Era estranho estar de volta depois de tanto tempo.
Mesmo sendo o lugar onde nasceu e morou boa parte da vida, Augustus sentia-se deslocado, como se não fizesse realmente parte daquilo. Como se fosse um estrangeiro em sua própria terra. E após longos oito anos, não ficaria surpreso em descobrir que de fato tornara-se isso.
Vivera em um país distante e afastado de toda a opulência que o sobrenome Bamborough significava. Na América, ele era apenas Augustus, um simples verdureiro. Ninguém conhecia seu passado, pois, decidira abdicar das regalias de ser um nobre para construir a própria vida.
Quem diria que, mais à frente, estaria novamente no ducado.
Ah, era uma grande ironia do destino, com certeza.
Parecia que nada mudara desde que foi embora. Uma ou outra mobília talvez, mas o restante estava exatamente como lembrava. Tinha a impressão de que regressara ao passado, contudo, os rostos amadurecidos dos irmãos e o semblante abatido do pai indicavam o contrário.
Ainda que tivesse aquela sensação, os anos impreterivelmente passaram, e tudo além do palácio que estacionara no tempo havia, sim, mudado. No entanto, os segredos e recordações permaneciam ali, incrustrados naquelas paredes. Escondidos no silêncio. Seria difícil se acostumar a viver de novo em um ambiente que lhe trazia tantas más recordações.
Não quando elas, tristemente, sobrepunham as boas.
Mesmo a contragosto por motivos óbvios, seu pai decidira nomeá-lo como próximo herdeiro do ducado de Northumberland, assim como seu irmão pedira. Joseph continuaria responsável pelos negócios na França, porém, já não ostentava mais o título de sucessor. Ele partiu dias após o duque comunicar sua decisão, pegando a todos de surpresa, especialmente quando a razão por trás de tal sentença foi revelada. Alegou que não podia deixar a esposa sozinha e que tinha muitas responsabilidades devido àquela transição, uma vez que se encarregaria dos tramites legais para que Augustus fosse reconhecido como o legítimo na linha de sucessão.
Mas era visível que não passava de uma desculpa para ir embora e se afastar daquele momento embaraçoso. Além da impossibilidade de gerar herdeiros, Joseph ainda teve de abrir mão daquilo que tanto se empenhou para exercer um dia. Augustus sentia-se profundamente entristecido pelo irmão mais velho, só que não era capaz de mudar as regras da sociedade.
Logo, não existia outra opção.
Talvez Joseph e a esposa adotassem uma criança para alegrar e completar a família, mas que não carregaria consigo a chance de eventualmente se tornar duque no futuro ou daria ao seu "pai" a possibilidade de permanecer como sucessor. Afinal, o sangue era um fator primordial, e os aristocráticos tradicionais baseavam-se no princípio da substituição hereditária.
Que, em outras palavras, era apenas uma maneira de manter a riqueza nas mãos "certas".
Apesar de ter sido nomeado como próximo duque e ter aceitado esse fardo, a relação com Hugh caminhava de mal a pior. Pouco se falavam, à não ser que fosse necessário, e Augustus continuava um tanto contrário a aproximação dos filhos com o avô. Florence certamente iria repreendê-lo por isso, já que sempre comentou que seria correto dar aos meninos a chance de conhecer a família Bamborough, para visitar seus tios e tias. E, bom, também o duque.
Ah, a saudade sempre apertava no peito ao lembrar dela. Sua amada Florence, que partira tão cedo, a fim de que o filho nascesse. E levara consigo uma parte de sua alma, largando-o miserável.
Era em momentos como aquele, que Augustus, brevemente, compadecia da história do pai. Afinal, estivera louco de amor, e sentira a dor excruciante de perder quem adorava para a morte.
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O Mais Belo Vermelho
RomansaJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...