C a p í t u l o 29

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Laura Gabriela. 

Acordei com a claridade contra minhas pálpebras. Pisquei algumas vezes para me acostumar com a mesma. Fito tudo ao meu redor, o quarto parece relativamente organizado. 

Acompanhada por uma dor de cabeça as memórias da noite passada invadem minha mente. 

A forma com que Marcos me encurralou contra a parede do banheiro feminino, dizendo-me que o homem que me acompanhava nunca me veria com amor, ou desejo, que como fora com ele assim seria com qualquer outro. O pior não foi isto, mas sim seu toque. 

Suas mãos percorrendo a extensão do meu corpo, apenas a lembrança me causa arrepios. Engulo a seco. Não sei o que teria acontecido se uma das garçonetes não tivesse adentrado ao banheiro. Quando ele saiu tudo veio a tona. 

Todos os anos em que fui forçada a ter relações com ele, todos os momentos em que fui diminuida por minha aparência, quando fui rebaixada a mero sexo, quando na verdade era esposa dele. Tudo veio a tona rápido demais. E quando dei por mim estava em prantos. A essa altura já estava só no banheiro, apenas sendo consumida por minhas angústias. 

Quando Paulo entrou senti parte do alívio, mas então tive o relapso de que talvez Marcos estivesse certo, e no fim eu seria novamente rebaixada a sexo por um homem diferente. 

Contudo, me permiti ser guiada, e não esperava que o mesmo adentrasse em meu apartamento comigo, muito menos que me ouviria, ou afagaria minhas costas na minha crise de choro. Sinto-me envergonhada, mas parte de mim está infinitamente grata por não ter ficado só. 

Um barulho semelhante à um ronco me chama a atenção. Na cama estou só, engatinhando chego ao outro lado da cama e vejo um colchão no chão e Paulo dormindo tranquilamente. 

Ele ficou. 

Não sei dizer até onde isso é bom, levando em consideração que ele é o primeiro a quem contei tudo além de minha psicologa e Pat. Eu deveria ir embora? 

Da sua própria casa?  

Tá, isso foi ridículo. Mas, não quero o ver, não cosnciente, e muito menos conversar. Talvez suas palavras sobre estar apaixonado por mim fossem apenas para me acalmar, e não realmente verdade. Porém se isso for realidade, Marcos estará certo, sobre tudo. 

-Você acordou. -Sua voz rouca me faz sair de meus devaneios. 

-Uhumm. -Restrito-me a dizer. 

-Como está se sentindo? 

-Envergonhada seria uma boa resposta. 

-Por que se sentiria assim? -Pergunta sentando-se. 

-Não deveria ter te envolvido nisso tudo, e no fim você passou por coisas desnecessárias. 

-Saber sobre você nunca foi desnecessário. E Laura, acredite em mim eu faria muitas coisas, menos ir embora. 

-Oh céus, onde está sua filha?-Pergunto preocupada. 

-Tá com a babá. Não iria te deixar sozinha. 

-Então você lembra de tudo o que eu te falei? 

-Lembro, e primeiramente, sinto muito por ter passado por tudo aquilo. 

-Eu que não deveria ter te envolvido. 

-Você não entendeu. -Diz sentando-se agora ao meu lado. -Você não tem culpa, de absolutamente nada... Você foi vítima, e não deve se sentir culpada, e muito menos insuficiente. Porque você é muito, muito linda, muito especial, muito carismática, muito inteligente, você é muito pra um moleque que é pouco homem como o Marcos. Eu odeio tudo o que ele fez com você, mas eu amo o fato de que você está livre, mesmo que ainda apenas fisicamente dele... O psicológico a gente trabalha com o tempo. 

-Não me acha estranha, ou sei lá... Quer dizer, ontem você disse que estava apaixonado por mim, o que isso significa? 

-Que estou, perdidamente, apaixonado pela mulher incrível que você é. Não se prenda a mentiras contadas por um homem, mas foque no que realmente importa, Laura. Tá, um homem te fez acreditar em coisas horríveis sobre você mesma, mas o Criador te chama de filha, isso precisa valer mais do que meras palavras humanas. -Diz fitando-me. 

-Mas e se as palavras dele forem mais forte? -Pergunto sentindo minha voz embargar. Droga. 

-Então, nós vamos passar novamente por todo o processo, e no fim você irá repetir a si mesma que é amada pelo o Autor da existência. É um processo, Laura. Eles nos formam, mesmo que dolorosos estamos falando da nossa história e ela é única. 

-Realmente me acha atraente? 

-A mulher mais linda que eu já conheci, você linda em todos os aspectos... E é isso que me encanta em você. Essa tristeza não combina com você. 

-Se Deus realmente me ama, por que Ele deixou que eu vivesse tudo isso? -Pergunto sentindo uma lágrima escorrer, lembro-me de meus pais dizerem o quão amoroso Deus é, mas então por que Ele permitiria algo deste tipo? 

-Marcos não ama a si mesmo como ele poderia te amar? Ele fez as escolhas erradas, e descontou com você, mas Deus te ama ao ponto de te dar forças, e colocar pessoas em sua vida pra te auxiliar a passar por tudo isso. Ele te liberta, não precisa ser presa ao Marcos, ou a qualquer outro homem ou situação. 

-Como pode ter tanta convicção disso? 

-Porque Camila foi embora, me deixou com uma criança recém nascida e eu me questionava como é que raios uma mãe abre mão da própria filha, e eu pensei muitas coisas no início... Pensei que isso seria algum castigo divino por não ter feito as coisas no tempo certo, ou algo do tipo, mas foram minhas escolhas, e foi escolha da Camila ir embora... Maria no fim foi uma presente exepcional, lindo. E eu não me vejo sem ela, Deus faz com que nós possamos passar por determinas circunstâncias para vermos que na realidade os planos Dele são melhores do que os nossos. 

Fito-o. 

-Acha que Deus sabia que tudo isso iria acontecer e mesmo assim não interviu?

-Ele respeita nossas escolhas, e você escolheu ser livre do Marcos, e tenho certeza que Ele ficou feliz em saber que você estava caminhando para algo com perspectivas melhores do que a vida ao lado de alguém que te mata aos poucos. 

-Acha que eu ainda tenho jeito? 

-Eu tenho certeza, absoluta. Vamos caminhar juntos, tá bom? Eu, você e o Autor da vida. 

-Tá. Eu acho que quero tentar isso. -Respondo com um sorriso tomando meus lábios. 

A Noite Que Nos ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora