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Não preciso olhar meu reflexo no espelho para saber que estou com cara de quem viu um fantasma

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Não preciso olhar meu reflexo no espelho para saber que estou com cara de quem viu um fantasma. Ainda estou extasiada, com uma sensação de formigamento por todo o corpo. Ser encurralada em uma estrada deserta no meio da noite e ser alvo de incontáveis tiros, não se compara ao fato de ter ficado frente à frente com o Douglas.

Como assim? — pergunto à mim mesma em pensamento. Meu pai e o Daniel me explicaram que a bala que atingiu o Douglas lacerou a artéria pulmonar causando uma hemorragia que levou o Douglas a óbito. Dona Ana e eu choramos até desidratar e não conseguir permanecer em pé durante o enterro. Eu derramei lágrimas em luto e faço isso até hoje quando estou sozinha. Ele estar vivo é algo impossível, mas eu sei o que eu vi! Será que estou enlouquecendo? Meu carro foi mesmo alvejado comigo dentro?

— Senhora, quer que eu ligue para alguém e peça para vir para cá? — pergunta uma enfermeira. Tento formar palavras, emitir algum tipo de som, mas não consigo. — Está sentindo alguma dor? — nego com a cabeça.

Santo Deus! Tudo bem que depois de tantas coisas que aconteceram, eu deixei de ser a matraca que sempre fui, mas não conseguir nem resmungar é o fim da picada. Tudo em mim parece funcionar mal. Meu raciocínio, meus reflexos e tudo o que é considerado básico virou a tarefa mais difícil do mundo. Ligo para minha mãe sempre sem precisar consultar a agenda, sei o número de cor, o problema é que a única coisa clara na minha mente, é o Douglas vivo a três centímetros do meu rosto.

— Nove... Nove... Nove... Eu estou falando!

— Sim, estou ouvindo — ela responde ao mesmo tempo em que começa a digitar.

— Não, eu estou conseguindo falar agora — digo admirada e ela sorri.

— Um bom começo. São três noves? — pergunta.

— Não sei... Estou tentando lembrar de mais algum número.

A enfermeira me encara com pena. Já estive no lugar dela e sei como é a aflição de querer ajudar alguém desorientado. De repente, a porta da sala de emergência se abre de supetão.

— Daniel! — exclamo involuntariamente ao vê-lo. Se não fosse pelo seu jaleco, eu iria estranhar o fato dele estar aqui no exato momento em que acordei.

— Seus pais estão desesperados atrás de você! — ele diz à medida em que se aproxima de mim. — Já liguei para eles e avisei que está aqui, logo logo vão chegar.

Não sei o que sinto ou o que deveria estar sentindo. O Douglas está vivo e mais uma vez me livrou das mãos de bandidos, mas para isso ter acontecido, alguma coisa não foi bem explicada.

O que restou de um coração Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora