O Mais Belo Vermelho

Capítulo 27 - Entregando-se ao inevitável

Se em algum momento os irmãos Dufour verdadeiramente fizeram qualquer esforço para seguir com o plano de esquecer os gêmeos, suas expectativas caíram por terra com a chegada dos dois no casarão. A força que os atraía fez-se presente instantaneamente, provando que, independente do quanto tentassem, aqueles sentimentos jamais abandonariam seus corações.

Estavam enraizados em suas almas.

Tanto Christinie quanto Christian encontravam-se impecavelmente trajados, como das poucas vezes em que o fizeram. Ela com um vestido azulado e os ombros cobertos por um xale de caxemira quase da mesma cor, e ele com roupas típicas de cavalheiros no verão. Mas apesar de estarem caracterizados como a sociedade pedia, eles continuavam aparentando uma semelhança sobrenatural, exceto para Julien e Eloïs. Cada um era único aos seus olhares apaixonados.

Hugh ficou contente em receber os filhos e também o doutor Daryl. Ainda que se tratasse de uma circunstância repentina, era bom ter alguém da família por perto – mesmo que os Dufour tenham se mostrado ótimas companhias ao longo daquelas semanas na capital. Convidou-os para o desjejum que fora servido mais tarde naquele dia e todos se direcionaram a saleta.

Fazia alguns anos desde a última vez em que os gêmeos estiveram no casarão em Londres. Provavelmente desde o debute de Christinie, quatro anos antes. As fofocas se espalhavam muito rapidamente entre os nobres, então, não foi surpresa quando toda a cidade ficou sabendo das enfermidades que acometiam os caçulas do Duque de Northumberland. Bem como toda a história que envolvia a mãe deles. Não chegou a virar um escândalo, mas causou burburinhos.

Em particular no que se referia a Christinie.

Sendo uma moça muito bonita, de excelente família e um polposo dote, foram vários os rapazes que apareceram desejando cortejá-la. Porém, as mães com filhas em idade de casamento conseguiam ser bastante cruéis para arranjar um enlace proveitoso e não pouparam as línguas ferinas ao espalhar a real condição da jovem. Quem iria querer desposar alguém que sequer poderia gerar herdeiros ao marido? Uma mulher quebrada? Como resultado: todos se afastaram.

Por essa razão, os gêmeos não voltaram a pisar os pés na cidade. As pessoas eram impiedosas demais a fim de atingir seus interesses e nenhum deles estava disposto a lidar com a falsidade que rondava os bailes e eventos sociais, que só serviam em prol da conveniência de alguns.

Ao redor da mesa, todos mantinham uma conversa agradável enquanto comiam. Os gêmeos comentavam a maior parte do tempo sobre como as coisas andavam no ducado. No entanto, implicitamente, emergia uma tensão entre eles e os irmãos Dufour. Uma necessidade iminente.

Trocas de olhares aconteciam sorrateiramente sob a distração dos demais que ali estavam.

— Trabalhamos duro para terminar os registros, pois, tínhamos pressa de vir a Londres. — comentou Christinie, mirando Julien de esgueira do outro lado da mesa, que retribuiu inconscientemente — Foi uma boa safra, papai. Tivemos ótimos números.

— Espero vê-los assim que retornar a Northumberland. — respondeu Hugh; ele analisou um gêmeo e depois o outro, e indagou — A propósito, por que estão bronzeados desse jeito?

Christinie e Christian trocaram olhares, e então o rapaz respondeu:

— Nós ajudamos na colheita.

— Vocês o que? — retrucou, incrédulo.

A criada Mariana, que servia o suco, deteve o que fazia pela surpresa do que escutara. Olhou rapidamente de um gêmeo para o outro antes de retomar a tarefa. Nobres trabalhando no campo?

Aquilo era novidade.

— Queríamos estar a par do serviço. — justificou Christian — E que melhor forma do que essa?