C a p í t u l o 34

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Após almoçarmos a mãe de Paulo passou rapidamente para dar um oi, e levar a neta para sua casa. Definitivamente, ela é uma mulher muito gentil e doce.

Diferente da mãe de Marcos, que em toda a possibilidade que tinha deixava claro sua infelicidade frente a escolha do filho. Bem, eu também era infeliz com a escolha, conconrdávamos e eu nem sabia.

Depois que fiquei a sós com Paulo, nos deitamos em sua cama, e o mesmo falava de um filme que havia sido indicado ao Oscar, então decidimos assistir.

Está um dia frio, e por conta do andar onde estamos posso ouvir o barulho do vento lá fora. Encolho-me um pouco.

-Tá com frio?

-Um pouco. -Respondo.

Ele se levanta, abre o guarda roupa embutido e pega uma coberta. Retorna a cama, e se deita ao meu lado nos cobrindo, e me puxando para si.

Pego o controle e pressiono o botão do play, dando início ao filme. Ouço os batimentos cardíacos do homem ao meu lado, e sinto sua respiração, aconchego-me ainda mais em seu abraço apenas apreciando a sensação de tê-lo por perto.

Descobri que além da paixão pela cozinha Paulo também nutre grande interesse por filmes, tem até uma coleção, além de sempre se ater a assistir premiações como o Oscar, entre outras.

É estranho pensar que em alguns aspectos ele parece tão maduro, até mais que eu, e em outros sua alma jovial me lembra da sua verdadeira idade. Acho que como eu ele foi pressionado a amadurecer por determinadas situações.
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-Tá pronta?-A voz de Paulo ecoou pelo quarto.

-Quase.-Respondo terminando de colocar o brinco, assim que termino fito meu reflexo no espelho, uso um vestido bege que é um pouco mais justo no busto, tem uma faixa preta marcando a cintura e dá início a um caimento mais solto que vai até o joelho.

Deixo o closet encontrando Paulo sentado em minha cama, seu olhar percorre todo meu corpo, e não posso negar o calafrio que sobe por minha espinha ao sentir seu olhar.

-Você tá linda. -Diz se levantando.

-Obrigada. -Agradeço dando-lhe um breve beijo. -Vamos?

Ele assente.

Juntos nos direcionamos até o subsolo, adentramos ao seu carro. Paulo logo liga o rádio, e acelera o carro.

O percurso é feito de forma calma, e o ambiente é preenchido pelo som da música "Roll with the punches". Não demoramos muito até chegarmos ao nosso destino, um restaurante extremamente luxuoso.

Acho que estou apaixonada apenas pelo estacionamento deste lugar.

-É de um amigo meu, nós crescemos juntos, e eu sei que a comida é maravilhosa. -Paulo diz atraindo minha atenção a si.

-Ainda não tenho muitas palavras pra dizer sobre isso, apenas uau.

-Te deixar sem palavras é bem difícil, vou levar como algo bom.-Responde me fazendo sorrir.

Descemos do carro, ele entrelaça nossas mãos e caminhamos em direção ao hall de entrada do restaurante que é tomado por uma decoração rústica, me faz lembrar uma fazenda.

-Olá, sejam bem vindos. Vocês fizeram reserva?-A recepcionista, que aparenta ter uns vinte anos, questiona.

-Ah, sim. Eu pedi ao Israel separar uma mesa para nós.

-Oh, o senhor é o Paulo?

-Exatamente.

-Me acompanhe, vou mostrar a mesa de vocês. -Diz sorrindo. Seguimos-a.

A medida que adentramos percebo a decoração atípica do local, é um conceito aberto, o teto é de vidro nos permitindo uma visão ampla do céu, além de ter muito verde, há até uma árvore no centro, onde fica o bar. A iluminação é baixa dando um ar mais romantizado.

-Esta é a mesa, fiquem a vontade. -Ela diz sorrindo, agradecemos.

