Capítulo 50 - Entre o passado e o futuro

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Haviam pessoas demais no palácio àquela tarde. Na opinião de Queeny, todos evidentemente dispensáveis, em especial o escocês que chegara de surpresa como sempre. Tão deplorável.

Além dele, Daryl também estava presente e trouxe consigo convidados, Saymon e um tal alemão chamado Josef Mayer. Ambos igualmente médicos. E que vieram de Londres para examinar os gêmeos a pedido do colega, o que fizeram no decorrer das últimas horas.

Toda a comoção em torno dos bastardos acendia ainda mais sua ira. Porque dar-se ao trabalho de tentar consertar o que não havia conserto? Foram anos de esforço inútil e eles continuavam tão imperfeitos quanto sempre foram. Será que seu pai nunca enxergaria que se tratava de um castigo divino pelo que fizera com a própria família? Pelo infeliz destino para o qual empurrou a esposa depois de cair nos encantos daquela repulsiva empregada?

Não importava quantas vezes tentasse consertar seus erros, ele nunca seria capaz de fazê-lo. A ilegítima família que criara estava fadada a desaparecer, aos olhos de Deus e dos homens, como se em nenhum momento tivera existido. Era o preço a pagar por seus pecados.

Quanto aos gêmeos, contanto que se mantivessem no lugar e não cobiçassem mais do que deveriam, não haveriam problemas. Menosprezá-los era o bastante. O destino tratou de dar-lhes a devida punição. Ela não precisava se empenhar para tornar a vida deles insuportável.

Não mais do que já era.

Serem excluídos da sociedade e sem qualquer chance de ter um futuro normal satisfazia seu rancor. Afinal, independente do que ganhassem ou quão livres fossem, eles ainda viveriam a margem da sociedade. Reclusos em um mundo solitário e vazio. Sem nenhuma perspectiva.

Demonstrar que, ao contrário deles, poderia ter uma boa vida era a sua vingança.

Ela seria o orgulho de sua falecida mãe. Cumpriria com sua promessa secreta.

Mas existia alguém daquela corja de gingers sujos que, apesar do que fizera, escapava de seu controle. Aquele maldito homem, que bebericava o brandy enquanto conversava com os demais, e só aparecia para exaltar os ânimos e trazer à tona partes obscuras do passado, que somente ela e outra pessoa conheciam. A mesma pessoa que usara para afetá-lo.

O ressentimento era motivo suficiente para apelar ao que fosse necessário e o faria de novo sem pestanejar. Não importavam as consequências ou quem sofreria.

Nenhum deles seria feliz.

Nenhum dos detestáveis Cunningham.

Meia hora passou até que o duque retornasse dos campos com os irmãos Dufour. Devido à época de colheitas do outono, eles começaram a vistoriar o trabalho dos lavradores todas as manhãs, a fim de saber se tudo corria bem. Fora uma surpresa deparar com os médicos.

— Não imaginei que chegariam tão cedo. — comentou Hugh, olhando de um para o outro.

— Perdoe-me, senhor, mas a estadia deles em Northumberland será breve. — explicou Daryl — Acabei optando por vir sem um anúncio antes. Não temos muito tempo.

— Oh, não se preocupe. Fez certo. — tranquilizou-o e então estendeu a mão para os visitantes — Sou Hugh Bamborough, duque de Northumberland. Prazer em conhecê-los.

Uma vez que as apresentações terminaram, o duque pediu que todos se retirassem da sala, com intenção de conversar a sós com os médicos. Embora do conhecimento de todos, continuava sendo um assunto privado, e, como pai, ele precisava entender o que seria feito.

Juntos em um dos quartos, os gêmeos também falavam sobre a visita dos médicos, da qual foram informados poucos minutos antes de o pai e os Dufour regressarem dos campos.

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