C a p í t u l o 16

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Dias atuais. 

Paulo. 

-Papai! -Uma voz fina soa longe, remexo-me na cama desejando que isso seja um sonho. 

Sinto a cama afundar ao meu lado, e temo que isso seja real. Mãozinhas começam a me empurrar. 

-Papai!!! Acorda. 

-Vai dormir, Maria. 

-Hoje eu começo na nova escolinha papai, você precisa me preparar o café. 

Abro os olhos um pouco assustado. 

-Que horas são? -Pergunto me sentando. 

-Seis e pouquinho! 

-Vá tomar banho que vou preparar seu café da manhã. -Falo me levantando. 

-Não quero nada natural, quero pão com mortadela. -Ela diz. 

-Mas, filha. 

-Pai, preciso de apoio, hoje é meu primeiro dia de aula numa escola nova, você precisa me ajudar nisso. -Diz com as mãozinhas na cintura, a cena quase me faz rir, contudo me controlo. 

-Tá bom, hoje pode. 

-Coxinha também? 

-Tá, mas só hoje, amanhã tudo natural! 

-Tá, tá, tá! Obrigado papai. 

Dito isso a mesma some  no corredor indo em direção ao seu quarto. 

Troco-me, apenas para ir até a padaria perto do prédio... Quando nos mudamos achei que Maria não iria se adaptar, contudo, não bastou algumas horas e a mesma já reconhecia o novo apartamento como lar. É bom ser criança e não ter certas preocupações, apenas aproveitar o momento, sinto falta disso. 

Deixo meus devaneios de lado. Depois que estou vestido passo pelo quarto de Maria avisando-a que estou indo a padaria, e que não era para a mesma sair de casa sem antes que eu retornasse. 

Saio ao hall de entrada do andar,  caminho até o elevador, pressiono o botão. Bocejo sentindo o sono, e uma leve ansiedade, pois depois que deixar Maria na escola dormirei, isso é fato. 

As portas de metais se abrem. Contudo, antes que pudesse adentrar me deparo com uma cena que me surpreende. Laura está encolhida abraçada a suas pernas e seu rosto está tampado pelo cabelo, porém ouço o choro sentido e desesperador que ecoa. 

Isso é assustador. 

-Laura! -Chamo-a. Mas o choro não é interrompido, e ela ao menos levanta a cabeça. -Laura, por favor, o que houve? Olha pra mim! -Digo aproximando-me dela, puxo seu queixo com delicadeza fazendo-a me fitar. 

O que vejo me amedronta, seus olhos estão inchados, seu rosto molhado e a mesma está tão suada que seus cabelos estão colados em suas bochechas. Há uma súplica em seu olhar, algo comparado a desespero, e aos poucos ela parece perder as forças apenas desmaiando. 

-Laura, pelo amor de Deus! -Dou alguns tapinhas em seu rosto na intenção de fazê-la voltar, mas nada acontece. -Tá, tá. Pense em algo, Paulo. -Falo para mim mesmo, na intenção de me acalmar. 

Minhas mãos estão um pouco trêmulas, e minha garganta seca. Pisco algumas vezes tentando conter o nervosismo que está consumindo minha mente. Respiro fundo. E ignoro as batidas aceleradas de meu coração.

Apoio-a para que a mesma não caia quando a soltar, após me certificar de que está, na medida do possível, segura me posiciono entre as portas de metais. 

-MARIA. -Grito-a.

Em poucos segundos minha filha aparece no hall, seus olhos reacem sobre nossa vizinha, e ela parece extremamente assustada. 

-Calma. -Começo a dizer. -A Laura só passou mal, o papai vai ajudá-la, mas você precisa me ajuda também, ok? -Ela assente. -Vá até meu quarto, e pega minha carteira e a chave do carro do papai. 

Maria assente e sai correndo para dentro de casa. Oh céus, o que vou fazer? Alguém por acaso fez algo á Laura para que estivesse daquela maneira, e por que desmaiou? 

Revezo meu olhar entre a porta aberta de meu apartamento, e Laura inconsciente no chão do elevador. 

Pouco tempo depois retorna, também correndo, com tudo o que pedi em mãos. 

-Posso ir junto? -Pergunta. 

-Pode. Entra.-Respondo um pouco exasperado. 

Após dar alguns passos estamos os três no elevador, pressiono o botão do subsolo. 

-Maria você vai abrir a porta do carro pro papai, tá bom? 

-Tá. -Responde com os olhinhos arregalados. 

Pego Laura no colo, e as portas se abrem. Maria aperta o botão do alarme e o som logo soa pelo ambiente, e fazendo o que pedi ela abre a porta traseira. Com certa dificuldade consigo colocar Laura deitada no banco, travo ambas as portas para não correr o risco das mesmas abrirem enquanto o carro estiver em movimento. 

Como se soubesse da gravidade da situação Maria apenas dá a volta no carro e se senta no banco do passageiro. Faço o mesmo, sentando-me no de motorista. 

Acelero pelas ruas movimentadas, devido ao horário. 

-Maria, o papai precisa que você fique de olho na Laura, tá bem? 

Ela assente, e se vira para fitá-la. 

Respiro fundo enquanto me concentro no caminho até o hospital mais próximo. Oh céus, o que aconteceu á esta mulher? 

Avisto o hospital, e estaciono na área de emergencia. Alguns enfermeiros que estão do lado de fora percebem a movimentação e se aproximam. 

-O que está havendo? 

-Eu a encontrei desmaiada no elevador do meu prédio. -Respondo após sair do carro e abrir a porta do passageiro. 

-Pegue uma maca! -Um deles grita, e vejo alguns se afastarem em direção ao hospital. 

-Sabe se ela tem diabetes, hipertenção, algo do tipo? 

-Não sei nada, só sei que ela se chama Laura Gabriela, e tem vinte e seis anos... 

-Tá. 

O restante da equipe retorna com a maca, e em questão de poucos minutos Laura está deitada na mesma sendo arrastada pelo corredor do hospital, onde sou barrado. 

-É melhor o senhor ficar na sala de espera. -Uma das enfermeiras diz, apenas afirmo sabendo que não adianta muito se opor. 

Caminho, ao lado de Maria, até a sala de espera. Nos sentamos. 

-Papai. 

-Hm? 

-A Laura vai ficar boa? -Pergunta com os olhos marejados. 

-Vai, ela vai sim. -Encaixo minhas mãos em seu rosto. -Ela vai sim, pode ficar tranquila, ela deve ter desmaiado porque não comeu direito. -Falo. 

-Ela devia ter comido fruta igual á mim, foi por isso que ela desmaiou, por falta de fruta? 

-Sim, foi por isso, meu amor. -Falo puxando-a para mim. 

Sei que tudo o que disse não tem ligação nenhuma com o que houve com Laura, mas preciso acalmar minha filha, pelo menos algum de nós precisa estar calmo. Espero que Laura fique boa, realmente, e espero que não tenha sido algo muito grave que a tenha deixado naquele estado aterrorizada no elevador...



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