Capítulo III

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          Claire olhava para seu pai com a boca ligeiramente aberta, uma xícara de café intocada e fria a sua frente e uma expressão de incredulidade no rosto. Fazia uns quarenta minutos que seu pai estava sentado na sua frente explicando a razão de sua visita e o porquê queria carregá-la às pressas para Nova York.

          Martin simplesmente queria fundir a Martin Games e criar uma nova empresa e queria que ela, sua filha assumisse um cargo de direção na empresa. Ele queria fundir a empresa com nada mais nada menos que a Harris Tecnologia. Uma das futuras multinacionais no ramo da tecnologia e softwares que pertencia a seu melhor amigo James.

          Dizer que Martin e James eram amigos era pouco, eles eram irmãos. Estiveram presentes   na vida um do outro desde sempre, compartilharam momentos bons e ruins e com as empresas não foi diferente. Não era segredo para Claire que os dois participaram ativamente da criação, desenvolvimento e crescimento da empresa um do outro. Eles sabiam tudo da empresa um do outro tanto quanto sabiam da própria e ela sempre se perguntara porque eles não fundaram uma única empresa juntos, como sócios. E agora, eles queriam fazer isso, só que com 20 anos de atraso. Isso era loucura!

          Claire conhecia a família Harris desde que se entendia por gente, bom, pelo menos James, sua falecida esposa Heloísa e Grace, mãe de James. Mas ela não podia dizer o mesmo a respeito do filho Ethan. Ele era um ano mais velho que ela e sempre estiveram presentes na vida um do outro, frequentavam a casa um do outro, nas festas de aniversário, nos almoços de domingo, estudavam na mesma escola, afinal, por conta da amizade de seus pais as famílias acabaram criando um forte vínculo.

          Quando ela e Ethan foram crescendo e atingiram a adolescência as coisas mudaram. Ele acabou se tornando um rapaz muito bonito e atraente, do tipo que chamava a atenção de todas as meninas da escola. Aparentemente ele tinha completa consciência do que despertava nas meninas, pois logo sua fama de pegador e conquistador barato tomou conta da escola. E depois de todos aqueles anos frequentando a casa um do outro, ele simplesmente parou de cumprimentar Claire. O fim da picada foi no funeral de sua mãe, quando ela se aproximou para lhe cumprimentar e ele a ignorou, na frente de todo mundo. Depois disso, ela passou a fugir dos encontros das duas famílias, logo se formou e se mudou para Londres e nunca mais o viu. E agora, seu pai estava ali na sua frente, lhe dizendo que fundiria as empresas e que os dois iriam estar à frente da nova empresa. Ele só podia estar ficando louco.

          - Diga alguma coisa minha filha. – pediu Martin.

          - O senhor só pode ter perdido o juízo! – Claire disse alterando a voz e se levantando de uma vez só – De onde o senhor e o James tiraram essa ideia maluca? Eu sempre achei que vocês deveriam ter sido sócios, criado uma empresa juntos, mas há vinte anos atrás, não agora! Colocar a perder duas empresas totalmente estruturadas e instaladas no mercado!

          - Minha filha, eu te amo, mas não admito que você eleve a sua voz para mim.

          Claire soltou o ar que não tinha percebido que estava prendendo. Ela se largou na cadeira, passou as mãos pelo rosto e olhou para o pai.

          - Desculpa pai, mas o senhor há de concordar comigo que isso é uma coisa... uma coisa... quer saber, não tenho nem palavras. De onde saiu essa ideia?

          - Bom, eu trouxe uma série de análises, gráficos e pesquisa de mercado que mostram a possibilidade dessa parceria dar certo. Você sempre soube que meu sonho era fazer essa empresa crescer e expandir, montar essa filial aqui em Londres foi uma tentativa de fazer isso e também um teste para você.

          - Um teste?

          - Sim, eu queria saber se você seria capaz de ficar a frente de algo por si só, sem a minha interferência e você se saiu extremamente bem.

          - Mas o que vai ser dessa filial, das pessoas que trabalham aqui, serão colocadas no olho da rua? Só porque você queria me testar? Isso não é justo pai.

          - Nós não decidimos o que fazer com essa filial ainda, filha, mas para o que estamos planejando, é provável que precisemos de profissionais confiáveis em Nova York. É aí que entra a Chloe, quero que ela vá para lá trabalhar conosco, e inclusive quero que ela vá até Nova York para dar a opinião dela sobre tudo isso.

          - E por que a Chloe?

          - Primeiro, porque vocês são unha e carne, sinceramente não vejo vocês duas separas e segundo, porque ela é uma excelente profissional. Embora seja formada em artes, tenho quase certeza que o que ela realmente quer é trabalhar com programação e animação, não somente com os desenhos, estou certo?

           - Sim pai, como sempre, o senhor está certo – Claire suspirou – Acho que não tenho escolha, tenho?

          - Bom, nós sempre temos uma escolha filha, mas eu te peço que venha comigo a essa reunião na segunda feira em Londres, os acionistas estarão lá, e vamos apresentar o projeto, bem como dar um tempo para votação. Acredito que os diretores da Harris estarão lá também já que também votam. E olhe pelo lado bom, você vai poder tirar umas mini férias, ver sua mãe e sua irmã. Mia está de volta a Nova York.

          O olhar dela se iluminou, não via a irmã a tempos.

          - Tudo bem então pai, vamos lá, ouvir o que vocês têm a dizer.

Um acordo entre velhos amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora