsas de sangue, mas estava sendo inútil. Ele sangrava com mais rapidez do que recebia o sangue e apesar de várias tentativas de ressuscitação, ele não voltou.

Os soluços da minha sogra ecoam pelo quarto e juntando isso à cada palavra do meu pai, minha amargura transcorre em mim em forma de tortura.

Ele sangrou até a morte. A dor em meu peito é grande demais, como se alguém tivesse me aberto um buraco e arrancado meu coração a sangue frio, sem anestesia.

— Eu quero vê-lo! — falo e começo a me descobrir para levantar.

— Não, filha — diz minha mãe ao me impedir de sair da cama. — Você teve um sangramento forte. A obstetra fez uma ultrassom e viu um deslocamento de placenta.

O chute que o Alejandro desferiu na minha barriga! De repente um desespero toma conta de mim.

— Mas... e o bebê??? — pergunto tocando meu ventre com as mãos trêmulas.

— Está bem — diz ela colocando sua mão por cima da minha, ambas tocando minha barriga. — Você só precisa repousar bastante.

Fecho os olhos e respiro fundo me permitindo sentir uma leve onda de alívio. Este bebê é a única parte viva do Douglas que me restou.

— Por quanto tempo eu dormi? — indago olhando a escuridão da noite pela janela e imaginando quanto tempo separou o último suspiro do Douglas do meu despertar.

— Por quase seis horas — Daniel responde olhando o relógio.

A essa hora eu já não posso fazer mais nada. Talvez não pudesse nem se tivesse despertado quando seu coração bateu pela última vez. E isso aconteceu enquanto eu estava sedada, em uma espécie de encontro com ele. Lembro de não ter conseguido ouvir as batidas de seu coração. Posso estar louca, mas para mim, nós tivemos nosso último contato. Ali, ele declarou seus sentimentos por mim, mas nenhum deles era um segredo para mim. A única coisa que martela em minha mente causando uma dor constante, foi ele ter perguntado por quê eu saí de casa. No fundo, eu sei que meu pai, o Daniel e todos que participaram daquela cirurgia, fizeram o melhor pelo Douglas. Eu só não sei se vou suportar viver sem ele. Isso já está sendo difícil para mim, mal consigo imaginar como está sendo para a minha sogra.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora