Vinte e sete.

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Alícia 🐞

Fechei os olhos e lembrei mais uma vez dele, e toda aquela dor no peito voltou. Era assim todos os dias. 

Eu do nada lembrava do Bernardo e uma dor no meu peito aparecia, as vezes parecia que eu ia morrer. 

Senti lágrimas escorrerem pelos meus olhos e fiquei com raiva de mim mesma, por estar chorando.

Desde aquele dia tudo havia mudado, eu basicamente não sentia nada e quando eu sentia... Era forte demais, machucava e doía demais. E eu não aguentava mais isso. 

Eu quase não saía do quarto, evitava conversar e ficar perto de outras pessoas além de mim mesma. Eu só queria ele, eu só precisava dele, porque eu achava que só ele poderia me deixar bem. 

Mas aí eu lembro, ele é um dos motivos pra eu estar assim. E isso me machuca.

Por que, quem iria me ajudar agora? 

Eu sentia que já não tinha mais ninguém ou que iriam me abandonar, como todo mundo.

- Alícia? - ouvi minha mãe bater na porta que estava trancada e limpei as lágrimas rapidamente. - Abre essa porta, por favor. Eu sou sua mãe, fala comigo. 

- Oi, mãe, eu tô bem. - falei sem abrir a porta ou ao menos me levantar. 

- Alícia, eu sei que não. - ela disse suspirando. - Por favor, me ajuda a te ajudar. 

Eu amava a minha mãe mais que qualquer coisa no mundo, ela é a pessoa da qual eu admirava e sentia orgulho, mesmo com todo o passado bagunçado dela. 

Mas eu nunca havia conversado com ela sobre garotos, afinal, eu nunca havia tido esse problema.

- Espera. - murmurei me levantando com o pouco de força que eu tinha e abri a porta, vendo ela me olhar preocupada. 

- Meu amor, me diz o que tá acontecendo. - caminhou até mim e me abraçou fortemente. - Por favor, Alícia, conversa comigo.  

- Não é nada, eu estou bem. - falei retribuindo o abraço. 

- Eu te conheço, não adianta mentir. - disse segurando meu rosto e eu desviei o olhar. 

- Por favor, mãe. - respondi sentindo meus olhos arderem e ela me olhar. - Eu só quero ficar sozinha. 

- Mas você não vai, eu não vou sair do seu lado. - ela disse e eu me soltei me jogando na cama. 

- Vai sim, todo mundo saí do meu lado. - falei não aguentando mais segurar as lágrimas e senti ela acariciar as minhas costas. 

- Eu nunca vou sair do seu lado, não importa o que você fez ou deixou de fazer... - disse apoiando minha cabeça no seu colo. - Eu vou estar sempre aqui pra você, sempre. 

- Obrigada. - falei soluçando e ela começou a fazer cafuné na minha cabeça, me deixando confortável. 

- Quer conversar? - perguntou e eu assenti.

- Eu não sei como falar, eu acho que não consigo. - falei e ela beijou minha testa. 

- Você consegue tudo. - disse dando um sorriso fraco e eu suspirei. 

- Você já teve problemas com meninos ou com o papai? - perguntei. 

- Esse era os maiores problemas que eu tinha no ensino médio. - disse dando um risinho. - E quem é o menino, que eu já quero ter uma boa conversinha com ele. 

- Não é ninguém, mãe. - falei rindo. - Eu gosto dele, na verdade, eu gosto muito dele e eu achava que ele sentia a mesma coisa, mas pelo visto, ele só me enganou. 

- Na verdade, ele deve estar se enganando. - disse. - Porque você é tão extraordinária e ele não sabe lidar com isso. 

- Mãe, eu sou tão chata que ele não aguentou isso. - falei rindo de nervoso e ela negou. 

- Você é maravilhosa, tanto por dentro quanto por fora. - respondeu. - Alícia, se esse menino não corresponde a você, segue a sua vida. Não adianta você ficar chorando pelos cantos, isso não vai trazer ele de volta, muito menos a sua felicidade. Você tem que perceber que você é perfeita e não precisa de homem nenhum ao seu lado pra ser feliz, você consegue isso sozinha, só tem que perceber. 

- Mas eu queria muito ele. - fiz bico. 

- Eu também queria muito uma pessoa na minha vida, uma pessoa que eu achava que amava. - disse. - Mas eu percebi que eu só queria alguém que fizesse feliz, quando eu deveria ser feliz sozinha. 

- E o papai? 

- Seu pai foi um presente na minha vida, um presente que eu não merecia. - suspirou com os olhos marejados. - Mas um presente que eu tento merecer a cada dia. 

- Eu só queria alguém comigo. - falei tristinha. 

- Você tem a mim, seu pai, seus amigos. - ela sorriu. - Eu não tinha nada disso, mas a vida foi tão boa comigo que me deu você e o seu pai em troca. 

- Eu te amo. - falei abraçando a mesma que riu boba. - Obrigada.

- Eu te amo muito, não se esqueça disso. - beijou a minha bochecha. - E sobre o menino, talvez não seja o momento de vocês dois, quem sabe daqui alguns anos, quando os dois estiverem realmente preparados. E ele com certeza gosta de você, porque é impossível te conhecer e não gostar.

- Obrigada por tudo. - a abracei forte. 

- E eu tenho algo pra te contar. - disse animada e eu a olhei curiosa. - Lembra de quando você fez aquela prova pra aquela escola em São Paulo que você tanto queria estudar? 

- Aquela perto da casa da titia Camila? - perguntei e ela assentiu. 

- Só pra dizer, você foi aceita. - disse animada e eu sorri. - Parabéns, meu orgulho. 

- Caramba, não acredito. - falei boquiaberta.

- Eu sempre acreditei. - disse me dando um beijo. - Se você quiser ir, vamos fazer a matrícula logo. 

- Eu quero pensar um pouco. - falei bobinha.

- Pensa bem, meu amor. - disse me dando um beijo na testa. - Noite das meninas hoje? Daqui a pouco apareço com brigadeiro aqui, te amo. 

- Te amo. - falei vendo ela sair do quarto e me joguei na cama. 

A ficha ainda não tinha caído, eu passei na escola que eu queria muito e era uma nova chance pra mim. Eu podia ir e recomeçar tudo, viver uma nova vida, por mais que fosse longe da minha família. 

Era um bom recomeço...

E eu queria muito recomeçar, queria muito novas oportunidades e novas experiências. 

Talvez não fosse ruim eu ir. 

Eu iria ter uma nova vida.

E por mais que eu não gostasse tanto de coisas novas, eu estava ansiosa pra mudar...

•••

Votem e comentem meus nenéns <3

A Alícia é o amor da minha vida e nada mais importa.

A praia do amor IIOnde histórias criam vida. Descubra agora