Julien despertou com batidas na porta.
Abriu os olhos preguiçosamente, o corpo ainda confortável demais na cama de lençóis macios e suaves. Totalmente o oposto do leito duro e esfarrapado no qual tivera que dormir ao longo da viagem de navio. E então deparou com a luz do Sol entrando timidamente pela fresta da cortina de veludo. Estranhou.
Não deveria ser noite?
As batidas voltaram a soar. Mesmo sonolento, alcançou a camisa jogada sobre o encosto da cadeira e abotoou o mais depressa que seus sentidos adormecidos lhe possibilitaram. Caminhou em direção a porta do quarto e encontrou uma criada.
— Oh, perdão, senhor Dufour. O acordei?
— Na verdade, sim. Mas não tem problema. — Bocejou de leve e se recompôs em seguida — Perdão a pergunta, mas.... Poderia me dizer que horas são?
— Já é de manhã, senhor.
— Como é? — indagou assustado — Como assim de manhã? Eu perdi o jantar?
— Não se preocupe, senhor. — a criada sorriu educadamente — O duque pediu que não incomodasse nem ao senhor e nem ao seu irmão. Ele percebeu como estavam exaustos da longa viagem e adiou as apresentações para o café da manhã de hoje.
— Oh, menos mal. — riu sem jeito — Pensei que já havia faltado com o respeito.
A criada balançou a cabeça negativamente. E logo perguntou:
— O senhor gostaria de um banho antes do dejejum?
— Por favor.
— Então, pedirei que encham a banheira. Levará apenas alguns minutos.
— Me avise quando estiver pronto, sim?
— Sim senhor.
A criada fez uma reverência e saiu apressada pelo corredor. Julien fechou a porta do quarto e suspirou aliviado. Sequer gostaria de imaginar o que aconteceria se tivesse faltado ao jantar em que seria apresentado a sua futura esposa e ao restante da família Bamborough. Seria realmente rude de sua parte, além de malvisto.
Não demorou muito para que alguém batesse em sua porta e avisasse que a banheira estava pronta e com água quente. Julien, segurando um robe, olhou para o final do corredor relembrando o que acontecera na tarde passada e então caminhou lentamente até o quarto de banho indicado, espantando-se com o tamanho ao entrar. Não havia conhecido quase nada do palácio em que se hospedara, mas sabia que luxo e riqueza era o que não faltaria, independentemente de onde fosse.
Encarou a banheira de mármore e começou a se despir. Em sua casa, permanecia o costume de os empregados instalarem as banheiras nos quartos antes de chegarem, ainda que seu pai, influenciado pelo novo costume crescente entre os aristocratas, também mandasse construir um quarto de banho tão requintado quanto.
Julien aproveitou o momento à sós para colocar os pensamentos no lugar. Estava finalmente na casa de sua futura esposa e a poucos instantes de conhece-la pessoalmente. Deveria ser um perfeito cavalheiro, tal como todos esperavam. Era inevitável não estar apreensivo de certa maneira. Pois, querendo ou não, o desenrolar de seu compromisso com lady Suzanne dependia de sua postura para com ela.
Ainda que fosse um casamento arranjado, ele realmente gostaria de manter uma convivência harmoniosa. Não somente pelo trabalho que herdaria, mas porque não queria que sua vida se transformasse num tormento. Afinal, amor era algo que dificilmente nasceria entre eles. Então, teria que se esforçar para isso, uma vez que sua indiferença em relação aquele acordo feito entre seu pai e o duque de Northumberland aumentava cada dia mais. Pois, no fundo, Julien tinha plena consciência de que apenas cumpria com o que lhe fora incumbido.
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O Mais Belo Vermelho
RomanceJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...