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Aquelas declarações do delegado me tiraram o pouco do ânimo que consegui reunir em mim

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Aquelas declarações do delegado me tiraram o pouco do ânimo que consegui reunir em mim. Mal consegui me esquivar dos colegas da clínica. A maioria notou o quanto aquilo me abalou e eles se mostraram muito solícitos em me dar um apoio em forma de "vai ficar tudo bem, Karen". Em outras épocas, eu acharia uma frase vazia, mas entendo que não há muito o que fazer, exceto desejar que tudo se resolva.

Acabei voltando para Ipanema logo depois de terminar o almoço com a Paola e o Daniel, mas confesso que se não fosse pelo fato de terem que voltar ao trabalho, eu teria passado a tarde toda na companhia dos dois. Isso me iludiria por um tempo, me fazendo achar que ainda trabalhávamos na emergência do hospital em uma época pós Ygor e pré Douglas. Um período inerte aos acontecimentos mais devastadores possíveis.

Apesar das manchetes sobre a busca que o delegado mencionou terem causado um pequeno alarde, meus pais aprovaram minha visita à clínica. Com poucas palavras eles deixaram isso bem claro e eu reconheço que minhas últimas saídas sozinha tem me feito muito bem. Pensando nisso, resolvi fazer uma visita à Dona Ana, mas desta vez, liguei para perguntar se ela poderia me receber sem que eu atrapalhasse alguma coisa. Fiquei surpresa quando ela disse que estava mesmo querendo conversar comigo.

O trajeto está sendo bem tranquilo. Imitei a oração que as irmãs fizeram antes da ida ao INCA, ou o que consegui lembrar dela. Isso me faz perceber que ninguém passa pela vida de uma pessoa sem deixar algum aprendizado. Seja bom o ruim, tudo serve de lição. E que só venham coisas boas agora, já passei por muitos momentos árduos na minha vida.

O toque do meu celular me põe em alerta. Por estar parada no sinal vermelho, dou uma breve olhada na tela, que exibe o nome "Daniel" me causando um alívio repentino. Por um breve momento, achei que era o delegado querendo insistir naquela maldita proposta. O sinal abre e eu sigo pela via ao som do toque do celular, à procura de um lugar para encostar o carro. Isso não leva mais que quinze segundos.

— Oi, Daniel — atendo.

— Bom dia — diz ele meio hesitante. — Atrapalho?

— Imagina... Está tudo bem?

— Sim... É que... — ele para de falar por um instante, mas retoma em seguida. — Eu estava pensando sobre o que você falou ontem.

— Sobre o que exatamente?! — indago confusa.

— Sobre você ter ido ao Instituto do Câncer... Sobre anular um pouco as suas dores para alegrar as crianças. — fico sem entender por qual motivo ele ficaria pensando nisso.

— Quer visitar as crianças também na próxima vez?!

— Não — diz ele retraído. — Quero dizer, eu iria, mas não é isso que quero falar. É que... são crianças, Karen. Quando elas partirem, isso vai doer em você. Não quero que sofra ainda mais.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora