C a p í t u l o 23

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Paulo Victor. 

Retornei ao meu apartamento um pouco mais tarde do previsto, contudo alimentado. Maria está com muito sono, então já a levei até seu quarto, e a deitei. 

-Boa noite, minha menina. -Falo beijando sua bochecha. -Te amo, dorme com Deus. 

-Amém, papai. 

Apago a luz, e encosto um pouco a porta, não a fechando totalmente, pois se acontecer algo preciso ouvi-la. 

Caminho até a cozinha, pego um copo de água e o comprimido de dor muscular. Preciso voltar a treinar, isso é fato. 

Estou sem sono, hoje foi um dia agitado, e uma noite igualmente. Retorno ao meu quarto, troco de roupa colocando uma sunga, e uma bermuda por cima.  

Deixo um celular, que sempre coloco na bolsa de Maria para caso ela acorde e perceba minha ausência possa me ligar. E saio de casa. 

Desço até o térreo, e me direciono até a piscina coberta do prédio, está vazia, algo que aprecio, claro. 

As luzes em tom azul um pouco mais claro dão um aspecto moderno ao ambiente. Tiro minha bermuda deixando no canto, em um cadeira, junto ao meu chinelo. 

Faz tantos anos que fiz natação, contudo toda vez que adentro à água sinto-me completo, está aí mais uma de minhas paixões. Creio que se não fosse pela gastronomia teria rodado o mundo no meio esportivo. 

Mergulho sentindo meu corpo submergir a água morna. Começo a dar algumas braçadas, e reconhecer o espaço que tenho disponível. 

Nado durante um bom tempo, e quando dou por mim já se passara uma hora e meia. Saio da água, pego meus pertences, e assim mesmo de sunga pego o elevador, afinal quem saí as duas e pouco da manhã? Exatamente, ninguém. 

As portas de metais se abrem, e adentro ao hall do meu andar. 

-Oh. -A voz de Laura me faz fitá-la, a mesma está parada rente sua porta me olhando. 

-Está acordada? 

-Sim, não consigo dormir. 

-Por que não? 

-Acho que estou ansiosa, ou algo do tipo... E você, decidiu nadar de madrugada? 

-Estou sem sono, e imaginei que não teria ninguém na piscina. -Respondo, vejo-a assentir. 

Seu semblante é um pouco preocupada, e o fato de eu estar seminu parece não chocá-la mais. 

-Quer conversar? -Pergunto, a mesma desvia seu olhar do chão para mim. 

-Não seria estranho? 

-Não se vamos sair daqui duas semanas. -Respondo fazendo-a rir. 

-Não é um encontro. 

-Somos duas pessoas em uma festa, isso parece um encontro. -Outro sorriso. 

-Acho que tô um pouco confusa. -Diz, seu labios se contraem um pouco. 

-Vem, acho que tem um lugar perfeito para se conversar esta hora da madrugada-Digo caminhando em direção a saída que dá acesso a escada. 

Ouço seus passos atrás de mim, subo alguns lances de escadas, até chegarmos ao terraço. A noite não está tão aberta, contudo há algumas estrelas. 

Sento-me rente a parede, Laura imita meu ato sentando-se ao meu lado. 

-Então... Está confusa. -Começo a dizer. 

-É, acho que é um pouco de medo por saber que verei Marcos, não queria vê-lo. 

-Sinto muito ter ações em comum, sei bem como é isso, meu pai sempre me levava nestes jantares, e eu sempre odiava. -Vejo-a sorri um pouco. 

-É estranho estar me abrindo pra um cara que até então era apenas um chefe estranho que conheci num péssimo encontro arranjado. 

-Aquilo foi horrível, não foi? 

-Com toda certeza. 

-Desculpe, eu sei que fui muito rude, é que não é fácil pensar em relacionamentos quando se tem uma filha de cinco anos. -Falo fitando a paisagem de cima da grande metrópole. 

-Eu imagino, mas Maria é um amor, então não terá problemas com a pessoa com qual se envolver. 

-Maria se adaptaria a um relacionamento muito mais rápido do que eu, isso é fato. Mas acho que não quero nada por agora, só curtir essa etapa da vida dela, e quem sabe voltar a viajar?! 

-Eu te entendo, completamente. Quer dizer, não sou contra um relacionamento agora, mas também não estou a procura de um. Eu só tô indo, sabe? 

-Sim, sei. 

-E a mãe dela, vocês tem um bom relacionamento? 

Respiro fundo. 

-Não sei se posso classificar um relacionamento levando em consideração que não nos vemos desde que Maria completou três meses. 

-O que? -Laura pergunta chocada. 

-A mãe dela decidiu que não queria ser mãe, só que depois do nascimento dela, e foi embora. 

-Tá, me diz que tá brincando. 

-Eu bem que queria, mas na primeira oportunidade Camila foi embora sem olhar pra trás. 

-Uau, e eu achando que minha vida era complicada. -Diz fitando os prédios a sua frente. 

-Na verdade acredito que toda vida é complicada, na sua maneira é claro. Todos nós temos nossas restrições. 

-Como foi criá-la sozinho? 

-Ainda é difícil,  mas quando me dei conta de que teria de enfrentar tudo isso sozinho eu entrei em crise. 

-Seus pais te apoiaram? 

-Sim, na época tinha dezoito anos, e eu nem sabia cuidar de mim direito. Mas meus pais foram essenciais, e minha mãe passou os dois primeiros meses praticamente em casa me ajudando, me ensinando como cuidar de um serzinho tão barulhento quanto aquele. 

-Ela pergunta sobre a mãe? 

-Algumas vezes, acho que no fundo ela já tenha suas teorias... Maria não é tonta, e é incrivelmente inteligente para sua idade, as vezes penso que ela idealizou que a mãe morreu, ou algo do tipo... Não posso julgá-la, mas ainda não tenho a coragem de dizer ' você não tem mãe porque ela não te quis', seria cruel. 

-Eu entendo, completamente. 

-E você, por que se divorciou? 

-Oh,é, me casei com vinte anos... Além de que namoramos por uns quatro anos, então imagina que era um sonho me casar com o primeiro namorado. Se você me perguntar quando as coisas começaram a dar errado não vou saber responder, pois elas apenas mudaram. Sabe, num dia eu era a Laura mulher de um dos maiores empresários de São Paulo, e tal... No outro dia eu era mulher que ficava sozinha na cama esperando ele chegar. 

Fito-a, a mesma meche em suas mãos, provavelmente tentando conter seu nervosismo. 

-Eu comecei a me sentir estranha, um tanto usada. Ele não era mais o homem com que me casei, era apenas um idiota que frequentava minha casa e dormia ao meu lado. Comecei a me sentir mal por ter engordado, e sua falta de comparecimento me deu a entender que ele também não havia gostado nadinha disso, então as coisas apenas foram se tornando intoleráveis, até eu não suportar mais. 

 -Sinto muito que tenha passado por tudo isso. -Falo, seu olhar se encontra ao meu, e um sorriso um tanto fraco toma seus lábios. 

-Tudo bem, se não tivesse passado não poderia ter conversas como esta de madrugada com você apenas de cueca. -Diz me fazendo rir. 

-Qual é, este, senhorita, é o desejo de muitas mulheres... 

-Eu imagino, e me sinto muito honrada. -Dramatiza. 

Torno a fitar a paisagem. 

-Pelo menos, agora eu já sei como agir no evento que iremos. 

-Ah é? 

-Sim, o Marcos irá se arrepender de ter te tratado daquela maneira. 

A Noite Que Nos ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora