C a p í t u l o 19

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Paulo Vitor. 

Coloco as coisas que acabei de comprar na padaria aqui perto na bancada da cozinha. Coxinha, faz tantos anos que não tomo café da manhã de salgado frito, acho que fazia isso quando era mais novo, e não era o exemplo essencial para nenhum pequenino ser, mas com a vinda de Maria, e minha paixão pela gastronomia a alimentação se tornara algo regrado, e saudável.  Contudo, minha filha tem apenas cinco anos e passará pelas mesmas etapas que passei.  Acho que apenas quero protegê-la. 

-Você comprou coxinha, papai! -Sua voz soa me tirando de meus devaneios. 

-Sim, você me pediu apoio moral, e terá. -Respondo vendo-a sorrir. 

Com certa dificuldade ela se senta, e desembrulha o salgado. Pego uma latinha de refrigerante na geladeira e deixo-a, já aberta, em cima da mesa ao seu lado. 

-Hmmm, é muito bom isso! Poderíamos comer isso todos os dias. -Diz com certa dificuldade por estar com a boca cheia. 

-Uhumm, vai pensando nisso mocinha...

-Estou feliz pra ir na escolinha. 

-E eu por esta nova etapa em sua vida. -Falo fitando-a, Maria está crescendo rápido demais, e não estou preparado pra sua pré adolescência, e muito menos pra adolescência em si! 

-Papai, o que é menstulação? 

-Oi? 

-A tia sara falou que não podia ir pra piscina ontem porque tava menstulada, o que é isso? 

Pirragueio. 

 -É, menstruação é quando... É, quer dizer... Eu acho que...

-Você não sabe? 

-E-eu acho que de uma forma que você possa entender é quando uma mulher fica... Hm... -Como explico isso? -É quando uma mulher não engravida e os óvulos saem, porque não foi criado um bebê ali. 

-E esses ovuvos saí por onde? 

Fecho meus olhos. 

-Hãm, pela, quer dizer, as vezes não. 

-Papai, não estou entendendo. 

-Pela sua periquita, filha. -Respondo de olhos fechados. 

-Eca! Não quero que isso saia de mim, por que precisa sair de mim? 

-Calma, Maria. Isso só acontece muito tempo depois. -Falo tentando acalmá-la e me acalmar. 

-Mas você disse que saí por minha periquita! 

-Ah, o que eu inventei? -Murmuro a mim mesmo. 

-Hein, papai? 

O som da campanhia me salva. 

-Eu já respondo. 

Caminho até a porta, abrindo-a. 

-Oi. -Sara me cumprimenta sorridente. 

-Graças à Deus. 

-O que houve? 

-Vá a cozinha e explica à Maria o porque da menstruação sair pela periquita dela, e quando isso vai acontecer! -Digo sério. 

-Que papo legal para o café da manhã. -Diz rindo se direcionando á cozinha. 

-Tia o papai se enrolou todo pra me explicar, mas não me explicou o porquê disso sair de mim! -Ouço minha filha dizer ao ver minha irmã. 

-Querida, você se preocupará com isso daqui uns dez anos, mas é só sangue e isso significa que você não está gravida, ou seja os óvulos que estavam no seu útero não se transformaram em um neném, simples. 

Adentro a cozinha. 

-Ah, então se isso não acontecer significa que tenho um neném em minha barriga? 

-Sim. -Sara responde, e me fita com aquele olhar 'simples assim'. 

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-Você é o pai mais babão que eu conheço. 

Apenas sorrio, pois realmente sou. Estou fitando Maria adentrar a escola já com uma coleguinha. Ela parece tão animada, e feliz, contudo meu coração se apertou um pouco ao deixá-la ir. 

-Ela já entrou. 

-Me deixa viver essa dor. -Digo caminhando de volta ao carro. -O que veio fazer aqui pela manhã? 

-Te dar apoio moral, se não fosse por minha presença você estaria se afogando nas próprias lágrimas, que eu sei. -Ela diz colocando o cinto. 

-Uhumm, sei. 

-Vou viajar amanhã pra Aruba e me encontrar com meu marido. 

-Vocês mau se veem. -Respondo ligando, e acelerando pelas ruas paulistas. 

-Gustavo viaja pra todo lugar a trabalho, e quando tempo um tempo pra nós é sensacional. E sabe que amo sentir saudade, o meu lema é 'melhor sentir saudade do que não sentir nada'. E você, não acha que está na hora de uma mulher na sua vida? 

-Ah, não vamos começar com isso, estou bem e tenho Maria, pronto. 

-A Camila não vai voltar. 

-E o que te leva a pensar que ainda a quero? Só eu sei o que passei, Sara. Só eu, e Deus. Você não tem noção do que vivi, quero muito que ela se refaça, mas não a quero na minha vida, e muito menos na vida da minha filha. 

-Apenas acho que você precisa de uma companheira, e que Maria também se sentiria melhor se tivesse com quem conversar sobre coisas como menstruação, ou meninos. E eu sei que ela só tem cinco anos, mas daqui  a pouco ela tá com quinze levando o namorado pra te conhecer. 

-Ah, mas nem pense nisso. -Falo negando. 

-Paulo, não vamos discutir isso, mas compreende o lado que estou lhe apresentando? 

-Ela só tem cinco anos, e eu tenho apenas vinte e três, não vamos fazer uma tempestade num copo d'água? Talvez encontre alguém daqui um tempo, mas agora não quero um relacionamento, e você sabe disso. 

Ouço-a suspirar. 

-Tá bom. Tudo bem. Pode me levar ao aeroporto? 

-Claro. 

O restante do percurso fora feito em silêncio, sei que minha irmã se preocupa comigo, e que seu jeito a faça exceder certos limites... Mas não quero um relacionamento, e estou bem do jeito que estou, me dedicando ao trabalho e à Maria. 

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A Noite Que Nos ConhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora