Capítulo 31 - Confissões no armário

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A chegada dos Bamborough e seus íntimos, Julien e Eloïs, a casa do Marquês de Winterbourne foi tão opulenta quanto dos demais convidados. A carruagem com o brasão suntuoso e chamativo da família estacionou em frente aos portões de ferro, onde vários empregados estavam a postos para receber as ilustres figuras, e um deles veio auxiliá-los.

Ao contrário do que Richard, o anfitrião, dissera, o evento estava longe de ser apenas para os mais chegados. Pois, a julgar pela grande movimentação dentro e fora do casarão, todas as famílias endinheiradas que vieram para a temporada em Londres deveriam estar por ali.

Como sempre, o marquês não perdera a chance de preparar um evento de alto padrão.

Christinie ergueu a barra do vestido e aceitou a mão do irmão para descer da diligência. A ideia de irem vestidos um como o outro fracassara, pois, a criada designada para ajudá-la com as roupas não deixou o quarto até perto da hora de saírem, o que impossibilitou a troca. Os gêmeos, então, dependiam de uma brecha para conseguirem fazer a substituição ou acabariam tendo problemas. Afinal, embora soubessem tocar um pouco do instrumento que o outro dominava, não chegavam nem perto do que poderiam fazer estando cada qual em seu lugar.

Torciam para que as apresentações demorassem e assim tivessem tempo de encontrar um lugar discreto o suficiente em que pudessem mudar as roupas sem que nenhum convidado notasse.

Os homens estavam elegantemente trajados, como a etiqueta exigia, enquanto Christinie ofuscava as moças ao redor com sua beleza exótica e exaltada pelo formoso vestido de musseline branco que destacava a cor de seus cabelos presos em uma trança lateral. Vários olhares masculinos pairaram sobre ela no instante em que entraram no salão e Julien teve que reprimir o ciúme para não levantar suspeitas, especialmente em frente ao futuro sogro.

O rapaz fechou as mãos em punhos e respirou profundamente. Seu coração enciumado provocava-lhe pensamentos nada bondosos. Será que Deus o perdoaria se arrancasse os olhos daqueles abutres que cobiçavam tão descaradamente sua ruivinha? Oh, não. Claro que não.

Além de condenar ainda mais a própria alma, também assinaria sua passagem somente de ida para a prisão. Isso se não fosse para a forca. E eis um ponto em que não queria chegar.

Logo, ciente da circunstância em que se encontrava, até porque haviam rostos conhecidos de pessoas que compareceram ao baile de noivado em Northumberland, Julien somente ficou o mais próximo que pôde dela à medida que eram guiados pelo salão. Foram em direção ao anfitrião, que interrompeu a conversa que mantinha com um grupo de cavalheiros para cumprimentar o duque e seus familiares, além dos dois rapazes que já conhecia de outrora.

— Oh, vejam quem chegou. — disse Richard, estendendo a mão para saudar o amigo.

Fez o mesmo com os irmãos Dufour, dizendo em seguida para Eloïs que seu parceiro de dueto, Frederick, tinha chegado há algum tempo e circulava em companhia do pai pelo salão.

Ao finalmente virar para cumprimentar os gêmeos, o marquês espantou-se com a semelhança dos jovens e só foi capaz de diferenciá-los por causa das vestes. Apertou a mão de Christian e beijou educadamente o dorso da mão de Christinie, fazendo-lhe um elogio logo depois.

— É a primeira vez que vejo gêmeos tão parecidos. Poderiam facilmente trocar de lugar que ninguém perceberia. — comentou com humor na voz e deu risada — Eu não conseguiria, admito.

Os gêmeos também riram, porém, era um riso claramente nervoso.

Entreolharam-se sorrateiramente. Será que correriam algum risco caso o fizessem?

Bom, o próprio marquês disse que seria impossível alguém reconhecê-los. No pior dos cenários, poderiam levar a encenação em frente, já que ninguém pediria que comprovassem suas identidades. Não diante de tantas pessoas e sem recorrer a métodos... Digamos, indecentes.

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