C a p í t u l o 25

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Paulo Vitor. 

Após um tempo de caminhada chegamos ao meu lugar secreto... Desde minha adolescência venho aqui, no início com amigos, contudo percebi o silêncio e a solitude deste lugar, me sentia em paz aqui e seguro. 

Nos sentamos, e Laura está abismada com a paisagem da cidade iluminada abaixo de nós, além do céu estrelado acima. 

-É incrível. -Diz com um sorriso. 

-Sabia que iria gostar. 

-Obrigada por dividir isso comigo. -Diz fitando-me. 

-De nada. Vai, abre seu lanche. 

Ela começa a desembrulhar, e faço o mesmo. Observo-a dar a primeira mordida. 

-Hmmm, isso tá bom. -Fala com a boca cheia. 

-Eu sei, o purê é feito com requeijão, mandioquinha e batata. 

-Realmente é um gosto peculiar, mas ótimo. 

Sorrio, e mordo meu cachorro quente. 

Comemos tranquilamente, e em silêncio, apenas apreciando a paisagem. 

-Hm, tá o que preciso conhecer da Laura Gabriela para lhe acompanhar? -Pergunto fitando-a. 

-Ah, eu não sei. Acho que primeiramente não gosto muito do meu segundo nome. 

-Por que não? 

-Não sei, só não gosto. -Responde. -E você, as tatuagens, são só pelo momento, ou tem um história? 

Olho meu braço todo preenchido pelas tatuagens, e sorrio lembrando-me de como surgiram. 

-Algumas pelo momento, outras por história. Essa aqui. -Falo apontando para o leão realístico desenhado em meu braço. -É o Leão da Tribo de Judá, fiz com vinte anos, e é uma das minhas preferidas. 

-É muito realística, e linda. -Diz passando os dedos pela área tingida.-E é um ótimo significado. 

-Eu sei, foram treze horas, na primeira sessão, mas valeu a pena. Tem alguma?

-Oh, não. Não gosto da dor da agulha. 

-A primeira eu estranhei, hoje parece até um hobby. -Respondo sorrindo. 

-E qual foi a primeira? 

-Essa aqui. -Aponto para um coração pequeno em meu pulso. -Fiz com a Camila, ela queria que escrevessemos nossos nomes,mas eu era sensato para dizer não, e sugeri um coração. 

-Boa! 

-E você, quem é a Laura? 

-Eu não sei, quer dizer, eu sei... Mas explicar pra alguém é difícil. 

-Como conheceu seu ex-marido? 

-Num encontro arranjado. -Responde me fazendo rir. 

-Parece que você é um pouco viciada em encontros arranjados. 

-Devo ser. -Diz sorrindo. -Hm, eu amo filmes água com açucar, romance clichê mesmo. -Começa a falar fitando-me. -Amo conversas longas pessoalmente, já pelo whatsaap o mais prático que puder ser, serei. Tenho um gosto musical bem eclético, ouço de tudo, minha cor preferida é vermelha... Fiz faculdade de administração, tenho vontade de fazer algum outro curso, mas não tenho tempo vago. Tenho poucos, mas ótimos amigos... Acho que é isso. 

-Tá, minha vez. Gosto de filme de ação, mas sou frequentemente obrigado a assistir desenhos. -Falo, Laura ri. -Sou muito aberto a experimentar novas comidas, e conhecer novos lugares, fiz gastronomia, e uma curiosidade, entrei na faculdade com dezessete e não dezoito. - Sempre amei viajar, já conheci toda a Europa e boa parte do estados unidos, e alguns países da America Latina. Particularmente gosto de rock, mas ouço de tudo, sou rodeado de muitas pessoas, mas poucos que chamo realmente de próximos, uma das minha maoires confidente é uma adolescente de quinze anos que está cuidando da minha filha agora. 

-Uau, muita informação. Posso fazer uma pergunta? 

-Claro. 

-Por que foi tão rude no nosso encontro? 

Desvio meu olhar do seu. 

-Não quero alguém, quer dizer... Parte de mim tem medo de reviver tudo o que vivi com Camila, e tem a Maria, não posso simplesmente colocar mais uma pessoa na vida, preciso ter certeza quando o fizer. 

Ela assente, parece pensativa. 

-Sente algo por seu ex-marido?-Pergunto, Laura me fita surpresa. 

-Ahn, não... Mantenho contato por pura obrigação. 

-Mas você tá procurando alguém, tá pronta pra um relacionamento? 

Ouço-a suspirar, e seu olhar se desvia para a paisagem. 

-Eu não sei, Paulo. As coisas são um pouco mais confusas, e complicadas do que parecem... Acho que querer alguém eu até quero, sabe aquela fase maravilhosa aonde tudo se resume ao outro, e em como ele é maravilhoso? -Assinto. -O frio na barriga, a expectativa, eu quero isso, mas não sei se eu quero a rotina que vem depois, ou eu acho que tenho medo de que quando a primeira fase terminar não reste nem paixão. Não sei se isso faz sentido. 

-Faz, todo sentido. É como a primeira vez que se vai ao mar, é tão empolgante aquela quantidade absurda de água, e todos parecem felizes ao nadar, e então você, mas quando a primeira onda vem você se assusta, e é necessário tomar uma decisão: continuar, ou recurar. 

-É exatamente assim. -Diz tornando a fitar-me. 

Laura é uma mulher extremamente bonita, simpatica, mas no fundo ela parece carregar uma tristeza consigo... Ela parece ter tanto, guardar tanto que não sei até onde ela conseguiria verdadeiramente se abrir. Se permitir. 

Não posso julgá-la, me assemelho muito em alguns aspectos... Mas eu sei que eu estou tentando, e sei que já melhorei muito, e não sou mais quem era... E mesmo não sendo quem eu quero ser, eu sei que progredi. 

Meus olhos se desviam para seus lábios, engulo a seco. Droga, eu preciso apenas acompanhá-la, não me apaixonar por ela. 



A Noite Que Nos ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora