Passou-se uma semana desde a chegada dos irmãos Dufour a casa da família Bamborough. Nesse meio tempo, Julien aproveitou para escrever uma carta endereçada ao seu pai para o inteirar dos acontecimentos após desembarcarem na Inglaterra.
Foi sucinto em suas palavras, visto que não havia muito o que contar e ele não pretendia compartilhar os sentimentos estranhos que vinham lhe corroendo, sendo que ele mesmo não entendia ao certo do que se tratava. Nem mesmo Eloïs, seu maior confidente, tinha algum conhecimento de suas atuais divagações.
O próprio Julien não tinha certeza de nada.
Sabendo que a carta demoraria algum tempo até ser entregue, escreveu também algumas palavras a sua querida mãe, dizendo para que não se preocupasse e salientando estar com saudades, especialmente de suas madeleines, aqueles bolinhos em formato de concha muito saborosos e que tanto gostava de comer no lanche da tarde mesmo depois de criança. E também enviar notícias de seu irmão, já que este não era muito dado a escrever cartas.
Apesar de concordar com o período de descanso que o duque sugerira, Julien passava a maior parte de seu tempo entediado, isso quando não estava em companhia de lady Suzanne para conversarem sobre os preparativos do baile de noivado ou caminharem pelos arredores da propriedade sempre com a presença de uma criada. Ao contrário do que esperava, estar desocupado com o trabalho não significava que estaria ocioso para as outras obrigações, principalmente as que envolviam seu casamento. Por essa razão, não tivera a oportunidade de explorar o tal bosque como planejara.
Além do quarto e os cômodos em que interagia com a família, ele no máximo visitava o jardim interno quando desejava perambular e refletir, ou durante o chá da tarde em companhia dos irmãos Bamborough e o duque. E era nesses momentos que aproveitava para observar os gêmeos – claramente um deles – que sempre pareciam estar aprontando alguma coisa, imersos num mundo em que ninguém poderia entrar.
Não sabia muito da rotina deles, ainda que não parasse de observar, mas havia percebido alguns detalhes. Pela manhã, bem cedo, eles costumavam acompanhar alguns dos criados até as plantações e então voltavam atrasados para o desjejum, que passara a acontecer do lado de fora como Hugh comentara da primeira vez.
Descobrira também que eles tinham completado dezoito anos há poucos meses. Fora uma surpresa saber de suas idades, pois, apesar de jovens, eles agiam de um modo infantil em suas brincadeiras e que não condizia com a fase de vida em que estavam.
O restante do dia, contudo, era um mistério. Às vezes, Christian e Christinie apareciam no almoço e outras não. Ninguém sabia ao certo onde se metiam. A família somente se reunia de novo na hora do chá. Hugh realmente parecia não dar importância para o comportamento de seus filhos caçulas e Julien sempre pegava-se remoendo sobre o que Suzanne lhe dissera: "Tudo o que precisa saber é que eles não são normais".
O que, em nome do que era mais sagrado, ela quis expressar com aquilo?
Aparentemente, desconsiderando a conduta excêntrica, não havia nada de anormal nos gêmeos. Julien chegou a cogitar a possibilidade de ser alguma perturbação mental, mas nenhum deles tinha algum trejeito de sofrer qualquer transtorno. Na verdade, eram mais lúcidos e sagazes do que muitas pessoas com quem já convivera. Sem contar que haviam demonstrado uma extraordinária e surpreendente habilidade para a música
Tudo bem que não entendia as motivações que levavam lady Christinie a vestir-se como o irmão a maior parte do tempo, mas não podia julgá-la, ainda mais quando a família aceitava – ou, tratando-se de alguns, fingiam aceitar. Admitia a si mesmo que ela ficava uma beleza sem igual trajando um vestido, como fizera na semana anterior. Porém, também reconhecia que era inusitadamente provocante vê-la com roupas masculinas e os cabelos ruivos presos de lado, como aqueles lordes de anos atrás.
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O Mais Belo Vermelho
RomanceJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...