Paulo afasta uma das cadeiras, e faz um gesto para que eu me sente. O faço, agradecendo com um sorriso, após ele dá a volta na mesa e se senta a minha frente.

-Eu adorei o local, é bem diferente.-Comento.

-Israel é um homem bem natureba, sabe? É apaixonado por aventuras, aliás, ele quem me convenceu a pular de paraquedas. -Diz com um ar nostálgico.

Abro minha boca para comentar, contudo um garçom se aproxima de nossa mesa pronto a anotar nossos pedidos.

-Hm, quero algo especial, peça ao chefe preparar algo. -Paulo diz.

-Você é o Paulo? -O garçom pergunta um pouco surpreso.

-O próprio.

-Nossa, eu admiro muito o seu trabalho, olha você e Israel são grandes inspirações pra mim.

-Quantos anos tem?

-Dezessete.

-Quando terminar a escola se quiser fazer um estágio na minha cozinha será muito bem vindo.

O garoto parece não se aguentar de felicidade, faltou abraçar Paulo que sorri.

-Muito obrigado, de verdade!

-Não há de quê. Agora só não deixe o Israel fazer nenhuma loucura com nosso pratos.

-Pode deixar.

Incrivelmente feliz ele se afasta, deixando-nos a sós.

-Isso deve te motivar. -Comento.

-Com toda certeza, eu não cozinho pelo dinheiro, ou reconhecimento... Não, eu cozinho porque amo o aroma da comida sendo preparada, o modo pelo qual a cozinhamos... Quando era pequeno meu pai me dizia que quando se cozinha se conta a história de uma cultura, de uma família. E realmente, sempre nos lembramos de alguém próximo a nós que cozinhava de tal maneira.

-Isso é verdade, minha avó fazia um baião de dois que nossa, você não acreditaria na delícia que era.

-Exatamente isso. Então, como você está?

-Bem, muito bem. E você?

Paulo tem essa mania de sempre me questionar sobre como me sinto, mesmo tendo passado o dia em sua companhia ainda me pergunta como estou.

-Bem, sempre estou bem com você. -Responde me fazendo sorrir.

-Posso te perguntar uma coisa?

-Até duas. -Responde bebericando a água na taça.

-Não que isso seja insegurança, não é. Mas você se sente confortável estando com alguém mais velha, e fora dos padrões?

Paulo segura minha mão sobre a mesa.

-Laura, você precisa compreender algo, você é linda. E o fato de você ser mais velha só me atribui, afinal você tem mais experiência, sabe como os jovens se gabam de ter ficado com uma mulher mais velha? -Pergunta retoricamente me fazendo rir.-Voce é linda, mas não apenas fisicamente, você é linda porque é você... Ainda acho que as vezes você carrega uma tristeza que não combina nenhum pouco com você.

Fito-o sem saber muito bem o que responder. Quer dizer, eu me sinto bem comigo mesma, mas desde que acontecera tudo com Marcos me questionei, em partes sobre o que Paulo achava de mim, e em partes sobre minha idade. Em alguns momentos me sentia como a mulher que eu era, insegura e com medo. Contudo, sabia que eu poderia ir muito além do que ela foi, então não sei muito bem como responder.

-Acho que as vezes eu me sinto um pouco vazia, mas é normal, não?

-Depende. Meu bem, você precisa compreender que mesmo que eu te diminuísse, ou mesmo se fosse o papa ainda assim você precisa ter a convicção de quem você é. Você é mais do que importante, tanto pra mim, quanto pra si mesma. Minha mãe me disse algo e que vejo como conselho pro resto da vida "se o Autor da existência se preocupa com você, e te ama ninguém pode te dizer o contrário".

Fito-o com um sorriso. Paulo faz com que eu me sinta bem, e este pensamento me faz crer que talvez eu queira passar o resto da minha vida ao seu lado.

A Noite Que Nos ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora