Dias atuais.
Paulo.
-Papai! -Uma voz fina soa longe, remexo-me na cama desejando que isso seja um sonho.
Sinto a cama afundar ao meu lado, e temo que isso seja real. Mãozinhas começam a me empurrar.
-Papai!!! Acorda.
-Vai dormir, Maria.
-Hoje eu começo na nova escolinha papai, você precisa me preparar o café.
Abro os olhos um pouco assustado.
-Que horas são? -Pergunto me sentando.
-Seis e pouquinho!
-Vá tomar banho que vou preparar seu café da manhã. -Falo me levantando.
-Não quero nada natural, quero pão com mortadela. -Ela diz.
-Mas, filha.
-Pai, preciso de apoio, hoje é meu primeiro dia de aula numa escola nova, você precisa me ajudar nisso. -Diz com as mãozinhas na cintura, a cena quase me faz rir, contudo me controlo.
-Tá bom, hoje pode.
-Coxinha também?
-Tá, mas só hoje, amanhã tudo natural!
-Tá, tá, tá! Obrigado papai.
Dito isso a mesma some no corredor indo em direção ao seu quarto.
Troco-me, apenas para ir até a padaria perto do prédio... Quando nos mudamos achei que Maria não iria se adaptar, contudo, não bastou algumas horas e a mesma já reconhecia o novo apartamento como lar. É bom ser criança e não ter certas preocupações, apenas aproveitar o momento, sinto falta disso.
Deixo meus devaneios de lado. Depois que estou vestido passo pelo quarto de Maria avisando-a que estou indo a padaria, e que não era para a mesma sair de casa sem antes que eu retornasse.
Saio ao hall de entrada do andar, caminho até o elevador, pressiono o botão. Bocejo sentindo o sono, e uma leve ansiedade, pois depois que deixar Maria na escola dormirei, isso é fato.
As portas de metais se abrem. Contudo, antes que pudesse adentrar me deparo com uma cena que me surpreende. Laura está encolhida abraçada a suas pernas e seu rosto está tampado pelo cabelo, porém ouço o choro sentido e desesperador que ecoa.
Isso é assustador.
-Laura! -Chamo-a. Mas o choro não é interrompido, e ela ao menos levanta a cabeça. -Laura, por favor, o que houve? Olha pra mim! -Digo aproximando-me dela, puxo seu queixo com delicadeza fazendo-a me fitar.
O que vejo me amedronta, seus olhos estão inchados, seu rosto molhado e a mesma está tão suada que seus cabelos estão colados em suas bochechas. Há uma súplica em seu olhar, algo comparado a desespero, e aos poucos ela parece perder as forças apenas desmaiando.
-Laura, pelo amor de Deus! -Dou alguns tapinhas em seu rosto na intenção de fazê-la voltar, mas nada acontece. -Tá, tá. Pense em algo, Paulo. -Falo para mim mesmo, na intenção de me acalmar.
Minhas mãos estão um pouco trêmulas, e minha garganta seca. Pisco algumas vezes tentando conter o nervosismo que está consumindo minha mente. Respiro fundo. E ignoro as batidas aceleradas de meu coração.
Apoio-a para que a mesma não caia quando a soltar, após me certificar de que está, na medida do possível, segura me posiciono entre as portas de metais.
-MARIA. -Grito-a.
Em poucos segundos minha filha aparece no hall, seus olhos reacem sobre nossa vizinha, e ela parece extremamente assustada.
-Calma. -Começo a dizer. -A Laura só passou mal, o papai vai ajudá-la, mas você precisa me ajuda também, ok? -Ela assente. -Vá até meu quarto, e pega minha carteira e a chave do carro do papai.
Maria assente e sai correndo para dentro de casa. Oh céus, o que vou fazer? Alguém por acaso fez algo á Laura para que estivesse daquela maneira, e por que desmaiou?
Revezo meu olhar entre a porta aberta de meu apartamento, e Laura inconsciente no chão do elevador.
Pouco tempo depois retorna, também correndo, com tudo o que pedi em mãos.
-Posso ir junto? -Pergunta.
-Pode. Entra.-Respondo um pouco exasperado.
Após dar alguns passos estamos os três no elevador, pressiono o botão do subsolo.
-Maria você vai abrir a porta do carro pro papai, tá bom?
-Tá. -Responde com os olhinhos arregalados.
Pego Laura no colo, e as portas se abrem. Maria aperta o botão do alarme e o som logo soa pelo ambiente, e fazendo o que pedi ela abre a porta traseira. Com certa dificuldade consigo colocar Laura deitada no banco, travo ambas as portas para não correr o risco das mesmas abrirem enquanto o carro estiver em movimento.
Como se soubesse da gravidade da situação Maria apenas dá a volta no carro e se senta no banco do passageiro. Faço o mesmo, sentando-me no de motorista.
Acelero pelas ruas movimentadas, devido ao horário.
-Maria, o papai precisa que você fique de olho na Laura, tá bem?
Ela assente, e se vira para fitá-la.
Respiro fundo enquanto me concentro no caminho até o hospital mais próximo. Oh céus, o que aconteceu á esta mulher?
Avisto o hospital, e estaciono na área de emergencia. Alguns enfermeiros que estão do lado de fora percebem a movimentação e se aproximam.
-O que está havendo?
-Eu a encontrei desmaiada no elevador do meu prédio. -Respondo após sair do carro e abrir a porta do passageiro.
-Pegue uma maca! -Um deles grita, e vejo alguns se afastarem em direção ao hospital.
-Sabe se ela tem diabetes, hipertenção, algo do tipo?
-Não sei nada, só sei que ela se chama Laura Gabriela, e tem vinte e seis anos...
-Tá.
O restante da equipe retorna com a maca, e em questão de poucos minutos Laura está deitada na mesma sendo arrastada pelo corredor do hospital, onde sou barrado.
-É melhor o senhor ficar na sala de espera. -Uma das enfermeiras diz, apenas afirmo sabendo que não adianta muito se opor.
Caminho, ao lado de Maria, até a sala de espera. Nos sentamos.
-Papai.
-Hm?
-A Laura vai ficar boa? -Pergunta com os olhos marejados.
-Vai, ela vai sim. -Encaixo minhas mãos em seu rosto. -Ela vai sim, pode ficar tranquila, ela deve ter desmaiado porque não comeu direito. -Falo.
-Ela devia ter comido fruta igual á mim, foi por isso que ela desmaiou, por falta de fruta?
-Sim, foi por isso, meu amor. -Falo puxando-a para mim.
Sei que tudo o que disse não tem ligação nenhuma com o que houve com Laura, mas preciso acalmar minha filha, pelo menos algum de nós precisa estar calmo. Espero que Laura fique boa, realmente, e espero que não tenha sido algo muito grave que a tenha deixado naquele estado aterrorizada no elevador...
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A Noite Que Nos Conhecemos
RomansaObra registrada! Plágio é crime! Laura Gabriela era a típica mulher destemida e com uma auto estima nas alturas, alguns diziam que por seu peso sua auto estima não deveria ser tão intocável como aparentava ser, mas isso não causava nenhum impacto ao...