Victória 🌴
- Dá pra me explicar o que está acontecendo? - falei pra minha mãe.
Ainda estava na casa do MT, meu pai chegou aqui junto com um tal de TH e eles começaram a conversar sobre o tempo que havia passado e eu, não estava entendendo absolutamente nada e pelo visto, MT também.
- É uma longa história. - minha mãe respondeu.
- Eu quero que me conte, eu não estou entendendo nada. - murmurei e ela me olhou.
- Quando eu era mais nova decidi vir conhecer um baile de favela, eu e seu pai éramos novos e gostávamos de festas. - disse me encarando. - Num desses bailes eu conheci a Duda e o TH, e no mesmo dia eu descobri que estava grávida de você. Começamos a ficar próximas e desde quando você estava na minha barriga, o Mateus já dizia o quanto estava feliz em ter uma amiga.
- Mateus? - perguntei.
- É Victória, o Mateus. O menino que está lá embaixo. - disse me fazendo engolir seco. - Cada dia que passava ficávamos próximas e eu adorava subir o morro, mesmo com todos os problemas aqui é um ótimo lugar. A primeira vez que você chutou foi aqui, quando eu descobri que estava grávida foi aqui. Você sempre teve uma ligação com esse lugar. - disse suspirando. - Aí você nasceu, eu continuei te trazendo aqui, não com a mesma frequência, mas trazia. Você basicamente cresceu aqui e adorava esse lugar mais do que qualquer pessoa, você e o Mateus faziam a festa e estavam sempre juntos.
Todas essas coisas, não podiam ser verdade...
- Vocês tinham uma ligação desde sempre, todos aqueles grafites espalhados pelas paredes daqui. - me encarou. - É você e ele. Eu amava a conexão de vocês, mas eu tive que cortar ela quando teve uma invasão. Você podia ter morrido, eu quase morri e eu não queria mais te por em risco. Então eu decidi que não pisaria mais aqui e que te deixaria longe de todo mal.
- Por que nunca me disse? - perguntei limpando as lágrimas.
- Eu tinha medo de acontecer algo com você, tinha medo de você gostar desse lugar e querer vir viver aqui, eu tinha medo de te perder, Victória. Mas eu não posso impedir de fazer suas escolhas, você já é adulta e já decide pela sua vida, mas eu tenho medo de você vir pro lugar que você sempre pertenceu.
- Eu sempre confiei em você, te contava todas as coisas e nunca escondi nada. - falei chorosa. - Você sabia que isso era importante e não me disse, me deixou descobrir sozinha. Você escondeu uma das melhores partes da minha vida...
- Me desculpa, eu só queria te proteger... - ela me olhou triste e eu neguei. - Foi muito difícil pra mim também.
- Eu posso estar sendo egoísta, mas preferia que você tivesse me contado. - falei com falta de ar. - Eu preciso pensar...
Desci as escadas daquela casa que eu mal conhecia e passei pela sala, os olhares vieram em mim.
Eu estava me sentindo sufocada naquele lugar, minha própria mãe escondeu uma parte da minha vida, uma das partes que eu mais fui feliz.
Eu precisava respirar, pensar e chorar, eu precisava ser forte.
Comecei a caminhar por aquele lugar e de longe pude ver uma praça onde alguns meninos jogavam futebol. Sentei numa parte mais escura dali e comecei a chorar, como se eu fosse uma criança perdida.
Eu estava agoniada, com falta de ar e sentia que eu podia desmaiar a qualquer segundo.
Como ela pode esconder algo de mim, por todo esse tempo?
Eu sei que ela fez isso pra me proteger, a minha mãe sempre faz as coisas pra minha proteção. Mas eu ficaria longe daqui se ela tivesse me falado tudo isso antes.
Observei os meninos jogarem bola e olhei a minha volta, vendo a parede cheia de grafites.
Eu estava em todos, tudo ali estava me causando arrepios, era como se aquele lugar me completasse mas ao mesmo tempo me assustasse.
Parecia que agora tudo havia se encaixado, era como se uma parte de mim voltasse a viver novamente.
Ao mesmo tempo que eu estava feliz, eu estava com medo, medo do que mudaria a partir de agora.
- Ei, Victoria. - olhei pro lado vendo o Mateus, era tão estranho saber o nome dele.
- Mateus... - murmurei e ele me encarou.
- Como tu tá? - perguntou e eu o olhei.
- Você já sabe? - perguntei e ele assentiu.
- Me contaram por cima, mas eu sempre soube que já te conhecia de algum lugar. - respondeu e eu sorri.
- É estranho.
- O que? - perguntou.
- Saber que na verdade a gente sempre se conheceu, só não lembrávamos quem éramos. - falei e ele riu fraco.
- A vida é uma montanha russa. - disse. - O que achou dos grafites?
- São... é... lindos. - respondi. - Nunca imaginei que poderia ser eu.
- Nem eu. - riu. - Então, nunca mais vai vir num baile?
- Eu não, sou muito nova pra morrer. - respondi e ele riu.
- Vamo comigo. - disse. - Ta comigo tá com Deus.
- Ah, beleza. - respondi rindo.
- Valeu por não deixar nada demais acontecer com a Júlia. - ele disse e eu o encarei.
- Ela é minha amiga... - respondi e ele me olhou.
Aqueles olhos observaram cada parte do meu rosto e eu pude ver um sorriso nascer em seu rosto.
- Que foi? - perguntei séria. - Para de me olhar assim.
- Caralho Victória, por que tão linda? - disse me olhando e eu senti meu rosto esquentar.
- Mateus... - falei sentindo suas mãos tocarem meu pescoço.
- Oi? - disse se aproximando.
- A gente não pode fazer isso. - murmurei sentindo ele distribuir beijos pelo meu pescoço.
- Por que não? - perguntou me olhando próximo demais.
- Porque isso é um erro. - falei sentindo ele se aproximar.
- Um erro muito gostoso, não acha? - disse roçando seus lábios nos meus. - O que acha da gente errar junto?
Sorri e ele atacou meus lábios, era um beijo com milhares de sensações, sensações que eu nunca havia sentido antes...
Mas tinha certeza que queria sentir mais vezes...
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A praia do amor II
RomanceCaminhos diferentes e amores proibidos. Segunda temporada de A praia do amor.